São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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CONTAS EXTERNAS

Déficit em conta corrente deve cair de US$ 11 bi para US$ 8 bi

Brasil necessita menos de dinheiro do exterior, diz BC

Patricia Santos/Folha Imagem
Charles Blitzer, do FMI, ouve o discurso de Armínio Fraga, presidente do BC, ontem em Brasília


ÉRICA FRAGA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo brasileiro reviu estimativas e está mais otimista em relação ao desempenho das contas externas do país neste ano.
A projeção do Banco Central para o déficit em conta corrente (que contabiliza as transações do país com o exterior) caiu de US$ 11 bilhões para algo entre US$ 8 bilhões e US$ 9 bilhões em 2002.
Esse número representa déficit abaixo de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano, segundo o diretor de Política Econômica do BC, Ilan Goldfajn, que apresentou as projeções ontem durante seminário organizado pelo Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) e pelo Cemla (Centro de Estudos Monetários Latino-Americano).
De acordo com Goldfajn, até outubro passado o déficit das contas externas estava em US$ 7,4 bilhões. Isso significa que o déficit do mês passado foi de apenas US$ 100 milhões, já que o número acumulado até setembro era de US$ 7,3 bilhões.
"Está havendo um forte ajuste nas nossas contas externas. Estamos caminhando rapidamente para a estabilidade do déficit em conta corrente", disse Goldfajn.
O diretor do BC espera que o déficit em conta corrente, em relação ao PIB, seja ainda menor em 2003, quando deverá ficar próximo a 1%.
Segundo Goldfajn, o ajuste nas contas externas será obtido graças ao forte aumento do saldo da balança comercial, devido à depreciação do câmbio.
Ele citou também o fluxo de investimentos estrangeiros diretos, que, apesar da queda em relação a anos anteriores, também tem colaborado para o financiamento das contas externas.
Até outubro, o volume de investimentos estrangeiros para o país havia somado US$ 14 bilhões. A expectativa do BC é que esse número chegue a algo entre US$ 15 bilhões e US$ 16 bilhões neste ano.
Outro fator positivo citado pelo diretor do BC foi a queda na redução das linhas de financiamento externo para o país. A partir de outubro, segundo ele, a oferta dessas linhas deixou de cair e tem se mantido estável.
Para alguns economistas, no entanto, o ajuste que está acontecendo nas contas externas brasileiras reflete, na verdade, uma fraqueza da economia, que sofre forte restrição de acesso ao mercado internacional.
Segundo Rodrigo Azevedo, economista-chefe do banco CSFB Garantia, que também participou do seminário, o ajuste das contas externas do país parece refletir "mais um problema do que uma solução".
"O ajuste do setor externo não parece completo ainda", disse Azevedo. De acordo com o economista, o país precisa recuperar a credibilidade no mercado internacional e voltar a ter acesso a financiamento externo.
A fragilidade externa do Brasil também foi citada por Lisa Schineller, diretora da Standard & Poor's, como uma das razões para que a agência de classificação de risco mantenha a perspectiva negativa para a nota da dívida soberana do país, atualmente em B+. Segundo Schineller, o forte endividamento externo do setor privado brasileiro ainda é muito alto e preocupa.
Para Goldfajn, no entanto, as dívidas do setor privado são as que menos preocupam. Segundo ele, a forte transformação de dívidas em aumento de participação acionária, via investimento estrangeiro direto, é uma prova disso.


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