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RETOMADA
Estimuladas pelo aquecimento econômico local e externo, empresas buscam assessorias para planejar novos projetos
Investimentos começam a entrar no papel
ADRIANA MATTOS
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Estimuladas pelo aquecimento
das economias brasileira e mundial, as empresas foram bater na
porta das consultorias para reavaliar as projeções de demanda e desenhar os seus "business plans",
ou planos de negócios para investimento, num movimento que ganhou força a partir de maio.
A caça aos consultores, além de
ser um negócio caro -um projeto estratégico pode custar de R$
500 mil a R$ 5 milhões- leva
tempo e apenas trará resultados
concretos para a produção a médio prazo. Fabricantes de eletroeletrônicos e de alimentos fazem
parte do grupo que contratou esses serviços nos últimos meses.
Diversas consultorias ouvidas
pela Folha confirmaram a existência desse movimento de maior
procura por seus serviços e informaram que o aumento nas solicitações de avaliação de projetos
para investimento cresceu até
40%. Há o caso, por exemplo, da
LCA Consultores, que constatou
crescimento de 12% na demanda
deste ano em relação a 2003.
Na Trevisan Consultores, a procura das empresas por esse auxílio nos últimos meses, de maio a
agosto, registrou alta de 30% a
40% em relação a 2003, expansão
que varia conforme o mês.
As grandes consultorias do
mercado -que podem prestar
assessoria estratégica, como decisão de investimentos, ou elaborar
análises macroeconômicas- têm
de 30 a 100 profissionais que podem estar disponíveis para esse tipo de serviço.
"É caro manter esse serviço de
análise dentro das empresas.
Além disso, grande parte das
companhias tem interesse em
manter um grupo de apoio externo distante de possíveis interferências da chefia, e por isso o serviço dos consultores pode ser
uma saída nesse momento", diz
Ricardo Carvalho, sócio da área
de "corporate finance" da Deloitte Touche Tohmatsu.
Foco no mercado externo
Os projetos em análise hoje
atingem três diferentes níveis: 1)
focado em reorganização da produção de forma que gere ganhos
de produtividade; 2) voltado para
a ampliação de parques fabris; 3)
concentrado na abertura de novas
unidades de produção.
"Estamos sendo procurados para mapear os mercados em que as
empresas atuam e ver se os riscos
de gargalo levam à necessidade de
investir", diz José Luiz Maia, sócio
e diretor comercial da LCA. "Estamos também com projetos, a pedido de clientes, para verificar se
há possibilidade de manutenção
dos atuais níveis de demanda."
Para Walter Piacsek, vice-presidente do BCG (Boston Consulting
Group), os investimentos ocorridos atualmente são distintos dos
que apareceram após o Plano
Real. "São decisões tomadas com
o olho no aquecimento de preços
no mercado internacional, e não
no mercado interno", diz.
Anteriormente, em um cenário
de crise -em 2003 o PIB (Produto Interno Bruto) da indústria teve queda de 1%-, a maior parte
dos estudos encomendados visava a redução de custos e o planejamento tributário. Nos últimos
meses, há um maior equilíbrio
nos temas que envolvem as solicitações dos clientes.
"Houve crescimento nos pedidos de projetos de aumento de
produção, mesmo porque, em
anos anteriores, esses pedidos
praticamente não aconteceram. O
foco era outro", confirma Marcello Rodrigues, diretor da Booz
Allen & Hamilton.
Para os projetos de abertura de
fábricas que levem ao aumento de
produção (e que reduzam gargalos e pressões inflacionárias de demanda) a previsão de maturação
do investimento atinge até 36 meses. Esse é o caso das siderúrgicas,
petroquímicas e empresas de celulose.
Sigilo e discrição
O clima entre as consultorias é
de competitividade e sigilo, até
para informações simples. Questionadas pela Folha, as consultorias não revelaram os nomes dos
clientes envolvidos nos projetos
-só os setores em que atuam.
Atualmente com cem consultores, a Booz Allen afirma que contratou mais funcionários neste
ano devido à maior demanda por
projetos. Pretende contratar mais,
porém não revela o número.
A elaboração de um trabalho de
análise dos consultores é feito
com base em diferentes critérios,
que incluem as condições macroeconômicas (variação da renda, do PIB) e microeconômicas.
Nesse último caso, entram no
plano certos detalhes que envolvem a empresa e o mercado em
que ela atua, como a concorrência
no setor, a política de preço do
mercado e outras variáveis.
Segundo o consultor André
Castellini, da Bain & Company, a
demanda por parte de fundos interessados em investir em empresas também aumentou.
"Realizamos estudos para analisar se determinada empresa é ou
não um bom investimento, se tem
uma carteira sólida e clientes satisfeitos. O interesse maior é em
logística, varejo e energia."
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