São Paulo, sábado, 19 de setembro de 2009

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Com renda alta, Distrito Federal é o lugar mais desigual do país

EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de Brasília ser a cidade de maior renda per capita do Brasil, o Distrito Federal ostenta o título de lugar mais desigual do país, quando se levam em conta todas as fontes de rendimento da população em idade ativa, e não apenas a renda do trabalho, segundo dados da Pnad. Os altos salários pagos aos ocupantes de cargos administrativos contrastam com o aumento dos bairros pobres em torno do centro do poder.
Segundo a pesquisa do IBGE, a renda média por indivíduo no Distrito Federal chega a R$ 2.117, mais que o dobro da média do país, que não passa de R$ 1.036. Na conta brasiliense, pesa a remuneração do funcionalismo e de profissionais que prestam serviços ao governo.
A capital registra o maior índice de Gini, que mede a desigualdade. Em uma escala de zero a um ponto, na qual valores mais altos refletem maiores discrepâncias sociais, Brasília obteve 0,618 ponto em 2008. A média nacional ficou em 0,530.
"Tradicionalmente a desigualdade no Centro-Oeste é superior à nacional, sobretudo pela situação do Distrito Federal. Mesmo se tratando de uma minoria com altos salários, o intervalo para os menores valores é tão alto que faz diferença no índice", afirma a analista do IBGE Adriana Beringuy.
Enquanto a taxa nacional de desocupação é de 7,1%, na capital federal o índice é de 11,15%, o segundo maior do país, atrás do Amapá, com 14,9%. A taxa que considera só as pessoas desempregadas em busca de trabalho é alta no Distrito Federal pela grande perspectiva de inserção no mercado. "A Pnad mostra que, diferentemente de outras regiões, em Brasília as pessoas estão tomando providências para conseguir emprego, seja distribuindo currículos, seja prestando concursos", diz a analista do IBGE.
Para o sociólogo Vicente Faleiros, professor da UnB, a sede da República retrata as relações entre ricos e pobres no país. Para além da questão econômica, também entra em cena o problema da violência, diz.
"A migração para as periferias da áreas que concentram maior renda se justifica pela teia de serviços que uma população presta à outra. Estando próximas fisicamente, a distância social fica ainda mais evidente", afirma Faleiros.
O jardineiro Jurandir de Oliveira, 42, mora há 17 anos no Varjão, um dos bairros mais pobres de Brasília. Nesse tempo sempre trabalhou a poucos metros de casa, no Lago Norte, área nobre da cidade.
"Já fui discriminado por ser morador da favela, mas hoje todos aqui me conhecem e até contratam pessoas lá de baixo por indicação minha", diz.
Segundo ele, a violência no Varjão é alta e ultrapassa a fronteira entre os dois bairros. "Geralmente os assaltantes procuram regiões mais afastadas para despistar a polícia."
A funcionária aposentada do Banco do Brasil Telma Rosa, 59, prefere empregar trabalhadores do Varjão, que podem ir a pé ou de bicicleta para o serviço. Apesar de a maioria das casas da rua já ter sido assaltada, ela diz não se sentir ameaçada. "Sei que são fatos isolados."


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