|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Com renda alta, Distrito Federal é o lugar mais desigual do país
EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de Brasília ser a cidade de maior renda per capita do
Brasil, o Distrito Federal ostenta o título de lugar mais desigual do país, quando se levam
em conta todas as fontes de
rendimento da população em
idade ativa, e não apenas a renda do trabalho, segundo dados
da Pnad. Os altos salários pagos
aos ocupantes de cargos administrativos contrastam com o
aumento dos bairros pobres em
torno do centro do poder.
Segundo a pesquisa do IBGE,
a renda média por indivíduo no
Distrito Federal chega a
R$ 2.117, mais que o dobro da
média do país, que não passa de
R$ 1.036. Na conta brasiliense,
pesa a remuneração do funcionalismo e de profissionais que
prestam serviços ao governo.
A capital registra o maior índice de Gini, que mede a desigualdade. Em uma escala de zero a um ponto, na qual valores
mais altos refletem maiores
discrepâncias sociais, Brasília
obteve 0,618 ponto em 2008. A
média nacional ficou em 0,530.
"Tradicionalmente a desigualdade no Centro-Oeste é superior à nacional, sobretudo
pela situação do Distrito Federal. Mesmo se tratando de uma
minoria com altos salários, o
intervalo para os menores valores é tão alto que faz diferença
no índice", afirma a analista do
IBGE Adriana Beringuy.
Enquanto a taxa nacional de
desocupação é de 7,1%, na capital federal o índice é de 11,15%,
o segundo maior do país, atrás
do Amapá, com 14,9%. A taxa
que considera só as pessoas desempregadas em busca de trabalho é alta no Distrito Federal
pela grande perspectiva de inserção no mercado. "A Pnad
mostra que, diferentemente de
outras regiões, em Brasília as
pessoas estão tomando providências para conseguir emprego, seja distribuindo currículos,
seja prestando concursos", diz
a analista do IBGE.
Para o sociólogo Vicente Faleiros, professor da UnB, a sede
da República retrata as relações entre ricos e pobres no
país. Para além da questão econômica, também entra em cena
o problema da violência, diz.
"A migração para as periferias da áreas que concentram
maior renda se justifica pela
teia de serviços que uma população presta à outra. Estando
próximas fisicamente, a distância social fica ainda mais evidente", afirma Faleiros.
O jardineiro Jurandir de Oliveira, 42, mora há 17 anos no
Varjão, um dos bairros mais pobres de Brasília. Nesse tempo
sempre trabalhou a poucos metros de casa, no Lago Norte,
área nobre da cidade.
"Já fui discriminado por ser
morador da favela, mas hoje todos aqui me conhecem e até
contratam pessoas lá de baixo
por indicação minha", diz.
Segundo ele, a violência no
Varjão é alta e ultrapassa a
fronteira entre os dois bairros.
"Geralmente os assaltantes
procuram regiões mais afastadas para despistar a polícia."
A funcionária aposentada do
Banco do Brasil Telma Rosa,
59, prefere empregar trabalhadores do Varjão, que podem ir a
pé ou de bicicleta para o serviço. Apesar de a maioria das casas da rua já ter sido assaltada,
ela diz não se sentir ameaçada.
"Sei que são fatos isolados."
Texto Anterior: Análise: Desníveis regionais marcam pesquisa Próximo Texto: Retrato do Brasil: Taxa de analfabetismo recua pouco no país Índice
|