São Paulo, Domingo, 19 de Setembro de 1999
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Emprego chega a fronteira agrícola

da Reportagem Local

Uma surpresa que apareceu na pesquisa da UFRJ foi a industrialização dos Estados da região Centro-Oeste. A antiga fronteira agrícola está se tornando também uma fronteira industrial.
O Centro-Oeste foi a única região em que todos os Estados apresentaram crescimento na oferta de empregos. Enquanto o mercado de trabalho industrial do Sudeste encolheu 30,7% o do Centro-Oeste cresceu 46,7%
As diferenças ainda são gigantescas. Em 1997, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal somavam 173.154 postos de trabalho na indústria.
Só a cidade de Belo Horizonte tinha quase o mesmo número de trabalhadores nas fábricas: 171.773.
Mesmo assim, o crescimento dos Estados da região Centro-Oeste chama a atenção.
"Muitas cidades apresentaram números impressionantes de crescimento de ofertas de empregos, mas a base de comparação inicial era fraca", diz João Saboia. "Mas Goiânia foi uma cidade de bom porte que apresentou um forte crescimento no número de empregos industriais, de 53.5%."
Existem várias explicações para o fenômeno. A principal delas é o enriquecimento dos Estados pela renda da agricultura. "As empresas se instalam perto das fontes de matérias-primas, para processar alimentos", diz Flávio Castelo Branco, economista da Confederação Nacional da Indústria.

Perdigão
Um bom exemplo é a cidade de Rio Verde, em Goiás, grande produtora de milho. A Perdigão, uma das maiores empresas brasileiras no ramo da alimentação, quer aproveitar a fartura e o bom preço da ração na região para incrementar seus negócios.
A empresa está construindo em Rio Verde sua segunda maior unidade, num projeto que soma investimentos de R$ 580 milhões, sendo parte com financiamento do BNDES e do Banco do Brasil.
"A nova filial vai faturar R$ 700 milhões por ano e gerar três mil empregos diretos e seis mil indiretamente", diz Antonio Roberto Marques, diretor da Perdigão. Além disso, a empresa vai contratar 800 fazendeiros para criar aves e porcos, que serão abatidos e processados na nova fábrica.
Além da Perdigão, Rio Verde ganhou uma fábrica da Gessy Lever e uma cadeia de fornecedores de embalagens, matérias-primas e manutenção industrial. Os aluguéis na cidade já estão subindo, devido à chegada de novos trabalhadores.

Aumento da população
Todas as capitais da região Centro-Oeste apresentaram crescimento na oferta de empregos industriais. Outra razão para o crescimento do Centro-Oeste é que o desenvolvimento agrícola atraiu migrantes de todo o país.
"A população está crescendo num ritmo maior do que a média brasileira", diz Reinaldo Fonseca, gestor técnico da Federação das Indústrias de Goiás.
"Há um crescimento explosivo de pequenas fábricas para produzir alimentos, material de construção e outros produtos básicos, substituindo o que antes era importado de outros Estados."
Um terceiro motivo para o desenvolvimento industrial acelerado é que Estados como Goiás também são bastante agressivos na concessão de benefícios fiscais. De 1984 a 1998, o programa de benefícios fiscais Fomentar atraiu 280 projetos para Goiás.
O desempenho dos Estados do Nordeste foi variado na década de 90. Alguns Estados, como Pernambuco, sofreram um grande encolhimento de seu mercado de trabalho industrial. Mas outros, como o Piauí, até cresceram ou, como a Paraíba, perderam menos empregos que a média nacional. Além do Ceará, alguns Estados do Nordeste também foram beneficiados pela migração de empresas, principalmente dos fabricantes de tecidos e de calçados.
São setores que empregam muita mão-de-obra e, por isso, aproveitam os baixos salários pagos nos Estados do Nordeste. Contam também com os subsídios da Sudene, que permite o abatimento de parte do Imposto de Renda pago sobre os lucros.
A Coteminas, um dos grupos têxteis que mais cresce no Brasil, tem 11 fábricas. Quatro delas estão localizadas em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, e as outras sete, no Rio Grande do Norte e na Paraíba. Todas elas estão na área da Sudene.
"Temos excelentes portos no Nordeste e a mão-de-obra é muito boa. Além disso, podemos abater imposto de renda sobre o lucro porque atuamos em área da Sudene", diz Josué Alencar, presidente da empresa. A Coteminas faturou R$ 256 milhões no primeiro semestre e exporta camisetas por US$ 0,80, a unidade.


Colaborou a Agência Folha


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