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DESCENTRALIZAÇÃO
Ceará industrial contrasta com centros como São Paulo, que perdeu 600 mil vagas nos anos 90
Regiões antigas têm mais desemprego
da Reportagem Local
e dos enviados especiais
São duas realidades muito diferentes. Na década de 90, praticamente todos os centros industriais, incluindo cidades médias
do interior de São Paulo, apresentaram encolhimento no mercado
de trabalho nas fábricas.
Na década de 90, a cidade de
São Paulo perdeu mais de 600 mil
empregos industriais (queda de
43,9%). No Rio de Janeiro, foram
extintas 200 mil vagas, a maior redução de ofertas de trabalho
(45%) entre as grandes cidades.
Porto Alegre apresentou redução
de 31% no número de empregos
industriais e Campinas teve um
corte de 28% nas vagas.
O caso do Rio de Janeiro foi
particularmente complicado porque ali se concentravam estatais
que, ao serem privatizadas, cortaram milhares de postos de trabalho. Além disso, um setor importante, o de construção de navios,
quebrou.
"Nos últimos tempos, o Rio de
Janeiro começou a se recuperar,
com a produção de petróleo e a
instalação de fábricas no sul do
Estado", diz Flávio Castelo Branco, economista da CNI.
A crise no mercado de trabalho
atingiu todo o país e, mesmo no
interior, o Brasil perdeu empregos na indústria. Mas o problema
atingiu com intensidade muito
menor algumas regiões que não
tinham tradição industrial, mas
ganharam novas fábricas na década de 90.
A diferença fica evidente no caso de Pacajus, no Ceará. O engenheiro químico José Valdenir Pereira Cavalcante, de 30 anos, concluiu, no ano passado, um curso
de pós-graduação em engenharia
têxtil, na Universidade Federal do
Ceará. Foi a primeira turma aberta para atender às novas fábricas
de tecido do Estado.
"Sou o primeiro da família que
tem a chance de fazer carreira na
área de atuação original, no Ceará", diz Cavalcante. Cinco irmãos
e oito tios precisaram migrar para
outros Estados.
Foi o contrário do que ocorreu
com o gerente de produção Nelson José Rossi, de 37 anos. Ele
precisou mudar radicalmente de
vida para se adaptar às transformações no mapa industrial brasileiro. Afinal, trocou sua cidade,
Farroupilha, no Rio Grande do
Sul, pela rotina sertaneja de Sobral.
Ele se adaptou bem. "Só sinto
falta dos jogos do Internacional e
de meus pais, já que sou um bom
descendente de italianos", diz
Rossi, que teve três promoções
profissionais desde que se mudou do Rio Grande do Sul, há cinco anos.
Trabalhar numa indústria nos
anos 90 é mais difícil do que no
passado. Segundo o estudo da
UFRJ, as empresas estão trabalhando com uma média de 21 empregados, contra 34 operários na
década de 80. Trabalha-se mais e,
muitas vezes, os salários são baixos.
Mas, em cidades pequenas como Apucarana, no Paraná, mesmo o baixo salário das fábricas
pode representar uma melhoria
na qualidade de vida.
É o que diz a operária Nadir
Szpak, de 38 anos, que trabalha
há cinco anos na Indústria Têxtil
Apucarana. Ela recebe R$ 240,00
por mês, quantia insuficiente para que ganhe autonomia financeira e saia da casa de seus pais,
aposentados, que moram na periferia da cidade.
"O trabalho é puxado, mas é
bom emprego. É bem melhor do
que trabalhar como empregada
doméstica." O que falta, acrescenta, são mais indústrias. "Haveria mais oferta de trabalho e o
salário poderia aumentar."
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