São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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análise

Decisão eleva risco de inflação e bolha acionária

JOHN AUTHER
DO "FINANCIAL TIMES"

NUNCA TANTOS gastaram tanto para tentar prever os pensamentos de tão poucos. E ainda assim o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) conseguiu apanhar quase todo mundo de surpresa.
Não só o Fed reduziu a taxa de fundos federais, sua taxa primária de referência, em 0,5 ponto percentual, para 4,75%, como também reduziu pelo mesmo montante a taxa de redesconto, em larga medida simbólica, que regula os empréstimos que concede aos bancos. E não só isso: o comunicado que acompanhou a decisão afirma que o Fed "agirá quando necessário para fomentar a estabilidade de preços e o crescimento econômico sustentável" -uma formulação que não limita de maneira alguma as futuras ações da instituição. E a votação quanto a essas medidas extremas foi unanimemente favorável.
Em seu todo, o pacote se provou muito mais agressivo do que antecipavam quase todos os observadores e representa um momento extraordinário, dado o fato de que, há apenas seis semanas, o Fed insistia em que sua preocupação "predominante" era a inflação.
A resposta do mercado fala por si só. Parabéns aos que decidiram comprar ações agressivamente na tarde de 18 de agosto, antecipando que o Fed teria de agir assim: de lá para cá, o índice S&P 500 subiu mais de 10% e está a 2,5% do pico histórico.
O Fed agiu como agiu baseado na teoria dos jogos. Eles não desejavam cortar os juros. Mas o aperto no crédito significava que tinham de agir. Portanto, de acordo com essa linha de raciocínio, fazia mais sentido agir de maneira drástica e apanhar o mercado financeiro de surpresa. Isso maximizava a chance de que a ação tivesse os efeitos desejados.
Há riscos. Isso poderia solapar a credibilidade do Fed e alimentar a fogueira da inflação, que a instituição vinha combatendo ardorosamente há apenas um mês. Os riscos econômicos não desapareceram. O mercado da habitação pode bem limitar o crescimento. Mas os argumentos em favor de uma alta continuada nas ações, ou até uma bolha, são mais fortes hoje do que eram ontem.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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