São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2004

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RETOMADA

Estimuladas pelo aquecimento econômico local e externo, empresas buscam assessorias para planejar novos projetos

Investimentos começam a entrar no papel

ADRIANA MATTOS
MAELI PRADO

DA REPORTAGEM LOCAL

Estimuladas pelo aquecimento das economias brasileira e mundial, as empresas foram bater na porta das consultorias para reavaliar as projeções de demanda e desenhar os seus "business plans", ou planos de negócios para investimento, num movimento que ganhou força a partir de maio.
A caça aos consultores, além de ser um negócio caro -um projeto estratégico pode custar de R$ 500 mil a R$ 5 milhões- leva tempo e apenas trará resultados concretos para a produção a médio prazo. Fabricantes de eletroeletrônicos e de alimentos fazem parte do grupo que contratou esses serviços nos últimos meses.
Diversas consultorias ouvidas pela Folha confirmaram a existência desse movimento de maior procura por seus serviços e informaram que o aumento nas solicitações de avaliação de projetos para investimento cresceu até 40%. Há o caso, por exemplo, da LCA Consultores, que constatou crescimento de 12% na demanda deste ano em relação a 2003.
Na Trevisan Consultores, a procura das empresas por esse auxílio nos últimos meses, de maio a agosto, registrou alta de 30% a 40% em relação a 2003, expansão que varia conforme o mês.
As grandes consultorias do mercado -que podem prestar assessoria estratégica, como decisão de investimentos, ou elaborar análises macroeconômicas- têm de 30 a 100 profissionais que podem estar disponíveis para esse tipo de serviço.
"É caro manter esse serviço de análise dentro das empresas. Além disso, grande parte das companhias tem interesse em manter um grupo de apoio externo distante de possíveis interferências da chefia, e por isso o serviço dos consultores pode ser uma saída nesse momento", diz Ricardo Carvalho, sócio da área de "corporate finance" da Deloitte Touche Tohmatsu.

Foco no mercado externo
Os projetos em análise hoje atingem três diferentes níveis: 1) focado em reorganização da produção de forma que gere ganhos de produtividade; 2) voltado para a ampliação de parques fabris; 3) concentrado na abertura de novas unidades de produção.
"Estamos sendo procurados para mapear os mercados em que as empresas atuam e ver se os riscos de gargalo levam à necessidade de investir", diz José Luiz Maia, sócio e diretor comercial da LCA. "Estamos também com projetos, a pedido de clientes, para verificar se há possibilidade de manutenção dos atuais níveis de demanda."
Para Walter Piacsek, vice-presidente do BCG (Boston Consulting Group), os investimentos ocorridos atualmente são distintos dos que apareceram após o Plano Real. "São decisões tomadas com o olho no aquecimento de preços no mercado internacional, e não no mercado interno", diz.
Anteriormente, em um cenário de crise -em 2003 o PIB (Produto Interno Bruto) da indústria teve queda de 1%-, a maior parte dos estudos encomendados visava a redução de custos e o planejamento tributário. Nos últimos meses, há um maior equilíbrio nos temas que envolvem as solicitações dos clientes.
"Houve crescimento nos pedidos de projetos de aumento de produção, mesmo porque, em anos anteriores, esses pedidos praticamente não aconteceram. O foco era outro", confirma Marcello Rodrigues, diretor da Booz Allen & Hamilton.
Para os projetos de abertura de fábricas que levem ao aumento de produção (e que reduzam gargalos e pressões inflacionárias de demanda) a previsão de maturação do investimento atinge até 36 meses. Esse é o caso das siderúrgicas, petroquímicas e empresas de celulose.

Sigilo e discrição
O clima entre as consultorias é de competitividade e sigilo, até para informações simples. Questionadas pela Folha, as consultorias não revelaram os nomes dos clientes envolvidos nos projetos -só os setores em que atuam.
Atualmente com cem consultores, a Booz Allen afirma que contratou mais funcionários neste ano devido à maior demanda por projetos. Pretende contratar mais, porém não revela o número.
A elaboração de um trabalho de análise dos consultores é feito com base em diferentes critérios, que incluem as condições macroeconômicas (variação da renda, do PIB) e microeconômicas.
Nesse último caso, entram no plano certos detalhes que envolvem a empresa e o mercado em que ela atua, como a concorrência no setor, a política de preço do mercado e outras variáveis.
Segundo o consultor André Castellini, da Bain & Company, a demanda por parte de fundos interessados em investir em empresas também aumentou.
"Realizamos estudos para analisar se determinada empresa é ou não um bom investimento, se tem uma carteira sólida e clientes satisfeitos. O interesse maior é em logística, varejo e energia."


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