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Para Delfim, EUA "premiam" atuação de risco nos mercados
DENISE BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O ex-ministro Antonio Delfim Netto disse que a decisão
do Federal Reserve de reduzir
as taxas de juros terá efeito benéfico, aumentando a liquidez
e tranqüilizando os mercados,
mas, por outro lado, consagra o
chamado "moral hazard" (risco
moral, em inglês), termo usado
para designar comportamento
arriscado por parte de investidores e países devedores com
base num excesso de confiança
nos bancos centrais.
"[A medida] certamente melhora a situação. Agora, consagra, na verdade, tudo aquilo que
eles combatiam, que é o "moral
hazard". Vai ficar claro que eles
têm uma grande preocupação
com os especuladores", disse.
Segundo o economista, o corte nos juros americanos não deve provocar impacto no mercado brasileiro, mas certamente
aumentará o fluxo de capitais
em conseqüência de a diferença entre as taxas de juros dos
dois países ficar agora ainda
maior: 11,25% ao ano no Brasil
e 4,75% nos Estados Unidos.
"O Brasil é o último peru disponível, fora o do dia de Ação de
Graças" disse.
Sobre como os mercados poderiam interpretar o corte
maior do juro, que superou as
expectativas, o ex-ministro comentou, em referência à dimensão da crise financeira: "Isso sinaliza para o mercado o seguinte: que eles sabem muito
mais do que nós sabemos".
Delfim Netto ministrou palestra no 4º Fórum de Economia, promovido pela FGV
(Fundação Getulio Vargas), em
São Paulo, e defendeu a tese de
que a chave para o crescimento
da economia brasileira está no
desenvolvimento da indústria
de manufaturados sem que haja desequilíbrio nas contas correntes. Delfim destacou a retração da participação brasileira
na exportação mundial de manufaturados, atualmente em
torno de 2%.
Segundo ele, olhando para
crises anteriores na economia,
como a de 2002, a impressão
que se tem hoje é que o país está
"nadando em recursos". "E estamos", disse. "Mas não há nenhuma garantia de que esse
modelo, que abandona o desenvolvimento industrial, vá continuar propiciando condições
para continuarmos a crescer."
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