São Paulo, sábado, 19 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Analfabetismo funcional pode ser conceito traiçoeiro

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Embora muitos educadores prefiram trabalhar hoje com a noção de analfabetismo funcional, em vez do mais academicista analfabetismo absoluto, o conceito pode ser traiçoeiro, em especial se utilizado em comparações internacionais.
Depois de 20 anos de ásperos debates ideológicos, a Unesco decidiu em 1978 reformular sua definição, passando a considerar funcionalmente alfabetizado o indivíduo inserido de forma adequada em seu meio e que é capaz de desempenhar tarefas em que a leitura, a escrita e o cálculo são usados para o seu próprio desenvolvimento e o de sua comunidade.
No papel faz sentido, mas, como o leitor já deve ter antevisto, medir esse tipo de coisa em censos não é trivial. A "solução" encontrada foi utilizar substitutos mais objetivos, como os anos de instrução formal.
O problema é que, como a definição pressupõe a boa integração da pessoa a seu meio e esta varia de acordo com nacionalidade, classe social etc., não se estabeleceu nenhum critério uniforme. Enquanto o IBGE considera analfabetos funcionais os brasileiros maiores de 15 anos com menos de quatro anos de estudo, o Canadá exige nove anos de escolaridade.
Nos EUA, o Departamento de Educação desenvolveu um método mais preciso. Ele criou um teste que mensura a capacidade de compreensão do indivíduo em três níveis -textos em prosa, documentos (mapas, tabelas) e cálculos- e o submete a amostras representativas da população. Por esse sistema, os índices de analfabetismo funcional dos EUA para 2003 são 14% (prosa), 12% (documentos) e 22% (cálculo).
Assim, embora os 21% de analfabetos funcionais registrados no Brasil não pareçam um escândalo diante dos números dos EUA -nação bem mais rica e educada-, é preciso ter em mente que estamos comparando coisas bem diferentes. Pelos critérios norte-americanos, só 13% da população é proficiente nas três áreas.


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