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análise
Decisão eleva risco de inflação e bolha acionária
JOHN AUTHER
DO "FINANCIAL TIMES"
NUNCA TANTOS gastaram tanto para
tentar prever os
pensamentos de tão poucos.
E ainda assim o Federal Reserve (Fed, o banco central
dos Estados Unidos) conseguiu apanhar quase todo
mundo de surpresa.
Não só o Fed reduziu a taxa de fundos federais, sua taxa primária de referência,
em 0,5 ponto percentual, para 4,75%, como também reduziu pelo mesmo montante
a taxa de redesconto, em larga medida simbólica, que regula os empréstimos que
concede aos bancos. E não só
isso: o comunicado que
acompanhou a decisão afirma que o Fed "agirá quando
necessário para fomentar a
estabilidade de preços e o
crescimento econômico sustentável" -uma formulação
que não limita de maneira alguma as futuras ações da instituição. E a votação quanto a
essas medidas extremas foi
unanimemente favorável.
Em seu todo, o pacote se
provou muito mais agressivo
do que antecipavam quase
todos os observadores e representa um momento extraordinário, dado o fato de
que, há apenas seis semanas,
o Fed insistia em que sua
preocupação "predominante" era a inflação.
A resposta do mercado fala
por si só. Parabéns aos que
decidiram comprar ações
agressivamente na tarde de
18 de agosto, antecipando
que o Fed teria de agir assim:
de lá para cá, o índice S&P
500 subiu mais de 10% e está
a 2,5% do pico histórico.
O Fed agiu como agiu baseado na teoria dos jogos.
Eles não desejavam cortar os
juros. Mas o aperto no crédito significava que tinham de
agir. Portanto, de acordo
com essa linha de raciocínio,
fazia mais sentido agir de
maneira drástica e apanhar o
mercado financeiro de surpresa. Isso maximizava a
chance de que a ação tivesse
os efeitos desejados.
Há riscos. Isso poderia solapar a credibilidade do Fed e
alimentar a fogueira da inflação, que a instituição vinha
combatendo ardorosamente
há apenas um mês. Os riscos
econômicos não desapareceram. O mercado da habitação
pode bem limitar o crescimento. Mas os argumentos
em favor de uma alta continuada nas ações, ou até uma
bolha, são mais fortes hoje do
que eram ontem.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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