|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DESCENTRALIZAÇÃO
Estudo identifica regiões que oferecem empregos; Minas lidera o "mapa" com 11 municípios
Interior tem 66 novas áreas industriais
da Reportagem Local
e dos enviados especiais
Cidades que antes exportavam
mão-de-obra estão se tornando
as novas capitais do emprego industrial. Estudo do economista
João Saboia, do Rio de Janeiro,
identifica 66 áreas de crescimento
na oferta de trabalho, a grande
maioria no interior.
O novo mapa industrial do país
está concentrado num território
que começa no centro de Minas
Gerais e inclui o interior de São
Paulo, do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
Também aparecem pontos no
Centro-Oeste e no Nordeste,
principalmente no Ceará.
Minas foi o Estado que apresentou o maior número de cidades
com alta na oferta de empregos
(11 municípios). Mas o Paraná leva vantagem. Além de ter 10 cidades no ranking, foi o único Estado das regiões Sul e Sudeste a
apresentar aumento no número
de postos de trabalho (9,3%).
A nova imagem dos centros industriais brasileiros está cada vez
mais parecida com Apucarana,
de 100 mil habitantes, no Paraná.
Desde 1989, o número de empregados nas suas fábricas saltou de
11 mil para 19 mil, alta de 70%.
Apucarana se aproveita da riqueza gerada pela agricultura e
da localização estratégica. Além
da agroindústria, é forte a produção têxtil, especialmente de bonés, vendidos no Sul e Sudeste.
A abertura de 210 fábricas mudou a perspectiva de trabalhadores como Robson Pontes, que, há
cinco anos, era servente de pedreiro. "O serviço era pesado,
rendia pouco e não havia incentivos para aumentar o salário."
Aos 29 anos, pai de dois filhos,
Robson tem um salário fixo de R$
145 como operador de máquinas.
Com os prêmios por bom desempenho, seu rendimento vai para
R$ 480. Robson acha que, pelos
padrões locais, tem boas perspectivas. "Já dá para sonhar em ter
uma casa própria."
O desempenho do Paraná ajuda a entender o fenômeno da descentralização industrial. Enquanto as empresas brasileiras demitiam em massa para enfrentar as
oscilações da economia e os importados, o Paraná contratava
operários, gerentes e executivos.
Custo
Vizinho de grandes mercados
consumidores, como os Estados
do Sul e do Sudeste e a Argentina,
o Paraná atraiu parte das empresas que escapavam dos altos custos de centros congestionados.
Os industriais estão fugindo de
terrenos caros, engarrafamentos e
sindicatos com poder de fogo para obter reajustes de salários. Outro motivo é a legislação ambiental, difícil de ser seguida em metrópoles como São Paulo.
"No passado, as empresas se
instalavam no meio dos centros
consumidores para viabilizar as
vendas", afirma Yves Moyen, vice-presidente da consultoria internacional At Kearney.
Agora, diz, as estradas, os meios
de comunicação e o fornecimento
de energia melhoraram no interior. Já se pode abrir uma fábrica
fora dos grandes centros sem perder competitividade.
A mudança abriu espaço para
que os Estados disputassem fábricas. "Ao lado de Minas Gerais, o
Paraná foi um dos Estados mais
agressivos na concessão de incentivos fiscais", diz Carlos Cavalcanti, da Fundação de Desenvolvimento Administrativo.
O problema é que o Paraná pode ter dado subsídios demais.
"Chega um ponto em que as concessões são tão grandes que é possível que o Estado perca mais do
que ganhe com as indústrias", diz
o cientista político Fernando
Abrucio, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
O Ceará ajuda a entender a tendência de descentralização por
outro motivo. De 1989 a 1997, o
número de empregos industriais
cresceu 9,1% no Estado. "Temos
mais de 200 projetos em andamento que vão gerar 50 mil empregos", diz o secretário estadual
de Indústria, Raimundo Viana.
Benefícios
O Ceará oferece um pacote generoso de benefícios fiscais e a facilidade de exportação, por estar
mais perto da Europa e dos EUA.
Mas uma de suas principais vantagens para a atração de indústrias que empregam muitos trabalhadores são os baixos salários.
A Grendene fechou as fábricas
que tinha no Rio Grande do Sul e
abriu nove no Ceará, onde gerou
12.200 empregos. Na semana que
vem, uma das fábricas de Sobral
vai contratar mais 200 operários.
O salário médio (R$ 212) é 30%
menor do que o dos gaúchos.
"No Ceará, é mais fácil exportar,
temos incentivos fiscais e os custos são mais baixos, o que facilita
a enfrentar a concorrência internacional", diz o diretor industrial
Rudimar Dall'Onder.
Não é à toa que fica no Ceará a
cidade campeã de aumento de
oferta de empregos. Em 1989,
quase todos os 407 operários da
cidade de Pacajus podiam ser encontrados na fábrica de suco e
castanha-de-caju Jandaia.
Hoje, a cidade abriga a fábrica
de jeans da Vicunha, a Rigesa,
produtora de papel, e uma cadeia
de pequenos fornecedores. O número de empregos chegou a
5.188, um salto de 1.147%.
"São Paulo já foi o Eldorado de
todo cearense", diz o mecânico de
tecelagem Genival Soares da Silva,
de 36 anos, que morou nove anos
na capital paulista. "Mas hoje o
futuro está aqui", completa o operário, que ganha R$ 550, metade
do que recebia em São Paulo.
Texto Anterior: Interior já emprega mais que capitais Próximo Texto: Emprego chega a fronteira agrícola Índice
|