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ALTA CONCENTRAÇÃO
Depois da compra da Agip pela Petrobras, grandes empresas controlam 95% da distribuição de botijões
4 grupos dominam venda de gás de cozinha
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Nunca o setor de distribuição de
combustíveis esteve tão concentrado no país como agora. Depois
da compra da Agip pela Petrobras
e mais dois negócios de menor
porte, as quatro maiores distribuidoras de gás de cozinha passaram a deter 95% do mercado.
O mesmo, embora numa proporção menor, ocorre no caso dos
combustíveis líquidos: a Petrobras, por meio de sua subsidiária
BR Distribuidora, elevou sua participação de mercado para 40%.
Para especialistas ouvidos pela
Folha, um dos problemas do alto
grau de concentração é que as
empresas podem lançar mão do
chamado "poder de monopólio",
aumentando margens de lucro e,
conseqüentemente, preços ao
consumidor.
Apesar de não terem subido na
refinaria, os preços do gás de cozinha aumentaram 6,10% nos postos de revenda no primeiro semestre de 2004, segundo dados
do IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo). O percentual é maior do que toda a alta
acumulada em 2003 -2,91%.
A própria SDE (Secretaria de
Defesa Econômica) reconhece
que o nível de concentração é alto
e que, por isso, o segmento requer
uma atenção especial dos órgãos
de defesa da concorrência.
"Esse é um setor que temos
acompanhado de perto. Já existem algumas investigações substanciais em curso tanto no setor
de distribuição quanto no de revenda de GLP", disse à Folha Daniel Goldberg, titular da SDE.
Já a ANP (Agência Nacional do
Petróleo) minimizou os reajustes
no preço do gás de cozinha detectados pelo IBGE no primeiro semestre deste ano.
A agência informou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que "o simples aumento
de preços não é suficiente para caracterizar indício de infração contra a ordem econômica". A agência argumenta que ocorreu aumento de tributação em alguns
Estados.
É atribuição da agência monitorar preços e informar indícios de
práticas abusivas ao Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência.
Fiscalização
Na avaliação de Adriano Pires,
da consultoria CBIE, o maior problema não é o grau de concentração, que tende a aumentar em todo o mundo, mas sim o fato de
que, na opinião dele, nem a ANP
nem os órgãos de defesa da competição estão preparados para
combater a "apropriação de renda de monopólio".
Para Pires, a compra da Agip
pela Petrobras obriga os órgãos a
aumentar a fiscalização, porque a
empresa será a única verticalizada
(do poço ao botijão) no setor de
gás de cozinha.
Sérgio Bandeira de Melo, superintendente do Sindigás (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás), afirma que em
outros países o nível de concentração é ainda mais elevado do
que no Brasil.
Bandeira de Melo cita o caso da
Índia, onde existem apenas cinco
empresas distribuidoras do produto. Na Argentina, porém, são
40. Afirma ainda que, no Brasil, a
forte competição na ponta -são
70 mil postos oficiais e o Sindigás
estima 200 mil irregulares- assegura preços equilibrados no setor.
No caso dos combustíveis líquidos, Alísio Vaz, diretor do Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes), diz que
há "muita concorrência", embora
as oito companhias ligadas à instituição detenham 79% do mercado. É que existem muitas distribuidoras regionais que competem com as grandes, diz.
Segundo a ANP, existem 230
distribuidoras de combustíveis
autorizadas a operar no país. No
caso do gás, são apenas 13 companhias atuando na distribuição.
Aquisições
Além da compra da Agip pela
Petrobras, mais dois negócios
movimentaram o setor de distribuição de gás de cozinha em 2003
e 2004.
No ano passado, o grupo Ultra,
dono da marca Ultragáz, adquiriu
a Shellgás e passou a liderar o segmento, com participação de
24,4%. A Shellgás tinha 4% do
mercado.
Já a holandesa SHV adquiriu no
mês passado os 51% que ainda
não lhe pertenciam na Supergasbrás, que era controlada pela família Lemos de Moraes. A SHV já
controlava a Minasgás. Juntas, as
duas possuem 23,8% do setor.
Goldberg afirmou que, no que
diz respeito às fusões, "não há
uma posição a priori", mas todos
os casos serão analisados pelos
órgãos de defesa da concorrência.
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