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RETRATO DO BRASIL
Depois da crise, renda e emprego voltam a ter recuperação
É o que mostram índices menos abrangentes, porém mais atualizados em relação à Pnad, que trabalhou dados de 2008
Desemprego passa de 9% em março para 8% em julho, quase o mesmo patamar de antes da crise; taxa é menor que a de outros países
DA SUCURSAL DO RIO
Desde setembro de 2008,
mês de referência da Pnad, outros indicadores menos abrangentes, porém mais atualizados, demonstram que o país registrou uma piora em indicadores de renda e emprego, mas já
conseguiu, em algumas áreas,
recuperar ou se aproximar do
patamar pré-crise.
A Pesquisa Mensal de Emprego, por exemplo, que abrange somente as seis principais
regiões metropolitanas do país,
mostra que o desemprego, que
havia chegado a 9% em março
deste ano, caiu em julho para
8%, praticamente o mesmo patamar registrado antes da crise,
em julho de 2008 (8,1%).
Movimento semelhante
ocorreu com o emprego formal,
segundo dados divulgados pelo
Ministério do Trabalho. Houve
corte de vagas no ápice da crise,
mas a recuperação em agosto
"zerou" as perdas.
O presidente IBGE, Eduardo
Pereira Nunes, comparou a variação do desemprego no Brasil
com a da Espanha e a dos EUA.
No caso da Espanha, no segundo trimestre deste ano foi
registrado um percentual de
17,9% de desempregados, número bastante superior aos
11,3% de 12 meses antes.
Nos Estados Unidos, país em
que a recessão global se iniciou,
Nunes destacou que houve aumento de 6,2% para 9,7% no
período de um ano durante a
crise. Na Argentina, a variação
foi de 7,8% para 8,8%.
Para a economista Lena Lavinas, da UFRJ, a tendência é
que o país volte a ter saldo positivo de novos empregos até o
fim do ano. Ela afirma que, como a Pnad é sempre realizada
em setembro, é provável que o
quadro que a pesquisa revelará
no ano que vem seja menos
dramático do que o que se verificou no início deste ano.
Lavinas destaca também que
a recuperação do emprego formal foi o principal destaque da
Pnad divulgada ontem.
"Esse crescimento da carteira assinada [de 7%] é muito importante. São empregos de qualidade, que colocam o trabalhador no campo dos direitos. E o
bom foi que o aumento da formalização ocorreu também entre os mais pobres. Foi por isso
que o mercado de trabalho foi o
principal responsável pela redução da pobreza", afirma.
Ruy Quintans, professor de
economia do Ibmec-RJ, faz leitura menos otimista do cenário
daqui para a frente. Para ele,
apesar da melhoria nos dados
mais recentes do PIB, ainda há
muito a ser recuperado.
"A grande questão é que esses indicadores refletem um
movimento de curto prazo. As
exportações ainda não estão
reagindo, a indústria ainda não
voltou a crescer o suficiente para recuperar as perdas, e não
percebo ainda nenhuma medida do governo suficiente para
retomar o crescimento a longo
prazo", diz Quintans.
Em sua avaliação, a estratégia do governo para enfrentar a
crise produz resultados de curto prazo com a diminuição da
taxa de juros, que já teria chegado ao limite, e o aumento dos
gastos públicos. "São medidas
suficientes apenas para frear a
recessão."
(ANTÔNIO GOIS)
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