|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMÉRCIO
Medidas do governo para reduzir déficit provocam redução nas importações de produtos de valor mais baixo
Natal de 98 terá menos presente importado
ANA FLORENCE
da Reportagem Local
Neste ano, pela primeira vez desde a abertura comercial, no início
dos anos 90, o Natal não será dos
importados.
Pelo menos não será dos importados baratos, que rechearam as
prateleiras do comércio no final
dos anos anteriores.
Isso porque as recentes medidas
editadas pelo governo, para restringir as importações, irão inibir a
ação do importador de ocasião,
aquele comerciante que compra
em pequenas quantidades, devido
ao preço externo baixo e à grande
procura de final de ano.
Os grandes importadores, no entanto, anteciparam o embarque de
cerca de 80% das encomendas, já
prevendo mudanças na política de
comércio exterior.
A amarga experiência dos atrasos provocados pela greve dos fiscais aduaneiros, em agosto, ajudou
a acelerar o planejamento.
Desde o início do mês, o governo
ampliou a lista dos produtos que
terão de ter um registro prévio para importação.
Aproximadamente 80% das
compras externas de produtos
agropecuários, por exemplo, que
representam cerca de US$ 11 bilhões na pauta de importação, foram obrigados a ter licença prévia.
Antes, grande parte do processo
aduaneiro estava centrado na Receita Federal. Agora, uma extensa
lista de mercadorias deve chegar
previamente licenciada "on line"
pelo Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex).
A Receita só fiscalizará os aspectos fiscais, e o produto vai direto
para um estabelecimento credenciado pelo órgão responsável por
sua inspeção.
²
Critérios objetivos
A Folha apurou junto ao departamento de comércio exterior que
as mudanças tentam eliminar os
critérios de subjetividade do fiscal
aduaneiro.
"Se por um lado aumenta a burocracia, por outro beneficia o importador legal", acredita Ricardo
Clemer Alves, gerente de importação da PH Arcangeli, que traz da
Europa as marcas de perfumes e
cosméticos Givenchy, Chanel, Clarins, Bvlgari, Sônia Rykiel.
Os perfumes e cosméticos precisam de licenciamento prévio. A
PH Arcangely ,contudo, já recebeu
quase a totalidade de suas encomendas. Uma pequena quantidade chega no final deste mês.
Marcos Ruthemberg, sócio da
RR, também concorda que as importadoras de ocasião serão prejudicadas. A RR, que faturou no ano
passado US$ 17 milhões vendendo
marcas como Calvin Klein e Hugo
Boss, garantiu o embarque em setembro de 60% dos pedidos. O restante chega até novembro.
No caso dos vinhos, esqueçam as
marcas pouco conhecidas. Pelo
menos é o que garantem os maiores compradores.
"Vamos ter uma variedade menor de vinhos neste Natal. Mas são
os produtos baratos, importados
ocasionalmente, que vão ficar fora
das prateleiras", garante Fabrizio
Fasano, presidente da Associação
Brasileira de Bebidas (Abrabe).
A nova portaria do governo exige, até agora, duplicidade de controle dos ministérios da Agricultura e Saúde para as bebidas alcoólicas. Medidas que aumentam a burocracia e atrasam a importação de
última hora.
Alguns importadores de bebidas
prevêem, com a mudança, uma demora de até 20 dias na entrega dos
produtos, quando a média era de,
no máximo, uma semana.
A Bruck e a Maison Du Vin, por
exemplo, anteciparam o embarque de pedidos de Natal no mês
passado. O restante das encomendas será entregue no final deste
mês. "O que falta é só para a reposição e está para chegar", afirma o
diretor-superintendente da Bruck,
Osório Furlan Júnior.
A empresa é responsável pela importação de 45% dos vinhos italianos Bola e Corvo Du Cadi. Furlan
comprou 100 mil caixas dos dois tipos de vinho.
José Augusto de Castro, diretor
da AEB (Associação de Comércio
Exterior do Brasil) acredita que,
com as medidas impostas pelo governo, o déficit da balança comercial (saldo entre as exportações e
importações) deve ficar em aproximadamente US$ 5,2 bilhões neste ano.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|