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São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2003

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GRADUALISMO DO BC/CONTRA

Para Scheinkman, BC tem de mostrar agilidade

DA REPORTAGEM LOCAL

Os argumentos do Banco Central não convencem o economista José Alexandre Scheinkman. O professor da Universidade Princenton (EUA), mas que fez carreira na ultraliberal Universidade de Chicago, discorda da prerrogativa do BC de que a redução dos juros deve ser gradativa.
"A política monetária do BC foi muito eficiente. Demonstrou coragem ao elevar a taxa de juros rapidamente, e tivemos uma queda da inflação rápida. O que gostaria é que o BC mostrasse a mesma agilidade e ambição na baixa dos juros", disse Scheinkman, em entrevista à Folha, na sexta-feira, em São Paulo. (JOSÉ ALAN DIAS)
 

Folha - O economista Pérsio Arida, um dos formuladores do Real, disse que um dos grandes problemas do Brasil é que, para manter a inflação sob controle, o país precisa conviver com a taxa de juros reais elevada. E que o grande desafio dos economistas é conseguir apresentar soluções para esse problema...
José Alexandre Scheinkman -
Tem muita coisa que os economistas não entendem, mas há coisas que os economistas entendem bem, que são as razões para a nossa taxa de juros excessiva. Somos um país em que o nível de poupança agregada é baixo e a disponibilidade da poupança externa para vir para o Brasil é limitada.
Além disso, o governo é um grande demandador dessa poupança. Então, o que sobra para o setor privado é muito pouco, e não há milagre, a não ser conviver com taxa de real de juros alta. O Brasil tem problemas no que eu chamo da intermediação entre a poupança e o investimento.

Folha - Como resolver a equação? Parece senso comum, pelo menos no mercado, que a aprovação de reformas, da Lei de Falências...
Scheinkman -
O que falta é termos um clima melhor tanto para poupança como para investimento. O que quero dizer com isso? Precisamos ter uma modificação sobre o crédito, dando mais direitos aos credores, o que passa pela aprovação da Lei de Falências, e que o governo pare de contribuir negativamente para a poupança. Precisamos de mudança no nosso marco institucional. Hoje em dia o investidor, o poupador encontra um emaranhado jurídico que faz com que demande uma taxa de retorno mais elevada.

Folha - O senhor é favorável a essa tendência do BC de baixar a taxa de juros de forma gradual?
Scheinkman -
O país começou o ano com uma taxa de inflação rodando em torno de 30% ao ano. A política monetária do BC foi muito eficiente. Demonstrou coragem ao elevar a taxa de juros rapidamente, e tivemos uma queda da inflação rápida. O que gostaria é que o BC mostrasse a mesma agilidade e ambição na baixa dos juros.

Folha - Mas o BC diz que não age por conservadorismo. Alega que existe uma ""assimetria entre a velocidade do choque e o ritmo de reversão da política monetária à posição de equilíbrio..."
Scheinkman -
Não vejo muita evidência para essa assimetria. Quer dizer, estou falando do ponto de vista de um acadêmico que estudou o assunto. O BC fez exatamente o que precisava fazer no primeiro semestre. Não hesitou em usar a política monetária para combater a inflação e, diga-se de passagem, muita gente duvidava da sua eficácia. Não vou dizer que ele tem de baixar tanto nesta semana. O BC tem informações que não tenho. Então, não adianta ficar dizendo para o BC o que fazer. Agora, acho que o BC deve procurar baixar a taxa real de juros.


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