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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Expansão financeira global está perdendo vigor
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
O presidente do banco central
dos EUA, Alan Greenspan, deu
novamente o alerta. A expansão
nas Bolsas não tem como prosseguir nesse ritmo. Na Alemanha, o
Bundesbank (banco central) imediatamente elevou as taxas de juros, sendo seguido no ato pelos
outros bancos centrais europeus.
O cenário internacional está mudando. Para emergentes em geral,
a hora é de alerta e cautela.
A advertência foi dada na última
sexta-feira, em seminário sobre
cenários para 1998 da Câmara
Americana de Comércio de São
Paulo. José Carlos Carvalho, economista do Banco Pactual, afirma
que os ventos estão mudando, ainda que de modo lento e gradual.
Elena Landau, ex-cabeça da privatização brasileira, fez outro lembrete incômodo no seminário.
Ela disse que é preciso temperar
o entusiasmo com a privatização
brasileira. Afinal, privatizações e
aquisições têm ocorrido alavancadas por empréstimos externos e alguns compradores têm pressa em
remeter lucros e dividendos.
Francisco Gros, ex-presidente do
BC, agora com o Morgan Stanley
em Nova York, pintou um quadro
róseo, mas no final acabou fazendo eco às advertências do Greenspan. E "tranquilizou" os presentes: se o caldo entornar, virá uma
recessão, não uma máxi.
O ING Barings acaba de publicar
em Londres o seu relatório "Global Economics", relativo ao quarto
trimestre de 1997, destacando a desaceleração no crescimento da liquidez financeira internacional.
A liquidez global cresce agora a
meros 5,4% (dado de agosto, contra o mesmo mês do ano passado).
Em janeiro, a taxa era de 12% e em
janeiro de 96 era de 15,6%.
A restrição monetária tem um lado bom. Se ela de fato impedir o
surgimento de pressões inflacionárias, o Fed (banco central dos
EUA) não precisará recorrer a altas fortes dos juros. Mas isso pode
ocorrer com valorização do dólar,
queda no preço das commodities
(que países como o Brasil exportam) e redução do crescimento.
Otimismo e cautela
O ING Barings é otimista e aposta nos efeitos benéficos da inflação
baixa com crescimento moderado.
Mas assume um tom cético quando fala do Brasil, onde "os riscos
são óbvios". Mas os fluxos de capitais externos devem bastar para segurar o real "até depois das eleições do ano que vem". A análise
fala ainda em "situação delicada"
nas contas externas e calcula um
atraso cambial no Brasil de 20%.
Ninguém acredita em crise. O
governo brasileiro pode subir os
juros, apertar o crédito, produzir
uma recessão, queimar reservas
antes que o câmbio saia do lugar.
Mas José Carlos Carvalho, do Pactual, lembra que o risco maior não
é de "ataque especulativo". O problema, diz, é que o Brasil tem hoje
uma necessidade de financiamento de US$ 60 bilhões ao ano. O risco não é só a reação dos especuladores, mas a dependência externa.
Mudanças nos juros, na liquidez
global ou na padrão de remessa de
lucros, fatos normais e recorrentes, seriam suficientes para provocar uma perda rápida de reservas.
Aliás, talvez seja ainda mais importante notar que nenhum desses
analistas torce contra a estabilização brasileira ou joga no time dos
catastrofistas. Tratam apenas de
observar pequenas mudanças no
cenário financeiro global que, como no caos matemático, podem
deflagrar grandes transformações.
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