São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SISTEMA FINANCEIRO

Instituições só lucraram mais em 99, período da desvalorização; juros influenciam desempenho

Semestre foi o 2º melhor do Real para bancos

ESTELA CAPARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O primeiro semestre deste ano foi o segundo momento mais rentável para os bancos no Plano Real. Analisando o mesmo período dos anos anteriores, o desempenho só foi inferior ao apresentado no primeiro semestre de 1999, um momento atípico em razão da desvalorização cambial no Brasil.
Um estudo feito pela consultoria ABM Consulting com 20 balanços divulgados até a semana passada mostra que o retorno médio no primeiro semestre foi de 22,8%. O percentual só é menor aos 23,3% do mesmo período de 1999. A média histórica do setor é de cerca de 15%.
"Os juros altos permitiram que os bancos tivessem os melhores desempenhos da sua história no Plano Real", diz Alberto Borges Matias, especialista em bancos e sócio da ABM Consulting. A análise foi feita a partir de junho de 1995, o primeiro ano que reflete os efeitos do plano de estabilidade. A amostra representa 40% do total de ativos do sistema e inclui os três grandes bancos brasileiros: Bradesco, Itaú e Unibanco.
"Os bancos tiveram uma boa rentabilidade, assim como outros setores da economia. Os lucros não são tão extraordinários se levarmos em consideração o tamanho dos instituições analisadas", diz Roberto Troster, economista-chefe da Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban).
O desempenho dos bancos é, novamente, reflexo da elevação da turbulência no mercado de câmbio e da consequente elevação dos juros. Juntos, os bancos analisados conseguiram a segunda maior receita da era do real, de R$ 39,7 bilhões. É um valor 58,4% maior que o apresentado em junho de 1995, um ano após a implantação do real.
Ao longo dos últimos seis anos, os juros provocaram uma mudança na composição dessa receita. Nesse período, as operações com crédito cederam espaço para os investimentos em títulos do governo. Do primeiro semestre de 1995 até o último semestre, a participação das receitas com operações de crédito na receita total caiu de 69,2% para 43,8%. Enquanto isso, a fatia da renda com títulos públicos saiu dos 21,4% para 33,8%.
Mesmo com a migração, o crédito ainda é a principal fonte de renda dos bancos. Do total da receita, essas operações totalizaram R$ 17,4 bilhões, 54% a mais que no anterior.
Mesmo assim, os bancos ainda emprestam pouco. A relação entre crédito e o Produto Interno Bruto (PIB), o conjunto de riquezas geradas pelo país, é de 30% no caso do Brasil. Nos Estados Unidos e na França, esses percentuais são de 82% e 146%, respectivamente.
A segunda fonte de receita dos bancos foi o governo. A carteira total de títulos e valores mobiliários, composta basicamente por títulos federais, foi a maior da história do real, de R$ 126,8 bilhões. O valor é quatro vezes maior que em 1995 e 21% superior à do ano anterior. A receita com esses foi de R$ 13,4 bilhões.
Outra grande fonte de renda dos bancos no último semestre foram as tarifas. As instituições tiveram a maior receita com prestação de serviços nos últimos setes anos, de R$ 6,9 bilhões, ou 17,3% do total das receitas. Esses serviços vêm ganhando força no negócio bancário brasileiro. A participação das tarifas na receita total dos bancos saiu dos 8,4% em junho de 1995 para os 17,3% em junho deste ano.



Texto Anterior: Análise: Investidores fogem dos mercados emergentes
Próximo Texto: Sindicato quer reduzir jornada
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.