São Paulo, segunda, 19 de outubro de 1998

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COMÉRCIO
Medidas do governo para reduzir déficit provocam redução nas importações de produtos de valor mais baixo
Natal de 98 terá menos presente importado

ANA FLORENCE
da Reportagem Local

Neste ano, pela primeira vez desde a abertura comercial, no início dos anos 90, o Natal não será dos importados.
Pelo menos não será dos importados baratos, que rechearam as prateleiras do comércio no final dos anos anteriores.
Isso porque as recentes medidas editadas pelo governo, para restringir as importações, irão inibir a ação do importador de ocasião, aquele comerciante que compra em pequenas quantidades, devido ao preço externo baixo e à grande procura de final de ano.
Os grandes importadores, no entanto, anteciparam o embarque de cerca de 80% das encomendas, já prevendo mudanças na política de comércio exterior.
A amarga experiência dos atrasos provocados pela greve dos fiscais aduaneiros, em agosto, ajudou a acelerar o planejamento.
Desde o início do mês, o governo ampliou a lista dos produtos que terão de ter um registro prévio para importação.
Aproximadamente 80% das compras externas de produtos agropecuários, por exemplo, que representam cerca de US$ 11 bilhões na pauta de importação, foram obrigados a ter licença prévia.
Antes, grande parte do processo aduaneiro estava centrado na Receita Federal. Agora, uma extensa lista de mercadorias deve chegar previamente licenciada "on line" pelo Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex).
A Receita só fiscalizará os aspectos fiscais, e o produto vai direto para um estabelecimento credenciado pelo órgão responsável por sua inspeção.
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Critérios objetivos A Folha apurou junto ao departamento de comércio exterior que as mudanças tentam eliminar os critérios de subjetividade do fiscal aduaneiro.
"Se por um lado aumenta a burocracia, por outro beneficia o importador legal", acredita Ricardo Clemer Alves, gerente de importação da PH Arcangeli, que traz da Europa as marcas de perfumes e cosméticos Givenchy, Chanel, Clarins, Bvlgari, Sônia Rykiel.
Os perfumes e cosméticos precisam de licenciamento prévio. A PH Arcangely ,contudo, já recebeu quase a totalidade de suas encomendas. Uma pequena quantidade chega no final deste mês.
Marcos Ruthemberg, sócio da RR, também concorda que as importadoras de ocasião serão prejudicadas. A RR, que faturou no ano passado US$ 17 milhões vendendo marcas como Calvin Klein e Hugo Boss, garantiu o embarque em setembro de 60% dos pedidos. O restante chega até novembro.
No caso dos vinhos, esqueçam as marcas pouco conhecidas. Pelo menos é o que garantem os maiores compradores.
"Vamos ter uma variedade menor de vinhos neste Natal. Mas são os produtos baratos, importados ocasionalmente, que vão ficar fora das prateleiras", garante Fabrizio Fasano, presidente da Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe).
A nova portaria do governo exige, até agora, duplicidade de controle dos ministérios da Agricultura e Saúde para as bebidas alcoólicas. Medidas que aumentam a burocracia e atrasam a importação de última hora.
Alguns importadores de bebidas prevêem, com a mudança, uma demora de até 20 dias na entrega dos produtos, quando a média era de, no máximo, uma semana.
A Bruck e a Maison Du Vin, por exemplo, anteciparam o embarque de pedidos de Natal no mês passado. O restante das encomendas será entregue no final deste mês. "O que falta é só para a reposição e está para chegar", afirma o diretor-superintendente da Bruck, Osório Furlan Júnior.
A empresa é responsável pela importação de 45% dos vinhos italianos Bola e Corvo Du Cadi. Furlan comprou 100 mil caixas dos dois tipos de vinho.
José Augusto de Castro, diretor da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) acredita que, com as medidas impostas pelo governo, o déficit da balança comercial (saldo entre as exportações e importações) deve ficar em aproximadamente US$ 5,2 bilhões neste ano.



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