São Paulo, Segunda-feira, 19 de Julho de 1999
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DESEMPENHO
Pesquisa feita pelo Bic Banco com 220 empresas revela queda nas vendas e aumento dos estoques
Semestre frustra indústria e varejo

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

A indústria e o comércio fecharam o primeiro semestre do ano com a sensação de frustração nos negócios, segundo pesquisa do Bic Banco com 220 empresas.
As vendas caíram e as exportações não foram tão bem quanto o previsto para o segundo trimestre. Resultado: os estoques ficaram acima do desejado.
Esperava-se que, em abril, maio e junho, as vendas seriam retomadas, assim como as exportações. O desemprego, previam, iria parar de crescer ou diminuir.
A idéia era que o pessimismo gerado na economia logo após a desvalorização do real havia sido exagerado. O segundo trimestre mostraria que as previsões negativas não seriam tão ruins assim.
E não foram, mas tampouco foram boas a ponto de provocar comemoração. Boa parte das empresas faturou menos do que em igual período de 98 e exportou menos do que previa.
Para 33,3% das empresas consultadas pelo banco, o faturamento nominal ficou abaixo ou bem abaixo do previsto no segundo trimestre deste ano em relação a igual período do ano passado. Para 42,5% delas, o faturamento ficou igual e, para 24,7%, acima ou bem acima do programado.
Pelos cálculos do Bic Banco, a queda real do faturamento das empresas ouvidas foi de 4,46%, em média, no segundo trimestre deste ano em relação a igual período de 98. No primeiro trimestre, apesar da paralisação da economia por conta da alta do dólar, a queda foi de 3,95% em relação a igual período do ano anterior.
"Houve uma surpresa ruim para uma boa parcela das empresas. Imaginava-se que o segundo trimestre seria marcado pela recuperação, mas as respostas mostram que os negócios frustraram", diz Paulo Mallmann, diretor do Bic Banco.
O desemprego elevado, a queda real dos salários e a alta inadimplência, segundo as empresas, desestimulam o consumo e, consequentemente, o ritmo de atividade das fábricas diminui.
Pelo levantamento do banco, 34,7% das empresas consultadas terminaram o segundo trimestre do ano com estoques acima ou bem acima do previsto; 53%, com estoques iguais, e 12%, com estoques abaixo ou bem abaixo.
Os setores que fecharam o trimestre com estoques mais elevadores, informa o banco, foram os de bens de capital, bens de consumo duráveis e comércio. Na análise de Mallmann, os juros altos resultaram em queda no consumo e recuo dos investimentos.
Esse acúmulo de estoques indesejados, especialmente nas lojas, pode desencadear uma diminuição nos pedidos à indústria daqui para a frente e, assim, um segundo semestre também mais fraco do que o esperado.
"A recuperação da indústria vai demorar um pouco mais para ocorrer", afirma. Pelo levantamento, 25,7% das empresas reviram para baixo a programação de compras de insumos e componentes para este trimestre; 61, 5% não alteraram e só 12,8% reviram para cima as compras.
Segundo o banco, com exceção do setor de bens de consumo não-duráveis, todos os outros estão reprogramando para menos as compras de matérias-primas para este trimestre. Os que mais reduziram são bens de capital e agropecuário.
Pelos cálculos do banco, as empresas pesquisadas prevêem para este ano faturamento real 2,6% menor, em média, do que em igual período de 98. Os setores mais otimistas são bens de consumo não-duráveis, comércio atacadista e bens de consumo intermediários. Os mais pessimistas são bens de capital e bens de consumo duráveis.
As demissões vão continuar. Pelo menos 27,7% delas informaram que pretendem diminuir o quadro de pessoal em relação a 98; 17,7% vão aumentar e 54,5% vão manter.
Pelo levantamento do banco, os setores que devem desempregar são agropecuário, bens de capital e bens intermediários. Os que devem contratar são bens de consumo não-duráveis e comércio atacadista. Para Mallmann, o fato de um grupo de empresas desempregar e outro empregar pode até resultar na estabilização da taxa de desemprego neste ano.
As exportações vão deslanchar até o final do ano, segundo a pesquisa. Das empresas que exportam -130-, 79,2% informaram que vão aumentar as vendas externas em 99, mas 20,8% disseram que vão diminuir. Nos cálculos do banco, a estimativa é de um aumento real de 6,2%, em média, nas exportações.
Das empresas consultadas, 26,1% informaram que já estão revendo para mais o crescimento das exportações; 57,1% mantiveram as projeções e 16,8% reviram para baixo as estimativas.


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