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GRÃOS
Taxa de câmbio favorável e alta em Chicago animam produtores; venda externa dará sustentação aos preços no país
Exportação de milho sustenta preço interno
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O produtor de milho, quando
optou pelo produto no final de
2002, se preparou para mais um
ano de bons preços. As previsões
iniciais indicavam safra apertada
de 38 milhões de toneladas e um
produto sobrevalorizado.
A boa safrinha -plantio de milho no período de inverno-, no
entanto, confirmou um cenário
bem diferente, e o país deverá
produzir uma safra recorde de 44
milhões de toneladas. Algumas
previsões indicam até 45 milhões.
Os preços desabaram, preocupando os agricultores.
Dois novos fatores, no entanto,
estão reanimando o mercado:
câmbio e alta dos preços em Chicago. A conjugação de dólar mais
caro e preços em alta na principal
Bolsa mundial de negociação do
produto já é suficiente para dar
sustentação às exportações do
milho paranaense. Há 15 dias, a
saca estava a R$ 16 no porto de Paranaguá. Os valores atuais já são
de R$ 18 por saca.
Se o Paraná, líder de produção,
vender a sua produção, vai ter de
buscar produto em Goiás e em
Mato Grosso para o consumo do
Sul, diz Leonardo Junho Sologuren, analista da Céleres, de Uberlândia (Minas Gerais).
Safra cai, preço sobe
A alta de preços em Chicago
-9,2% em sete dias- se deve às
recentes estimativas de quebra
das safras nos Estados Unidos e
na União Européia. A safra dos
Estados Unidos, estimada em 261
milhões de toneladas em julho,
deverá ficar próxima de 256 milhões, segundo as mais recentes
previsões do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos).
Situação mais grave vive a
União Européia, que deverá ter
redução de safra de 41 milhões de
toneladas para 34 milhões neste
ano. A queda das safras norte-americana e européia ocorre devido ao clima seco.
A quebra das safras fará com
que pelo quarto ano seguido o
consumo mundial supere a produção. Com isso, os estoques finais da safra 2003/4 deverão estar
em apenas 86 milhões de toneladas, bem inferiores aos 171 milhões acumulados no período
1999/2000.
Apesar desse cenário um pouco
melhor para os produtores nacionais, Sologuren diz que o Brasil
precisa de uma política setorial
para o escoamento do milho. O
país vive uma realidade diferente
no setor após a desvalorização do
real, em 1999, mas o produto de
Goiás e de Mato Grosso ainda não
é competitivo no porto de Paranaguá.
Além disso, as previsões de quebra nos Estados Unidos não estão
confirmadas, e a Bolsa de Chicago
tem alta em cima de especulações.
Um cenário menos favorável de
preços nos Estados Unidos vai
tornar ainda mais difícil a comercialização interna brasileira. E isso
ocorreria em um momento de decisões sobre o plantio da safra
2004, diz Sologuren.
Produtividade maior
O salto da safra brasileira para
44 milhões de toneladas ocorreu
devido a uma forte evolução da
produtividade, efeito não previsto
nas principais estimativas inicias
de safra. Parte dos produtores de
milho está se profissionalizando e
usando muita tecnologia no cultivo. Previu-se redução de área no
verão -e houve queda de
2,7%-, mas não se levou em
conta o aumento de 3,6% na produtividade, diz Sologuren.
Outro motivo para a boa safra
foi a excelente produção na safrinha. "Sempre há quebra em uma
ou outra região. Desta vez não
houve porque o clima foi excelente", afirmou.
A expectativa de bons preços
para o milho e de safra abaixo da
demanda permitiu o avanço também das culturas alternativas, como o sorgo. O produto deverá
atingir safra recorde -acima de
1,5 milhão de toneladas-, dificultando ainda mais a comercialização do milho.
Nas contas de Sologuren, o Brasil volta a ser um grande exportador de milho neste ano. As estimativas são de que pelo menos 5
milhões de toneladas sejam exportados.
Orcival Francisco, do porto de
Paranaguá, confirma que "o movimento de exportações de milho
é muito bom neste ano".
Limite de baixa
O analista da Céleres acredita
que a comercialização do milho se
estabilize mais nos próximos anos
com a inserção do Brasil no cenário mundial do produto.
"Se essa supersafra estivesse
ocorrido antes da desvalorização
do câmbio, em 1999, seguramente
os preços pagos aos produtores
despencariam para R$ 7 a saca, e a
estimativa de redução de área na
próxima safra seria de pelo menos
10%."
Antes da desvalorização do real,
o milho não tinha limites de queda, mas só de alta, que eram definidos pelas importações. Agora, o
produto passou a ter também limite de baixa, que é o do mercado
externo, diz Sologuren.
Para o analista da Céleres, o milho começa a se espelhar na soja.
A produção avança nas novas
fronteiras agrícolas e as multinacionais começam a entrar nas exportações.
Isso deverá dar maior estabilidade aos preços, evitando o que
ocorreu neste ano em Mato Grosso do Sul, onde, em plena safra de
verão, a saca era vendida por R$
22. Hoje está a R$ 10. "Quem não
vendeu perdeu o bonde", afirma
Sologuren.
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