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LUÍS NASSIF
A velhinha e o terremoto na Paulista
Hoje em dia, as pessoas não
querem saber de terremotos,
das promessas de campanha.
É o ceticismo em marcha
EM TODOS os anos de eleições
presidenciais, a Universidade
Nacional de Brasília promove
o ciclo de debates "Fórum Brasil em
Questão", destinado a levantar propostas para os candidatos. Ontem,
participei de um deles, com fraca
adesão de alunos. Têm sido assim todos os seminários deste ano. Em
2002, cada seminário era assistido
por uma média de 2.000 alunos entusiasmados. Em 1994, o Fórum não
havia sido criado. Se existisse, também despertaria entusiasmo.
Foram dois anos riquíssimos, que
se prolongaram pelo ano seguinte.
Em 1995 e 2003, praticamente todos
os setores, pensadores e analistas tiraram suas propostas da gaveta, limparam o bolor e apresentaram ao público. Em 1995, havia um sopro de
racionalidade empurrando o novo
governo, uma massa crítica de novos
conceitos e propostas. O período terminou com a doença e a morte de
Sérgio Motta. O segundo governo
FHC, até pelo acúmulo de problemas e desgastes, foi de ouvidos moucos a qualquer proposta.
Quando Lula foi eleito, já despido
da fantasia de bicho-papão e disposto a ouvir, os trabalhos foram novamente desengavetados e começaram
a circular. Mês após mês se via, de fato, um governo disposto a ouvir, ouvir e... ouvir. Criou-se o CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), com suas reuniões
amplas, muitas figuras expressivas
foram atraídas para seus debates,
mas não havia nenhuma forma de
institucionalização capaz de transformar debates em propostas, propostas em ação. No fim, prevalecia o
padrão Malan-Palocci de gestão. Depois, com os sucessivos escândalos
atingindo o governo, Lula deixou de
representar esperança de mudança
ou inovação.
Na campanha, há, de um lado, o
candidato Lula tendo como bandeira
-pelo menos aquela percebida pela
opinião pública- a estabilidade, a
manutenção do status quo. Do outro,
o candidato Geraldo Alckmin, ainda
sem bandeira, mas personificando,
igualmente, a estabilidade das regras
de jogo. Não que manutenção de regras de jogo não seja relevante. Mas
decididamente é um antiprograma
de governo.
Com isso, todo o imenso acervo de
projetos, programas, diagnósticos
produzidos ao longo da última década continuam na gaveta. E as reuniões para discutir o futuro perdem
interesse porque, na campanha, haverá uma disputa entre quem será o
candidato mais estável e imobilista.
No fundo, parece que as pessoas
preferem o imobilismo a novas surpresas frustradas. Lembro bem, no
final do governo Figueiredo, um
boato de terremoto na avenida Paulista. A televisão foi entrevistar o povo e filmou uma senhora já bastante
idosa. Quando o repórter lhe informou que o terremoto havia sido
alarme falso, sua reação foi de profundo desapontamento. Nem me
lembro de suas palavras, mas era algo do tipo: "Mas não acontece nada
de novo neste país".
Hoje em dia, as pessoas não querem saber de terremotos, do falso
novo, das promessas de campanha.
É o ceticismo em marcha. A partir
de 1º de janeiro, é possível que voltem as esperanças, com a opinião
pública começando a contagem regressiva para 2009 ou, quem sabe,
ao menos torcendo por um terremoto na avenida Paulista.
Blog: www.luisnassif.com.br
@ - Luisnassif@uol.com.br
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