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OPINIÃO ECONÔMICA
Flecha lançada
BENJAMIN STEINBRUCH
Diz um provérbio chinês que
três coisas jamais voltam: a
flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Não sei se é realmente chinês,
mas esse pensamento se aplica
perfeitamente ao Brasil dos últimos dez anos.
Foi um período em que a economia mundial correu a galope. Os
EUA viveram a exuberância irracional de que falou Alan Greenspan, a China queimou etapas em
seu avanço para a economia de
mercado, a Coréia do Sul e a Rússia se recuperaram de suas crises
financeiras, o México viveu uma
lua-de-mel com o mercado americano, por causa do Nafta, e até a
pacata Europa apresentou taxas
relativamente altas de crescimento econômico.
Enquanto isso, aqui no Brasil,
vivemos uma das piores décadas
do século 20 em matéria de desenvolvimento. O PIB (Produto Interno Bruto) cresceu apenas 2,4%
ao ano, em média, de 1994 a 2003,
e a renda per capita, insignificante 1% ao ano.
É possível que os historiadores
encontrem muitas razões para
explicar esse comportamento retraído da economia brasileira.
Mas certamente nenhum deixará
de incluir entre essas razões a timidez da política econômica, que
foi usada para promover a estabilidade de preços como se ela fosse
um fim, e não um meio.
O Brasil poderia ter navegado
no mesmo barco de China, México, Rússia e Coréia do Sul. Mas
não o fez por uma razão simples:
quem estava no poder assumiu
unicamente o discurso conservador da ortodoxia monetária e seguiu à risca receitas recessivas
voltadas para o controle fiscal.
Todos sabem que o espaço daqueles que pregavam uma política
desenvolvimentista foi se encurtando ano a ano no governo passado, até que praticamente todos
foram colocados para fora do poder, persistindo apenas os que rezavam pela bíblia do Consenso de
Washington.
Tudo isso parece conversa antiga. Cansamos de ler críticas semelhantes a essas ao governo Fernando Henrique Cardoso, que
adotou a cartilha neoliberal e repudiou idéias de intervenção na
economia para estimular investimentos. Mas a insistência se justifica porque o governo Lula corre o
risco de caminhar na mesma direção, ainda que o discurso seja
diferente.
A administração da economia
no governo Lula tem sido inegavelmente competente, elogiada
pelo mundo. Após o estouro da
bolha da economia mundial, em
2001, e do trauma eleitoral que espalhou desconfiança sobre o Brasil, em 2002, o país precisava dar
provas de seriedade e austeridade. Ocorre que, aos poucos, todas
as vozes do desenvolvimentismo
-e são muitas no governo Lula- foram sendo colocadas no
banco de reservas do time da economia.
Quem dá as cartas na política
econômica é a linha dura ortodoxa. Houve mudanças nos últimos
meses, quando começaram a
aparecer medidas para estimular
o crescimento da produção, como
a redução de alguns impostos.
Mas esses avanços se deram por
concessão dos duros, nunca por
proposição direta da ala desenvolvimentista, que tem espaço reduzido tanto para voz quanto para voto dentro da equipe econômica. Sugestões práticas para
acelerar o crescimento, como redução de juros, corte na TJLP
(Taxa de Juros de Longo Prazo) e
mudanças na meta de inflação e
superávit fiscal, são ignoradas solenemente pela ala dominante.
Não pode ser assim. A despeito
de problemas como a alta do petróleo, a economia mundial está
outra vez em crescimento, puxada pelos EUA e pela China. A economia brasileira também cresce
em ritmo razoável, o otimismo
voltou a dominar as opiniões e o
setor privado mostra disposição
de investir.
Sem que haja equilíbrio na escolha daqueles que têm voto e voz
no governo, corre-se o risco de que
tudo isso venha a se perder pela
mesma razão que se perdeu no
governo passado: excesso de conservadorismo.
Passadas as eleições, será hora
de esfriar a cabeça e retomar o
bom senso. Peças representativas
dos desenvolvimentistas precisam
voltar a ter espaço entre as que
realmente influem no jogo da
economia. Para que o país não
venha a perder, por conservadorismo ou inapetência, outra oportunidade de ouro de se firmar como nação séria e prospera.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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