São Paulo, Domingo, 19 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DESCENTRALIZAÇÃO
Ceará industrial contrasta com centros como São Paulo, que perdeu 600 mil vagas nos anos 90
Regiões antigas têm mais desemprego

da Reportagem Local

e dos enviados especiais

São duas realidades muito diferentes. Na década de 90, praticamente todos os centros industriais, incluindo cidades médias do interior de São Paulo, apresentaram encolhimento no mercado de trabalho nas fábricas.
Na década de 90, a cidade de São Paulo perdeu mais de 600 mil empregos industriais (queda de 43,9%). No Rio de Janeiro, foram extintas 200 mil vagas, a maior redução de ofertas de trabalho (45%) entre as grandes cidades. Porto Alegre apresentou redução de 31% no número de empregos industriais e Campinas teve um corte de 28% nas vagas.
O caso do Rio de Janeiro foi particularmente complicado porque ali se concentravam estatais que, ao serem privatizadas, cortaram milhares de postos de trabalho. Além disso, um setor importante, o de construção de navios, quebrou.
"Nos últimos tempos, o Rio de Janeiro começou a se recuperar, com a produção de petróleo e a instalação de fábricas no sul do Estado", diz Flávio Castelo Branco, economista da CNI.
A crise no mercado de trabalho atingiu todo o país e, mesmo no interior, o Brasil perdeu empregos na indústria. Mas o problema atingiu com intensidade muito menor algumas regiões que não tinham tradição industrial, mas ganharam novas fábricas na década de 90.
A diferença fica evidente no caso de Pacajus, no Ceará. O engenheiro químico José Valdenir Pereira Cavalcante, de 30 anos, concluiu, no ano passado, um curso de pós-graduação em engenharia têxtil, na Universidade Federal do Ceará. Foi a primeira turma aberta para atender às novas fábricas de tecido do Estado.
"Sou o primeiro da família que tem a chance de fazer carreira na área de atuação original, no Ceará", diz Cavalcante. Cinco irmãos e oito tios precisaram migrar para outros Estados.
Foi o contrário do que ocorreu com o gerente de produção Nelson José Rossi, de 37 anos. Ele precisou mudar radicalmente de vida para se adaptar às transformações no mapa industrial brasileiro. Afinal, trocou sua cidade, Farroupilha, no Rio Grande do Sul, pela rotina sertaneja de Sobral.
Ele se adaptou bem. "Só sinto falta dos jogos do Internacional e de meus pais, já que sou um bom descendente de italianos", diz Rossi, que teve três promoções profissionais desde que se mudou do Rio Grande do Sul, há cinco anos.
Trabalhar numa indústria nos anos 90 é mais difícil do que no passado. Segundo o estudo da UFRJ, as empresas estão trabalhando com uma média de 21 empregados, contra 34 operários na década de 80. Trabalha-se mais e, muitas vezes, os salários são baixos.
Mas, em cidades pequenas como Apucarana, no Paraná, mesmo o baixo salário das fábricas pode representar uma melhoria na qualidade de vida.
É o que diz a operária Nadir Szpak, de 38 anos, que trabalha há cinco anos na Indústria Têxtil Apucarana. Ela recebe R$ 240,00 por mês, quantia insuficiente para que ganhe autonomia financeira e saia da casa de seus pais, aposentados, que moram na periferia da cidade.
"O trabalho é puxado, mas é bom emprego. É bem melhor do que trabalhar como empregada doméstica." O que falta, acrescenta, são mais indústrias. "Haveria mais oferta de trabalho e o salário poderia aumentar."



Texto Anterior: Se economia reagir, taxa de desemprego tardará a cair
Próximo Texto: Opinião Econômica - Rubens Ricúpero: Tempo para trabalhar, tempo para viver
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.