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Governo quer que BC leve juro real a 5%
Meta seria para o final de 2007 em
eventual 2º mandato, chamado de "desenvolvimentista" na intimidade do Planalto
"Carta-branca" que Meirelles teria obtido por escrito de Palocci no atual mandato não se repetiria numa nova administração petista
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Se o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva for reeleito, como
indicam as pesquisas, buscará
forçar em seu segundo período
uma redução de juros muito
mais intensa do que a atual, de
forma a levá-los, ao final de
2007, ao civilizado patamar de
5% ao ano, em termos reais
(descontada a inflação), segundo a Folha apurou.
O juro nominal seria então
de cerca de 9% ao ano, já que a
previsão do mercado financeiro para a inflação de 2007 é de
4,2% e a meta oficial do Banco
Central é de 4,5%. Hoje, os cerca de 9% correspondem aos juros reais, já considerando a redução decidida ontem pelo
Banco Central. O juro nominal
foi para 13,75%.
Continuam sendo as maiores
taxas do mundo, à frente dos
6,2% da Turquia e dos 4,8% da
China, os países que vêm a seguir no ranking dos juros.
Esse nível de juros é tido, no
governo, como o único grande
obstáculo remanescente para o
"espetáculo do crescimento",
prometido pelo presidente Lula em maio de 2003 e que até
agora esteve longe de ser encenado. Se, de fato, tudo funcionar como pretende a equipe
econômica e os juros baixarem
para níveis "compatíveis com o
mundo", como disse o próprio
Lula na sabatina promovida
ontem pela Folha, o crescimento será de 5% ao ano em
cada um dos quatro anos do segundo mandato, segundo cálculos do governo.
Também haverá indução
maior ainda para um realinhamento do câmbio (mas, neste
caso, não há números disponíveis). O real sobrevalorizado
está prejudicando setores inteiros voltados para a exportação, o que se refletiu diretamente na votação de Lula no
primeiro turno: em regiões ou
mesmo Estados inteiros em
que há problemas relacionados
ao nível do câmbio, o candidato
oposicionista Geraldo Alckmin
superou Lula.
A segunda gestão Lula já está
sendo carimbada, na intimidade do Palácio do Planalto, como "desenvolvimentista", em
oposição ao excesso de ortodoxia que é atribuído ao ministro
da Fazenda anterior, Antonio
Palocci, que foi a principal figura do governo nos três primeiros anos de Lula-1.
O governo calcula que o rigor
ortodoxo causou perda de três
pontos percentuais no crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, medida da produção
econômica de um país) no período 2003/06.
BC independente
Foi tamanha a ortodoxia que
o próprio presidente demorou
muito tempo para descobrir
que Palocci havia dado independência não apenas informal
ao Banco Central. Autorizou o
presidente do BC, Henrique
Meirelles, a contratar seus auxiliares com uma cláusula de
independência por escrito.
Só quando Lula queixou-se
dos juros altos, depois da queda
de Palocci, é que Meirelles, para se justificar, contou dos contratos com cláusula de independência. Permitiam o que o
próprio governo agora considera um absurdo: os diretores do
BC sentiam-se tão independentes que não trocavam idéias
antes das reuniões do Comitê
de Política Monetária (Copom), o que define os juros. Cada um levava sua própria posição para o encontro formal.
A queixa que a Folha ouviu
no próprio governo é a de que
nem o Fed (banco central norte-americano), cuja independência está assentada na legislação, adota tal comportamento. A fixação dos juros passa,
sim, por conversas permeadas
pela argumentação técnica,
acima de tudo, mas também
por considerações de ordem
política, em especial as necessidades de crescimento econômico. Para garantir que o "espetáculo do crescimento" de
fato ocorra a partir do ano que
vem, o governo conta com a
mudança fundamental ocorrida no círculo mais íntimo do
presidente.
Harmonia
Agora, há harmonia plena,
segundo a Folha ouviu, entre
os ministros Tarso Genro (Relações Institucionais e, como
tal, responsável pela negociação política), Guido Mantega
(Fazenda, que passará a ter
mais ingerência no Banco Central) e Dilma Rousseff (Casa Civil, uma espécie de gerente ou
coordenadora administrativa).
Antes, José Dirceu (Casa Civil) e Palocci, na Fazenda, trocavam cotoveladas o tempo todo. Dirceu era um crítico da ortodoxia que Palocci defendeu
até ser defenestrado por envolvimento na violação do sigilo
bancário do caseiro Francenildo Costa. Mas era um crítico
pouco ativo porque Palocci era
ou pretendia ser o avalista do
próprio presidente ante o empresariado e os mercados financeiros.
A nova "troika" de comando,
ao contrário, é tida, toda ela,
como mais à esquerda, mais
próxima do que era o PT antes
de chegar ao governo. A diferença é que, antes, usava-se
muito o termo "socialistas",
agora trocado para "desenvolvimentistas".
O que não significa que o segundo período será marcado
por experiências ou "mágicas",
termo que Lula sempre usa para descartar alterações bruscas
de rumo.
Na visão governista, facilita o
trabalho harmônico o fato de
que, ao contrário de Palocci e
Dirceu, nem Tarso, nem Mantega, nem Dilma demonstram
pretensões presidenciais para
2010.
É verdade que Tarso Genro
chegou a ser indicado candidato presidencial do PT em 1997
(para a eleição de 1998), hipótese que naufragou rapidamente. É razoável supor que tenha
ambições, mas elas ficam aguadas pelas derrotas dele próprio
e do PT do Rio Grande do Sul,
Estado de Tarso (e também de
Dilma).
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