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GRADUALISMO DO BC/CONTRA
Para Scheinkman, BC tem de mostrar agilidade
DA REPORTAGEM LOCAL
Os argumentos do Banco Central não convencem o economista
José Alexandre Scheinkman. O
professor da Universidade Princenton (EUA), mas que fez carreira na ultraliberal Universidade de
Chicago, discorda da prerrogativa
do BC de que a redução dos juros
deve ser gradativa.
"A política monetária do BC foi
muito eficiente. Demonstrou coragem ao elevar a taxa de juros rapidamente, e tivemos uma queda
da inflação rápida. O que gostaria
é que o BC mostrasse a mesma
agilidade e ambição na baixa dos
juros", disse Scheinkman, em entrevista à Folha, na sexta-feira, em
São Paulo.
(JOSÉ ALAN DIAS)
Folha - O economista Pérsio Arida, um dos formuladores do Real,
disse que um dos grandes problemas do Brasil é que, para manter a
inflação sob controle, o país precisa conviver com a taxa de juros
reais elevada. E que o grande desafio dos economistas é conseguir
apresentar soluções para esse problema...
José Alexandre Scheinkman -
Tem muita coisa que os economistas não entendem, mas há coisas que os economistas entendem
bem, que são as razões para a nossa taxa de juros excessiva. Somos
um país em que o nível de poupança agregada é baixo e a disponibilidade da poupança externa
para vir para o Brasil é limitada.
Além disso, o governo é um
grande demandador dessa poupança. Então, o que sobra para o
setor privado é muito pouco, e
não há milagre, a não ser conviver
com taxa de real de juros alta. O
Brasil tem problemas no que eu
chamo da intermediação entre a
poupança e o investimento.
Folha - Como resolver a equação?
Parece senso comum, pelo menos
no mercado, que a aprovação de reformas, da Lei de Falências...
Scheinkman - O que falta é termos um clima melhor tanto para
poupança como para investimento. O que quero dizer com isso?
Precisamos ter uma modificação
sobre o crédito, dando mais direitos aos credores, o que passa pela
aprovação da Lei de Falências, e
que o governo pare de contribuir
negativamente para a poupança.
Precisamos de mudança no nosso
marco institucional. Hoje em dia
o investidor, o poupador encontra um emaranhado jurídico que
faz com que demande uma taxa
de retorno mais elevada.
Folha - O senhor é favorável a essa tendência do BC de baixar a taxa
de juros de forma gradual?
Scheinkman - O país começou o
ano com uma taxa de inflação rodando em torno de 30% ao ano. A
política monetária do BC foi muito eficiente. Demonstrou coragem ao elevar a taxa de juros rapidamente, e tivemos uma queda da
inflação rápida. O que gostaria é
que o BC mostrasse a mesma agilidade e ambição na baixa dos juros.
Folha - Mas o BC diz que não age
por conservadorismo. Alega que
existe uma ""assimetria entre a velocidade do choque e o ritmo de reversão da política monetária à posição de equilíbrio..."
Scheinkman - Não vejo muita
evidência para essa assimetria.
Quer dizer, estou falando do ponto de vista de um acadêmico que
estudou o assunto. O BC fez exatamente o que precisava fazer no
primeiro semestre. Não hesitou
em usar a política monetária para
combater a inflação e, diga-se de
passagem, muita gente duvidava
da sua eficácia. Não vou dizer que
ele tem de baixar tanto nesta semana. O BC tem informações que
não tenho. Então, não adianta ficar dizendo para o BC o que fazer.
Agora, acho que o BC deve procurar baixar a taxa real de juros.
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