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ANÁLISE
Investidores fogem dos mercados emergentes
JONATHAN FUERBRINGER
DO "NEW YORK TIMES"
Philip ehrmann , do Gartmore Investment Management, de Londres, continua a
acreditar nos mercados emergentes. Como diretor da unidade de
mercados emergentes e administrador de uma carteira de cerca de
US$ 1 bilhão, ele vem tentando
convencer os investidores a voltar
a investir nesses mercados voláteis. "Os próximos dois ou três
anos serão um bom momento para entrar neles", diz.
Não há muita gente aceitando
seu conselho. "Muito difícil", é
como ele descreve seu trabalho de
vender os mercados emergentes,
depois de recente viagem aos Estados Unidos. "As coisas estão
bem escuras lá fora."
Negras, para dizer a verdade.
Mesmo com grandes altas esporádicas, o índice de ações de mercados emergentes registra queda
de 44,3% em relação ao pico de
1993, em termos de dólares, e uma
queda de 29% nos últimos 12 meses. A década passada está repleta
de crises que reduziram ou eliminaram os ganhos de anos anteriores, como o colapso financeiro
asiático em 1997, a desvalorização
do rublo pela Rússia em 1998, a
desvalorização do real pelo Brasil
em 1999, a crise turca deste ano e a
luta da Argentina por evitar a moratória sobre sua dívida e a desvalorização de sua moeda.
Com suas esperanças destruídas, os grandes e pequenos investidores uma vez mais estão procurando a porta de saída, e dessa vez
pode ser que demorem a encontrar. A perda líquida de investimentos neste ano é de US$ 1,3 bilhão até agora, ou 6,6% dos ativos
dos fundos mútuos de ações dedicados aos mercados emergentes,
de acordo com a AMG Data Services. No ano passado, US$ 1,9 bilhão saiu desses fundos, o terceiro
ano consecutivo de declínio nos
investimentos.
Mas a fuga dos investidores fez
mais do que simplesmente levar o
dinheiro de volta para casa. Ela está mudando a natureza dos mercados emergentes como local de
investimento e, além disso, mudando a forma pela qual Wall
Street aborda esses mercados.
Isso significa que, mesmo que
os investidores ocidentais continuem a impor regras às políticas
fiscais e monetárias de muitos
países em desenvolvimento, estão
dirigindo menos dinheiro a diversos deles e se concentrando em
um punhado de favoritos, como o
Brasil.
"Os mercados emergentes são
uma pálida sombra do que foram
no passado", diz Arturo C. Porzecanski, economista-chefe para
mercados emergentes do ABN-Amro Securities. "Era um mercado quente, as pessoas queriam
trabalhar nessa área. Não é mais
assim."
Até mesmo alguns dos especialistas do setor sugerem agora que
talvez seja melhor que os investidores individuais se mantenham
distantes.
"É um mercado de operações, e
não um mercado para comprar títulos e mantê-los", diz Geoffery
Dennis, estrategista de ações latino-americanas do banco de investimentos Salomon Smith Barney. "Trata-se de mercados muito
mais interessantes para investidores de curto prazo do que de longo
prazo."
Fim do prestígio
No passado vistos como uma
classe separada de ativos, onde investidores eram encorajados a estacionar dinheiro para diversificar suas carteiras, esses mercados
agora se tornaram muito mais
fragmentados. Deixou de ser considerado essencial ter alguma presença em mercados emergentes
que prometam recompensas potencialmente grandes para as pessoas dispostas a encarar os riscos.
De fato, alguns países simplesmente saíram das telas de radar
dos investidores.
"Os dias em que um investidor
de varejo dizia que realmente
queria investir em um fundo que
o expusesse à Turquia fazem parte do passado", diz Adrian Faure,
diretor do recentemente reorganizado grupo mundial de pesquisa sobre mercados emergentes do
banco de investimentos Merrill
Lynch.
Fuga dos pequenos
Embora o volume de operações
com ações e bônus desses países
não seja uma medida perfeita do
interesse dos investidores, ele despencou em países como Chile, Filipinas e Venezuela. "O investimento em pequenos países é difícil de justificar", diz Miguel Gutierrez, diretor de mercados
emergentes do banco de investimentos JP Morgan.
Mesmo na Argentina, cujo mercado de bônus esteve ativo, se
bem que em queda, neste ano o
volume de transações com bônus
é de cerca de um terço do atingido
no pico da crise financeira iniciada no Sudeste Asiático e que se espalhou a todos os países em desenvolvimento em 98. O valor das
ações negociadas em 2000 na Argentina foi de cerca de 10% do total de 1997 e não supera em muito
o resultado de 1991.
O número de novas emissões de
ações em países em desenvolvimento também caiu acentuadamente. O valor em dólar dessas
novas emissões caiu em mais de
70% até agora neste ano.
Parte da queda se deve ao fato
de que muitos fundos de hedge e
especuladores que costumavam
operar nesses mercados se foram,
deixando os investidores locais
como base. "O apetite pelo risco
nos mercados internacionais está
mudando", diz Richie Prager, diretor de mercados emergentes no
Bank of America.
Tradução de Paulo Migliacci
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