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NEODESENVOLVIMENTISMO
Empresário cobra diretrizes do governo para o crescimento
Antônio Ermírio quer plano de metas como na era JK
Renato Stockler/Folha Imagem
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O empresário Antônio Ermírio de Moraes, presidente do Votorantim, no centro de São Paulo, onde se localiza a sede do grupo |
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O empresário Antônio Ermírio
de Moraes, 76, presidente do grupo Votorantim, teme que a incipiente retomada da economia
brasileira seja minada por uma
política econômica ortodoxa
mais preocupada com a rigidez
monetária do que com o crescimento do país.
Para Ermírio de Moraes, o governo deveria reunir os empresários e definir, a partir de agora,
um novo plano de desenvolvimento para o país, uma espécie de
plano de metas de Juscelino Kubitschek (1956-61). "O governo
precisa, agora, fazer um plano de
metas como fez o governo Juscelino", disse o empresário, na quinta-feira, um dia depois de o Copom (Comitê de
Política Monetária) aumentar a taxa básica dos juros
de 16% para
16,25%.
Um dos industriais mais importantes do país, ele
reflete a preocupação crescente de
empresários, sindicalistas, economistas e políticos
de que o Brasil
perca essa nova
oportunidade de
dar um novo choque de desenvolvimento, aproveitando-se da onda
de crescimento
mundial. "O momento certo é agora. Ninguém mais
tem medo do PT."
Folha - A economia está mesmo a
todo o vapor?
Antônio Ermírio
de Moraes - Está
crescendo, sem
dúvida nenhuma,
graças a Deus, e espero que continue crescendo. Mas o governo
precisa, agora, fazer um plano de
metas como fez o governo Juscelino Kubitschek. O governo Juscelino definiu a meta de fazer 50 anos
em 5 e fez. Partiu para o desenvolvimento. O Juscelino chamava os
empresários e dizia o que queria.
Se não quiser fazer, então que ceda o seu lugar. Eu tenho que sentir
que, se amanhã eu não quiser trabalhar, alguém vem me substituir.
E é preciso que todo mundo saiba
disso. Não podemos seguir nessa
passividade. As metas não podem
ser levianas. Têm de ser conscientes. Já está na hora de o governo se
pronunciar sobre isso. O setor
agrícola é mais organizado e sabe
suas metas, mas a nossa área industrial não tem nada. O Brasil
precisa estabelecer metas para o
alumínio, para o aço, para o níquel, o zinco, enfim, para tudo.
Não só de metalurgia mas em todas as áreas. O país tem de ter
uma meta, e essa meta tem que ser
sagrada. Todos têm que ficar sabendo quais são essas metas e é
assim que se cresce de maneira
organizada. Nunca o governo
perguntou o que estamos fazendo. Está faltando a regra do jogo.
Folha - Por que o sr. defende essa
política desenvolvimentista?
Ermírio de Moraes - Porque hoje,
no Brasil, é muito mais fácil ganhar dinheiro no meio financeiro
do que na produção. Se eu quiser
trabalhar dez minutos por dia no
mercado financeiro, eu ganho
mais do que produzindo. Mas isso não traz nada para o Brasil. Nós
precisamos fazer um programa
de metas de produção para tudo.
Agora, cabe ao governo definir essas metas. Se eu
achar que é mais
fácil ganhar dinheiro no meio financeiro, eu vou
esquecer a parte
industrial, e aí vai
faltar mercadoria.
Se faltar, o preço
sobe. O que está
faltando é o governo demonstrar
interesse em promover reuniões
com os empresários e estabelecer
metas de produção em todos os
setores.
Folha - Isso não
poderia ser interpretado como intervenção do governo?
Ermírio de Moraes - Não que ele
vá intervir, mas
ele precisa saber o
que vai acontecer
no país. Por enquanto, não sabe.
Eles não estão sabendo de nada.
Ninguém perguntou para mim até
hoje o que eu vou produzir, qual é
o nosso plano de trabalho. Se você
não quiser produzir nada, continua sem produzir nada. O governo não sabe se eu produzo amendoim ou alumínio. Se eu tenho algum plano para produzir arroz ou
se tenho um plano industrial. O
governo tinha que saber, incentivar aqueles que querem investir.
Se não for um empresário sério, se
não for produzir nada, o governo
não pode deixar. É isso que falta.
Está faltando governança.
Folha - O sr. acha que o Brasil está
caminhando para o desenvolvimento sustentável?
Ermírio de Moraes - É muito bonito falar em desenvolvimento
sustentável. A frase é muito bonita, mas o que é desenvolvimento
sustentável? Poucos sabem.
Folha - O sr. acha que o governo
está muito passivo?
Ermírio de Moraes - Acho que o
governo está alheio a esse negócio. O governo tem que ser o fator
decisivo e dizer o quanto cada setor deve produzir. Precisa definir
as metas e perguntar o que os empresários estão precisando para
atingi-las. E depois fazer a seguinte pergunta: Vocês têm competência ou são aventureiros?
Folha - Como reunir os empresários?
Ermírio de Moraes - Reúne por
setores. Não vai reunir todo mundo porque aí dá confusão. No governo Juscelino, por exemplo, se
fez isso. No governo Fernando
Henrique também. No governo
Fernando Henrique se sabia o que
estava acontecendo. Ele chamava
o empresário para saber o que se
estava fazendo. É bem verdade
que no segundo mandato do governo Fernando
Henrique o negócio andou meio
devagar. O governo tem que estar
interessado em saber o que é o Brasil. Quem vai fazer
o Projeto Brasil é o
governo. Não somos nós. Está faltando essa direção
geral. Nós precisamos de uma decisão clara do que o
governo deseja.
Folha - Qual é a
sua avaliação do
governo Lula?
Ermírio de Moraes - Para mim, o
governo tem sido
até uma grata surpresa. De uma
maneira geral, não
se pode reclamar
do governo. O que
falta apenas é uma
coordenação
maior no setor de
produção. Há um
divórcio entre o
governo e a área
produtiva. Um
país com o tamanho do Brasil ter um PIB que soma apenas 1% da produção do
mundo é vergonhoso. Isso é ridículo. Eu trabalho como um mouro há 55 anos, e isso é uma coisa
que me desespera. O Brasil tem
tudo. O clima é bom, o povo é trabalhador, e o que está faltando? O
que falta é coordenação por parte
do governo. Está tudo descoordenado, cada um faz o que quer,
ninguém quer saber.
Folha - A quem caberia esse papel?
Ermírio de Moraes - O governo é
quem sabe. Esse papel não deve
ser apenas de um ministro mas de
vários. Tem, por exemplo, a parte
energética, a parte dos transportes e a parte de produção. O governo deveria reunir os empresários e perguntar por que ele não
está aumentando a produção. O
empresário tem de apresentar
seus problemas. Ninguém sabe o
que está acontecendo. Está mais
ou menos ao deus-dará. O governo precisa anunciar o seu projeto
de crescimento para o país. Não se
pode deixar cada um fazer o que
quer. Se deixar e não cobrar, nós
vamos todos aplicar no setor financeiro, que dá muito mais dinheiro do que aplicar no setor de
produção. E aí será um desastre
para a nação.
Folha - O que o sr. achou da idéia
de pacto proposta pela CUT?
Ermírio de Moraes - Eu não acredito nesse negócio de pacto. Tem
que partir do governo. Saber o
que eles querem. Aí depois você
vai discutir as ações a serem tomadas. O governo é que tem que
falar. Não é o Antônio Ermírio,
não é o Luiz Marinho [presidente
da CUT] e ninguém mais. É o governo. Está todo
mundo aplicando
no mercado financeiro porque é
muito mais fácil
você aplicar no
mercado financeiro do que trabalhar para produzir. O mercado financeiro dá um
dinheirão. É só
ver os balanços
dos bancos. Se eu
quiser trabalhar
dez minutos por
dia, ganho muito
mais no mercado
financeiro do que
trabalhando aqui
dez horas por dia
para produzir o
que for.
Folha - O que o sr.
achou do aumento
de juros do Copom?
Ermírio de Moraes - Já era sabido
que ia aumentar,
mas não vai ficar
só nisso. O aumento foi pequeno, mas é lamentável os juros continuarem subindo.
Folha - Quais são seus planos de
investimento?
Ermírio de Moraes - É continuar
crescendo. O que a Votorantim
ganha ela reinveste. Até 2007 eu
sei tudo que vou investir.
Folha - Qual sua avaliação sobre o
ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho?
Ermírio de Moraes - Um dos pontos altos do governo é a gestão da
Fazenda. Eu estive com o Palocci
uma única vez, mas tive uma excelente impressão dele. Trata-se
de um homem sério, ponderado e
prudente.
Folha - Por que o sr. acha que
agora é a hora de o governo fazer
um plano de metas como da era JK?
Ermírio de Moraes - O momento
certo é agora. Aquele medo do PT
que todo mundo tinha já passou.
Ninguém mais tem medo do PT.
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