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PAULO RABELLO DE CASTRO
Berzé e o Outro Mundo
Tal como no distante
passado, não existe paralelo
ao conservadorismo das
nossas atuais lideranças
O BRASIL está virando tema de
estudo no exterior. Comenta-se, cada vez mais, sobre a
dificuldade de certos países em exibir o ritmo de crescimento que lhes
seria "natural". Por que razão teria o
Brasil perdido o seu ritmo histórico
de crescimento, da ordem de quase
7% ao ano, até a década de 70 do século 20, caindo ao nível de 2,5%, na
última década?
Qual a taxa "natural" de crescimento do Brasil, a de 2%, como nos
anos recentes, ou 4% a 5%, como
prometem, para o futuro próximo,
os candidatos a presidente? A questão da falta de vigor da economia
brasileira passou a interessar também a pesquisadores acadêmicos,
como Dani Rodrik, da Universidade
Harvard, que investiga estratégias
vencedoras para o impulso de crescer ("Growth Strategies",
www.ksg.harvard.edu/rodrik).
Enquanto alguns países têm surpreendido para melhor -ou seja,
crescendo a um ritmo superior
àquele que seria sua taxa "natural"-, outros, entretanto, como o
Brasil, arrastam-se a taxas muito
inferiores à "esperada".
Óbvio que essa questão nos interessa a fundo, pois é em época de
eleições que sofremos a angústia
da má escolha, entre as várias opções de "mundo cor-de-rosa" que
os candidatos nos oferecem como
proposta. Quem sabe alguma dessas promessas nos conseguisse tirar do atoleiro que prende as rodas
do nosso crescimento? Mas qual
delas?
Dani Rodrik foi fundo na pesquisa das estratégias vencedoras. No
ambiente acadêmico e do mercado
financeiro, cobra-se muito, por
exemplo, a ausência de certas reformas estruturais para devolver o
crescimento acelerado a países como o Brasil. Ninguém duvida da
necessidade de o país levar a sério a
reforma da sua tributação e da Previdência Social e, ainda, da sua política de juros e dos seus programas
sociais perdulários. Contudo também sabemos, como mostram as
tabelas de crescimento histórico
de países do prof. Rodrik, que nenhum deles precisou aprovar primeiro todas as reformas econômicas possíveis, tampouco atingir o
estágio ideal de confiança nas instituições para impulsionar o crescimento a níveis extraordinários.
A resposta não estaria em qualquer das reformas em si, mas numa
certa disposição precedente aos
programas de governo, que ele-
vasse o grau de "sintonia" entre as
mensagens das lideranças políti-
cas e a percepção de rumo e de caminho, por parte da massa da população.
Essa mesma conjectura guarda
conexão histórica, a mim sugerida
por um artista plástico -dos bons
que temos-, o Berzé, enquanto ouvia sua ponderação sobre o possível vínculo do passado com o futuro, na pacata vila de "Bichinho",
nos arredores da histórica Tiradentes (MG). O "enigma de Berzé"
seria mais ou menos este: por que
prevaleceu a repressão do governo
daquela época sobre o movimento
libertário dos inconfidentes mineiros, quando a sociedade de então
(fim do século 18) tinha tudo a ganhar com a separação da tutela lusitana? Os norte-americanos, pouco antes, haviam conduzido um
embate vitorioso contra a tutela
britânica, liderado por um patrício
da elite: George Washington. Mas
nós, aqui, assistimos petrificados
ao esquartejamento de Tiradentes
pelo governo da Metrópole...
Tal como no distante passado,
não existe paralelo ao conservadorismo das nossas atuais lideranças.
Desapareceu até a suposta diferença entre um governo de direita ou
de esquerda no Brasil. A repressão
de outrora ainda seria a mesma de
agora, do mesmo DNA, debaixo do
subterfúgio do sufrágio democrático. Neste "outro mundo", o mundo
velho que adotamos no Brasil, os
valores estão subvertidos porque a
sociedade trabalha, sobretudo, para financiar a máquina do governo,
que, em seguida, redistribui suas
"bondades" às massas subjugadas
pelos impostos.
Nesse nosso "outro mundo",
questionado por Berzé, tão parecido com a opulência repressora das
Minas Gerais do século 18, o Brasil
libertário continua cedendo seu
impulso vital para a influência da
estagnação consentida.
PAULO RABELLO DE CASTRO , 57, doutor em economia
pela Universidade de Chicago (EUA), é vice-presidente do
Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora
de riscos. Preside também a RC Consultores, consultoria
econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da
Fecomercio SP. Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias,
nesta coluna.
@ - rabellodecastro uol.com.br
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