São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 2006

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Acionistas da Perdigão rejeitam oferta da Sadia

Fundos de pensão dizem que têm mais de 50% das ações e anunciam recusa

Justificativa é que valor oferecido é baixo, mas interlocutores vêem manobra para elevar oferta pelo controle da empresa

KAREN CAMACHO
DA FOLHA ONLINE

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Perdigão recusou formalmente ontem a oferta de compra feita pela Sadia. Os motivos da recusa foram o baixo valor oferecido -R$ 27,88 por ação- e o fato de a proposta não se enquadrar no estatuto da companhia. Mas, segundo a Folha apurou junto a interlocutores da Perdigão, as negociações entre as empresas devem continuar e têm grandes chances de sucesso -o anúncio da perdigão seria tática para elevar a oferta (leia texto ao lado).
A proposta da Sadia foi calculada com base no preço médio dos últimos 30 dias da Perdigão mais 35% de prêmio. Com base em relatórios de banco, os acionistas querem algo na faixa de R$ 35 por ação.
A decisão de recusar a proposta foi tomada ainda na segunda-feira pela Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, em reunião com os demais acionistas do bloco de controle -os fundos de pensão Sistel (telefonia), Fapes (BNDES), Real Grandeza (Furnas), Previ-Banerj (Banerj), Petros (Petrobras), Valia (Vale do Rio Doce) e a empresa Weg Participações, da qual a Previ é acionista.
Juntos, eles possuem 55,38% do capital da Perdigão. Os fundos de pensão investiram R$ 198,9 milhões na compra da Perdigão, há 11 anos. Desde lá, receberam R$ 236,6 milhões em dividendos.
"O estatuto prevê que quem tem 20% das ações ou mais é obrigado a fazer uma oferta aos acionistas que representam os demais 80%. A oferta pública feita pela Sadia baseou-se nesse artigo, mas a Sadia não tem nenhuma ação da Perdigão, portanto esse procedimento não se aplica à Sadia", afirmou ontem Nildemar Secches, presidente da Perdigão.
Ele acrescentou que as razões para a recusa da proposta se aplicam a qualquer empresa interessada em adquirir a Perdigão nessas condições. Questionado se há a possibilidade de a Sadia reclamar da decisão à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Secches disse que ela existe, mas que tal questionamento é inútil porque a maior parte dos acionistas já recusou a proposta.
No domingo, a Sadia anunciou que queria comprar a concorrente, em um negócio que poderia chegar a R$ 3,7 bilhões. Segundo a empresa, seu objetivo era criar uma "parceria histórica" entre as duas tradicionais companhias brasileiras do setor de proteína animal para "competir em igualdade de condições com concorrentes internacionais em setor considerado estratégico para o país".
A oferta, que vai até 24 de outubro deste ano, só será válida caso a Sadia consiga adquirir, no mínimo, 50% das ações da Perdigão mais uma.
Se criada, a nova empresa terá receita líquida superior a R$ 12 bilhões -dos quais 50% provenientes de exportações-, 81 mil empregados e 16 mil produtores rurais integrados.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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