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ANÁLISE
Desníveis regionais marcam pesquisa
JOÃO SABOIA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os dados da Pnad (Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios) de 2008 confirmaram
a tendência de aumento do nível de rendimento e de melhoria da distribuição de renda que
vem ocorrendo no país há alguns anos.
O significado de tais resultados, entretanto, necessita de
uma qualificação inicial. Embora a Pnad seja uma pesquisa
que fornece a cada ano um quadro abrangente da sociedade
brasileira, sua capacidade para
captar dados de rendimento é
bastante limitada, cobrindo basicamente os rendimentos do
trabalho e das transferências
(aposentadorias, pensões e assistência social).
Tanto o rendimento do trabalho quanto o de todas as fontes levantadas apresentaram
aumento entre 2007 e 2008, resultando em crescimento do
rendimento dos domicílios. Em
termos distributivos, houve
melhora generalizada nos três
casos -rendimentos do trabalho; de todas as fontes; e domiciliares. É verdade que em alguns casos o aumento no nível
de rendimento e a queda na desigualdade foram menos intensos que no passado recente. De
qualquer forma, não deixa de
ser positiva a informação de
continuidade do movimento
anterior de melhoria.
Um dos aspectos negativos
que devem ser destacados é a
permanência dos enormes desníveis regionais em termos de
rendimento. De um lado, há a
região Nordeste, com os menores rendimentos e alta desigualdade. De outro, a região
Centro-Oeste, com os maiores
níveis de rendimento e de desigualdade, certamente por conta dos elevados rendimentos
concentrados na capital federal. A situação mais favorável
parece ser encontrada na região Sul, em que os níveis de
rendimento são relativamente
altos e a desigualdade está entre as menores do país.
Dois fatores devem ser mencionados por sua contribuição
para o aumento da renda e a
melhoria de sua distribuição
nos últimos anos. O primeiro é
a ampliação do programa Bolsa
Família, que, ao incorporar
mais de 11 milhões de famílias
nos últimos anos, transferiu
renda diretamente nas mãos
dos mais pobres, com resultados significativos sobre a redução da pobreza e a melhoria da
distribuição de renda. Ocorre
que sua ampliação em termos
de inclusão de novas famílias
pobres está se encerrando. Portanto, no futuro, seus efeitos
sobre a redução da pobreza e da
desigualdade vão depender de
um aumento do valor dos benefícios, à medida em que não há
muito mais famílias pobres a
serem absorvidas no programa.
Salário mínimo
O segundo elemento é o salário mínimo, que atua tanto na
base da pirâmide de rendimento do mercado de trabalho,
quanto no piso da Previdência
Social e no benefício de prestação continuada (no valor de um
salário mensal transferido a
cerca de 3 milhões de idosos e
deficientes pobres).
Nos últimos anos, o salário
mínimo vem passando por um
intenso processo de recuperação, beneficiando milhões de
pessoas no país. Tendo em vista
a regra atual de reajuste do mínimo, seu potencial para redução da pobreza e melhoria da
distribuição de renda permanece em vigor.
Os dados agora divulgados da
Pnad são de setembro de 2008,
quando a crise internacional
chegava ao país. Estamos em
setembro de 2009, quando o
IBGE realiza nova Pnad. Fica
aqui a curiosidade para ver, daqui a um ano, por ocasião da divulgação da nova Pnad, como o
país enfrentou os 12 meses iniciais da crise que assombrou o
mundo.
JOÃO SABOIA é diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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