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GRADUALISMO DO BC/A FAVOR
Aperto tem que continuar, diz ex-diretor do FMI
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Para retomar um processo de
crescimento sustentável, o Brasil
deveria perseverar a política econômica atual por pelo menos
mais um ano, ao longo do qual reduziria gradativamente os juros.
Segundo Michael Mussa, diretor do Departamento de Pesquisas do FMI (Fundo Monetário Internacional) entre 1991 e 2001, o
país deveria manter um superávit
primário superior a 5% nos próximos 12 meses "para mostrar que
pretende controlar de forma consistente a dívida pública".
"Há um longa história de altos e
baixos no Brasil, e um afrouxamento agora passaria um sinal
muito pouco positivo", diz. "Para
aguentar socialmente essa política, o país deveria aprofundar programas sociais mais focalizados."
Mussa afirma que, mesmo com
uma política fiscal apertada, o
Brasil deve voltar a crescer neste
semestre. Leia trechos da entrevista de Mussa à Folha:
Folha - Como o sr. analisa o atual
momento da economia brasileira?
O Banco Central não está demorando demais para baixar os juros?
Michael Mussa - A área econômica do governo Lula vem tendo resultados razoavelmente positivos
neste ano. O Brasil vem obtendo
um superávit primário acima da
meta, os "spreads" cobrados do
país internacionalmente caíram
substancialmente e o BC acaba de
iniciar o processo de redução dos
juros. O ritmo está um pouco lento pelo fato de a inflação ter ficado
em patamares muito elevados no
início do ano. A consequência
disso é que o crescimento da economia tem desapontado, mas
creio que uma nova fase de recuperação deva começar ainda neste
ano e firmar-se em 2004.
Há um longa história de altos e
baixos no Brasil, e um afrouxamento agora passaria um sinal
pouco positivo. O importante
dessa vez é não forçar uma redução maior dos juros e manter a
política fiscal apertada. A inflação
mostrou uma força muito grande,
pressionada pelo câmbio, mas
agora parece que esta vindo abaixo. No final do ano, provavelmente a taxa de juros já estará abaixo
de 20% ou até em 15% ao ano.
Folha - O Brasil não está exagerando, por exemplo, ao fazer um
superávit primário maior do que os
4,25% do PIB acertados com o FMI?
Mussa - Um superávit primário
acima de 5% é ainda desejável por
mais um tempo, tendo em vista o
tamanho do estoque da dívida
brasileira. Embora o tamanho da
dívida externa em relação ao PIB
tenha diminuído pelo efeito do
câmbio, a interna vem sendo
pressionada pelos altos juros.
Com mais um ano, sem uma crise
que leve o câmbio a um patamar
muito diferente do atual, muito
provavelmente o custo real da dívida pública brasileira terá um declínio importante, abrindo espaço
para juros bem menores e uma
redução do superávit primário. É
importante que o governo passe a
percepção a todos os investidores
e ao mercado de que o Brasil está
trilhando um caminho de longo
prazo para conter a sua dívida pública. Aí está a chave para baixar
os juros de maneira consistente.
Folha - Como o país aguenta socialmente, com o desemprego no
patamar atual e com as demandas
de vários grupos?
Mussa - Creio que ainda exista
um problema de falta de foco no
Brasil. Quando falamos dos pobres brasileiros, nos referimos
muitas vezes a pessoas que ganham menos que US$ 500 (R$
1.500,00) por ano. O Brasil precisa
de políticas mais efetivas para
identificar essas pessoas e transferir um pouco mais de renda.
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