São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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Dívida alta preocupa bancos lá fora

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

A entidade representativa dos maiores bancos do mundo demonstrou ontem preocupação com o volume da dívida pública do Brasil, mas opinou que os mercados não têm motivos para temer o resultado das eleições.
Charles Dallara, diretor do "Institute of International Finance", entidade sediada em Washington, afirmou que a relação entre a dívida pública e o PIB (Produto Interno Bruto) do país é "séria" e só será reduzida pelo novo governo com esforço fiscal intenso e a realização urgente das reformas administrativa e previdenciária.
"Só posso demonstrar preocupação com relação à relação entre a dívida e o PIB brasileiros", disse Dallara, durante entrevista na qual divulgou previsões do fluxo de capital privado para mercados emergentes. "Ela vai exigir monitoramento, crescimento maior da economia, maior compromisso com a disciplina fiscal pelo novo governo e reformas adicionais, como a previdenciária, tributária e administrativa. É bom que o próximo governo comece a agir logo no começo de janeiro."
Em julho, a relação entre dívida pública e o PIB (Produto Interno Bruto) do país - um dos principais indicadores da capacidade de pagamento de um governo - atingiu o nível recorde de 61,9%.
Apesar do alerta, Dallara demonstrou confiança de que o próximo presidente enfrentará esse desafio, independemente do resultado das eleições. Sem citar o nome do líder nas pesquisas -o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva-, Dallara afirmou que a história mundial está recheada de candidatos que se elegeram com discursos "ameaçadores" e governaram com políticas econômicas responsáveis e sólidas.
"Os mercados não podem e não devem antecipar que o resultado das eleições será um fracasso", disse. "Se olharmos para as políticas econômicas da Argentina no começo da década, elas foram convincentes e sólidas. Mas se nos lembrarmos da primeira campanha presidencial de Carlos Menem, ninguém imaginaria que isso fosse ocorrer." Dallara ressalvou que se referia só aos primeiros anos do governo Menem, que, depois, deixou o caminho da responsabilidade fiscal.
Segundo o IIF, o fluxo de capital para os mercados emergentes deverá cair para US$ 122,9 bilhões em 2002, o nível mais baixo desde 1992. Segundo ele, essa queda deve-se principalmente à fuga de investidores da América Latina.
O IIF prevê que o investimento direto estrangeiro para todos os emergentes caia para US$ 113 bilhões em 2002, US$ 20 bilhões a menos do que em 2001. Para o Brasil, esse valor deve ficar em US$ 17 bilhões em 2002.


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