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TURBULÊNCIA
Intenção é abater parte da dívida de US$ 1,25 bi; companhia aérea registrou prejuízo recorde no primeiro semestre
Varig põe parte da empresa à venda
RICARDO GRINBAUM
DA REPORTAGEM LOCAL
A Varig negocia a venda de um
pedaço da empresa para fazer caixa e abater parte de sua dívida, de
US$ 1,25 bilhão. Na semana passada, a companhia anunciou que
teve prejuízo recorde no primeiro
semestre -R$ 509 milhões. Agora, a empresa busca sócios.
"Precisamos recompor o capital
da empresa", diz Ozires Silva, 70,
presidente da Varig. "Já temos
conversas em curso, com a velocidade possível."
Além de negociar com investidores, a Varig quer inverter sua
delicada situação financeira com
duas outras iniciativas. Uma delas
é buscar no governo ajuda de
emergência e mudanças na regulamentação do setor, que começarão a ser discutidas nesta semana.
Outra medida é o desenvolvimento de duas empresas, de logística e de manutenção, atividades tradicionais da companhia. A
Varig pretende vender pedaços
das empresas e usar o dinheiro
para abater dívidas.
Criador da Embraer, Ozires Silva conta que enfrentou problemas ainda mais difíceis para manter de pé a fabricante de aviões.
"Às vezes me pergunto por que
estou sofrendo tudo isso de novo.
Não sei se posso ter duas vitórias
na vida, mas acredito que dá para
repetir a história", diz Silva na seguinte entrevista à Folha:
Folha - Os resultados da Varig
pioraram com a desvalorização. A
empresa corre risco de quebrar?
Ozires Silva - Não, mas a empresa enfrenta as consequências de
problemas que se acumularam ao
longo de muitos anos. Nos seus 75
anos de história, a Varig enfrentou os mais variados tropeços dos
mercados nacional e internacional. Além disso, no Brasil ainda
não sopraram os ventos da desregulamentação do transporte aéreo, como já aconteceu em outros
países há bastante tempo.
Não é que a Varig não erre. Mas
a empresa enfrenta problemas
conjunturais que afetam também
outras companhias. A Transbrasil
e a Vasp enfrentam dificuldades
grandes. Muita gente fala da
TAM, mas ela apresentou prejuízo de R$ 100 milhões no primeiro
trimestre. A TAM não divulgou os
resultados do segundo trimestre.
Não desejo insucesso, obviamente, mas pode ser que eles voltem a
ter prejuízo no segundo trimestre.
O que demonstra que vivemos
um quadro de emergência.
Folha - O que precisa ser feito?
Silva - O transporte aéreo precisa entrar no diapasão do mercado
internacional. Tem que haver
convergência da legislação doméstica com a externa, para garantir igualdade de condições para competição. A tributação nos
EUA sobre as companhias aéreas
é igual a um quarto da brasileira.
Enquanto o combustível deles
não é tributado, o nosso tem 33%
de imposto. As coisas ainda estão
se agravando com essa desvalorização de 30% do real.
Folha - Tem gente no governo falando em intervenção nas companhias aéreas. O que o sr. acha?
Silva - Intervenção seria caminhar para trás. O que é preciso é
verificar as condições em que as
companhias estão operando,
abrir o diálogo com o governo e
estabelecer condições competitivas. Empresas como a Varig e a
TAM, por exemplo, têm índices
técnicos de padrão internacional.
O desempenho operacional é reconhecido internacionalmente.
Temos um patrimônio técnico
de empregos, de talento, de gente
especializada, que não deixa a desejar ao das companhias estrangeiras. Não justifica, portanto,
que a gente entregue a rapadura.
Dizer simplesmente que as empresas são mal administradas é
uma resposta simplista e errada.
Folha - O governo deve fazer um
programa de ajuda às empresas?
Silva - Não sei se devemos chamar esse negócio de ajuda do governo. Mas deveria ter um programa de emergência para estabelecer condições de competitividade para o sistema aéreo. Temos
que competir com empresas que
vêm ao Brasil e não pagam imposto lá fora. Outra questão é desregulamentar o mercado. Lá, as
companhias podem voar para onde quiserem e aqui dependemos
de autorização das autoridades.
Folha - Que medidas o governo
poderia tomar neste momento?
Silva - Os jornais dizem que o
governo vai nos convocar para
uma reunião. Estou me preparando para levar todos os pontos e
eles vão dizer o que pode ser feito
e o que não pode ser feito. A regra
básica é que seria necessário ter a
nossa legislação doméstica convergindo, de forma tão equilibrada quanto possível, com a internacional. Devemos discutir também medidas de emergência para
fazer frente às dificuldades do
momento, mas prefiro não adiantar o que será debatido.
Folha - Como estão as conversas
para a fusão da Varig e da TAM nas
operações internacionais?
Silva - As conversas ainda estão
muito em torno do cafezinho. Temos conversado. Conversava
muito com o Rolim a esse respeito, dizendo que o mercado internacional não é brincadeira. Não
sei quais são os resultados da
TAM no mercado internacional,
mas creio que não estão no azul.
Um dos problemas do mercado
internacional é a necessidade de
ter grande volume. Nosso volume
é pequeno, embora o faturamento internacional da Varig seja
pouco maior do que o doméstico,
o que já nos dá uma dimensão internacional importante. Se pegarmos esse pequeno tráfego internacional e dividir por duas, três,
quatro, cinco empresas, é a divisão da escassez. De modo que um
papo de uma única empresa no
mercado internacional foi o que a
grande maioria dos países europeus fez. Isso mostra que, no mercado internacional, é preciso ter
no máximo uma companhia.
Folha - Qual a estratégia da Varig
para não sofrer problemas como os
da Transbrasil?
Silva - Uma das estratégias é fazer parcerias. Estamos preparados para aceitar a participação de
capitais externos, domésticos ou
internacionais, no limite que a lei
permitir. No caso do capital estrangeiro, o limite legal é de 20%.
No fundo, o que precisamos agora são práticas competitivas, que
estão sendo conversadas com o
governo, e recomposição do capital da companhia. Já temos conversas em curso, com a velocidade possível, mas não posso adiantar porque assinamos memorando de confidencialidade.
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