São Paulo, Domingo, 19 de Setembro de 1999
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DESCENTRALIZAÇÃO
Estudo identifica regiões que oferecem empregos; Minas lidera o "mapa" com 11 municípios
Interior tem 66 novas áreas industriais


da Reportagem Local

e dos enviados especiais

Cidades que antes exportavam mão-de-obra estão se tornando as novas capitais do emprego industrial. Estudo do economista João Saboia, do Rio de Janeiro, identifica 66 áreas de crescimento na oferta de trabalho, a grande maioria no interior.
O novo mapa industrial do país está concentrado num território que começa no centro de Minas Gerais e inclui o interior de São Paulo, do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Também aparecem pontos no Centro-Oeste e no Nordeste, principalmente no Ceará.
Minas foi o Estado que apresentou o maior número de cidades com alta na oferta de empregos (11 municípios). Mas o Paraná leva vantagem. Além de ter 10 cidades no ranking, foi o único Estado das regiões Sul e Sudeste a apresentar aumento no número de postos de trabalho (9,3%).
A nova imagem dos centros industriais brasileiros está cada vez mais parecida com Apucarana, de 100 mil habitantes, no Paraná. Desde 1989, o número de empregados nas suas fábricas saltou de 11 mil para 19 mil, alta de 70%.
Apucarana se aproveita da riqueza gerada pela agricultura e da localização estratégica. Além da agroindústria, é forte a produção têxtil, especialmente de bonés, vendidos no Sul e Sudeste.
A abertura de 210 fábricas mudou a perspectiva de trabalhadores como Robson Pontes, que, há cinco anos, era servente de pedreiro. "O serviço era pesado, rendia pouco e não havia incentivos para aumentar o salário."
Aos 29 anos, pai de dois filhos, Robson tem um salário fixo de R$ 145 como operador de máquinas. Com os prêmios por bom desempenho, seu rendimento vai para R$ 480. Robson acha que, pelos padrões locais, tem boas perspectivas. "Já dá para sonhar em ter uma casa própria."
O desempenho do Paraná ajuda a entender o fenômeno da descentralização industrial. Enquanto as empresas brasileiras demitiam em massa para enfrentar as oscilações da economia e os importados, o Paraná contratava operários, gerentes e executivos.

Custo
Vizinho de grandes mercados consumidores, como os Estados do Sul e do Sudeste e a Argentina, o Paraná atraiu parte das empresas que escapavam dos altos custos de centros congestionados.
Os industriais estão fugindo de terrenos caros, engarrafamentos e sindicatos com poder de fogo para obter reajustes de salários. Outro motivo é a legislação ambiental, difícil de ser seguida em metrópoles como São Paulo.
"No passado, as empresas se instalavam no meio dos centros consumidores para viabilizar as vendas", afirma Yves Moyen, vice-presidente da consultoria internacional At Kearney.
Agora, diz, as estradas, os meios de comunicação e o fornecimento de energia melhoraram no interior. Já se pode abrir uma fábrica fora dos grandes centros sem perder competitividade.
A mudança abriu espaço para que os Estados disputassem fábricas. "Ao lado de Minas Gerais, o Paraná foi um dos Estados mais agressivos na concessão de incentivos fiscais", diz Carlos Cavalcanti, da Fundação de Desenvolvimento Administrativo.
O problema é que o Paraná pode ter dado subsídios demais. "Chega um ponto em que as concessões são tão grandes que é possível que o Estado perca mais do que ganhe com as indústrias", diz o cientista político Fernando Abrucio, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
O Ceará ajuda a entender a tendência de descentralização por outro motivo. De 1989 a 1997, o número de empregos industriais cresceu 9,1% no Estado. "Temos mais de 200 projetos em andamento que vão gerar 50 mil empregos", diz o secretário estadual de Indústria, Raimundo Viana.

Benefícios
O Ceará oferece um pacote generoso de benefícios fiscais e a facilidade de exportação, por estar mais perto da Europa e dos EUA. Mas uma de suas principais vantagens para a atração de indústrias que empregam muitos trabalhadores são os baixos salários.
A Grendene fechou as fábricas que tinha no Rio Grande do Sul e abriu nove no Ceará, onde gerou 12.200 empregos. Na semana que vem, uma das fábricas de Sobral vai contratar mais 200 operários. O salário médio (R$ 212) é 30% menor do que o dos gaúchos.
"No Ceará, é mais fácil exportar, temos incentivos fiscais e os custos são mais baixos, o que facilita a enfrentar a concorrência internacional", diz o diretor industrial Rudimar Dall'Onder.
Não é à toa que fica no Ceará a cidade campeã de aumento de oferta de empregos. Em 1989, quase todos os 407 operários da cidade de Pacajus podiam ser encontrados na fábrica de suco e castanha-de-caju Jandaia.
Hoje, a cidade abriga a fábrica de jeans da Vicunha, a Rigesa, produtora de papel, e uma cadeia de pequenos fornecedores. O número de empregos chegou a 5.188, um salto de 1.147%.
"São Paulo já foi o Eldorado de todo cearense", diz o mecânico de tecelagem Genival Soares da Silva, de 36 anos, que morou nove anos na capital paulista. "Mas hoje o futuro está aqui", completa o operário, que ganha R$ 550, metade do que recebia em São Paulo.



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