São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2004

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Recuperação brasileira divide economistas em cinco grupos

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O risco de o crescimento econômico ser abortado pela política ortodoxa do governo pôs em campo os defensores do neodesenvolvimentismo. Eles pregam a adoção de metas de crescimento como foco da política econômica. Essa é uma das cinco correntes nas quais se dividem hoje economistas de peso alojados no governo, nas universidades, no mercado financeiro e nas empresas de consultoria econômica.
O que os distingue é a avaliação que fazem da qualidade da atual recuperação e da política econômica. "A política de juros está errada, o governo tem de se engajar na política de crescimento", diz o economista Paulo Rabello de Castro, vice-presidente do Instituto Atlântico, centro do chamado pensamento "pós-liberal", ou "neodesenvolvimentista".
Para Rabello, o país vive uma recuperação cíclica. "O atual crescimento é débil e instável e responde a um impulso de fora do painel de comando da política econômica", afirma. Ele defende o estabelecimento de metas de crescimento, e a retomada do planejamento econômico para atingi-las.
Para o economista Renato Fragelli, diretor da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV, a taxa de crescimento da economia de um país reflete suas condições materiais, institucionais e culturais.
"Em economia não cabem voluntarismos: definir uma taxa de crescimento e acelerar para alcançá-la pode gerar distorções como mais inflação, por exemplo."
Na sua opinião, as metas de crescimento têm de ser compatíveis com os níveis de inflação que se quer manter e exigem uma série de mudanças estruturais no país. Fragelli, que se define como um economista de formação clássica, não se alinha a nenhuma das cinco correntes atuais.
Rabello, que classificou esses grupos, diz que cada um tem uma parcela de razão. Mas o que distingue os neodesenvolvimentistas, segundo ele, é a porta de entrada dos seus argumentos: a crítica contundente à atual política fiscal e monetária do governo.

Neodesenvolvimentistas
Para a corrente representada pelo Instituto Atlântico, o país deve ter como meta central um crescimento de 5% do PIB. Para atingi-lo, o instituto propõe uma agenda que inclui o aumento das reservas cambiais do país, a desindexação ampla e efetiva, alinhar o custo de rolagem da dívida pública ao crescimento médio da economia, criar um padrão tributário de qualidade mundial e abrir espaço para acumulação de poupança popular.
Na opinião de Rabello, o governo deveria buscar a redução do endividamento desindexando os títulos públicos do IGP, nas operações de rolagem de dívida. "Emitir títulos com vencimento em 20 anos pagando IGP mais 8% de juros é admitir que vamos continuar no ramerrame da inflação indefinidamente", diz.

Neoconservadores
Segundo Rabello, essa corrente do pensamento econômico é a que está encastelada no Banco Central. Ela prega o arrocho fiscal e monetário e tem como principal foco da política monetária atingir a meta de inflação definida pelo governo. "Para eles, a taxa de juros é o principal instrumento de política econômica", diz Rabello.

Microrreformistas
A terceira corrente de pensamento é representada pela equipe de economistas do Ministério da Fazenda, capitaneada pelo secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa. Eles defendem uma agenda de reformas microeconômicas, focadas em grandes distorções da economia como os altos "spreads" bancários, a restrição ao crédito e a burocracia.

Neoestatistas
Essa corrente prega o "pacto entre empresários e trabalhadores". O objetivo é gerar mais eficiência e produtividade no setor privado e recursos para poupança e investimento de longo prazo. Seus expoentes encontram-se no Ministério do Planejamento e a maior expressão de seu pensamento é o projeto das PPP (Parcerias Público-Privadas).

Neocontratualistas
Para eles, o problema estaria na insegurança jurídica e na precariedade das relações contratuais no país. Essa corrente seria representada, segundo Rabello, pelo grupo Gávea, que reúne alguns dos principais nomes da área econômica do governo FHC, sob a batuta do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.


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