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São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2003

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GRÃOS

Taxa de câmbio favorável e alta em Chicago animam produtores; venda externa dará sustentação aos preços no país

Exportação de milho sustenta preço interno

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O produtor de milho, quando optou pelo produto no final de 2002, se preparou para mais um ano de bons preços. As previsões iniciais indicavam safra apertada de 38 milhões de toneladas e um produto sobrevalorizado.
A boa safrinha -plantio de milho no período de inverno-, no entanto, confirmou um cenário bem diferente, e o país deverá produzir uma safra recorde de 44 milhões de toneladas. Algumas previsões indicam até 45 milhões. Os preços desabaram, preocupando os agricultores.
Dois novos fatores, no entanto, estão reanimando o mercado: câmbio e alta dos preços em Chicago. A conjugação de dólar mais caro e preços em alta na principal Bolsa mundial de negociação do produto já é suficiente para dar sustentação às exportações do milho paranaense. Há 15 dias, a saca estava a R$ 16 no porto de Paranaguá. Os valores atuais já são de R$ 18 por saca.
Se o Paraná, líder de produção, vender a sua produção, vai ter de buscar produto em Goiás e em Mato Grosso para o consumo do Sul, diz Leonardo Junho Sologuren, analista da Céleres, de Uberlândia (Minas Gerais).

Safra cai, preço sobe
A alta de preços em Chicago -9,2% em sete dias- se deve às recentes estimativas de quebra das safras nos Estados Unidos e na União Européia. A safra dos Estados Unidos, estimada em 261 milhões de toneladas em julho, deverá ficar próxima de 256 milhões, segundo as mais recentes previsões do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
Situação mais grave vive a União Européia, que deverá ter redução de safra de 41 milhões de toneladas para 34 milhões neste ano. A queda das safras norte-americana e européia ocorre devido ao clima seco.
A quebra das safras fará com que pelo quarto ano seguido o consumo mundial supere a produção. Com isso, os estoques finais da safra 2003/4 deverão estar em apenas 86 milhões de toneladas, bem inferiores aos 171 milhões acumulados no período 1999/2000.
Apesar desse cenário um pouco melhor para os produtores nacionais, Sologuren diz que o Brasil precisa de uma política setorial para o escoamento do milho. O país vive uma realidade diferente no setor após a desvalorização do real, em 1999, mas o produto de Goiás e de Mato Grosso ainda não é competitivo no porto de Paranaguá.
Além disso, as previsões de quebra nos Estados Unidos não estão confirmadas, e a Bolsa de Chicago tem alta em cima de especulações. Um cenário menos favorável de preços nos Estados Unidos vai tornar ainda mais difícil a comercialização interna brasileira. E isso ocorreria em um momento de decisões sobre o plantio da safra 2004, diz Sologuren.

Produtividade maior
O salto da safra brasileira para 44 milhões de toneladas ocorreu devido a uma forte evolução da produtividade, efeito não previsto nas principais estimativas inicias de safra. Parte dos produtores de milho está se profissionalizando e usando muita tecnologia no cultivo. Previu-se redução de área no verão -e houve queda de 2,7%-, mas não se levou em conta o aumento de 3,6% na produtividade, diz Sologuren.
Outro motivo para a boa safra foi a excelente produção na safrinha. "Sempre há quebra em uma ou outra região. Desta vez não houve porque o clima foi excelente", afirmou.
A expectativa de bons preços para o milho e de safra abaixo da demanda permitiu o avanço também das culturas alternativas, como o sorgo. O produto deverá atingir safra recorde -acima de 1,5 milhão de toneladas-, dificultando ainda mais a comercialização do milho.
Nas contas de Sologuren, o Brasil volta a ser um grande exportador de milho neste ano. As estimativas são de que pelo menos 5 milhões de toneladas sejam exportados.
Orcival Francisco, do porto de Paranaguá, confirma que "o movimento de exportações de milho é muito bom neste ano".

Limite de baixa
O analista da Céleres acredita que a comercialização do milho se estabilize mais nos próximos anos com a inserção do Brasil no cenário mundial do produto.
"Se essa supersafra estivesse ocorrido antes da desvalorização do câmbio, em 1999, seguramente os preços pagos aos produtores despencariam para R$ 7 a saca, e a estimativa de redução de área na próxima safra seria de pelo menos 10%."
Antes da desvalorização do real, o milho não tinha limites de queda, mas só de alta, que eram definidos pelas importações. Agora, o produto passou a ter também limite de baixa, que é o do mercado externo, diz Sologuren.
Para o analista da Céleres, o milho começa a se espelhar na soja. A produção avança nas novas fronteiras agrícolas e as multinacionais começam a entrar nas exportações.
Isso deverá dar maior estabilidade aos preços, evitando o que ocorreu neste ano em Mato Grosso do Sul, onde, em plena safra de verão, a saca era vendida por R$ 22. Hoje está a R$ 10. "Quem não vendeu perdeu o bonde", afirma Sologuren.


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