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AGROFOLHA
GRÃOS
Safra cresceria para pelo menos 160 milhões de toneladas em dez anos e fortaleceria a economia do oeste brasileiro
Saída para o Pacífico eleva safra em 60%
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O Brasil esteve voltado exclusivamente para o Atlântico nos últimos 500 anos. Uma saída para o
Pacífico deverá fortalecer a economia do oeste brasileiro e elevar
a safra nacional de grãos para pelo
menos 160 milhões de toneladas
em dez anos -volume 60% superior ao atual.
Os investimentos nesse projeto,
estimados em US$ 9 bilhões, viriam praticamente da iniciativa
privada, cabendo ao governo apenas 20% desse valor, que seria investido em infra-estrutura. É um
projeto viável e que depende apenas de vontade política.
Esse é o resultado de um estudo
da Bolsa de Mercadorias & Futuros feito em parceira com técnicos
da Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e da
Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O estudo foi apresentado como
uma das sugestões para o projeto
Fome Zero, do presidente eleito,
Luiz Inácio Lula de Silva.
Essa saída para o Pacífico traria
várias vantagens não só para para
o Brasil, mas também para os demais países latino-americanos. O
Brasil ganharia uma saída para a
Ásia e os vizinhos do oeste, uma
para o mercado brasileiro.
A saída combina perfeitamente
com uma nova concepção de eixos continentais de desenvolvimento, envolvendo grandes projetos de gasodutos, ferrovias, rodovias, novos portos e hidrovias.
Uma saída brasileira para o Pacífico incorporaria novos países
ao Mercosul, além de abrir o mercado brasileiro para a Ásia, região
que tem o maior crescimento no
consumo, principalmente de produtos agrícolas.
Última fronteira
Denominado Projeto Centro-Oeste, o estudo indica que a região -que inclui os Estados do
Acre, Rondônia, Tocantins, Pará,
Maranhão e Mato Grosso- passaria por um rápido desenvolvimento e com equilíbrio ambiental, pois seriam ocupadas apenas
as áreas já desmatadas.
São várias opções de saída para
o Pacífico. O estudo lista pelo menos dez, mas uma das mais viáveis
é a Santos-Arica. Esse caminho
passa pelo Sudeste e Centro-Oeste
brasileiros, território boliviano e
atinge o norte do Chile, somando
3.577 quilômetros.
Segundo a BM&F, o Brasil é a
última fronteira agrícola significativa em expansão no mundo. O
país conta com recursos hídricos
para aumentar a produção mundial de grãos, de madeira e de produtos do agronegócio no oeste.
A conquista do oeste significará
uma forte integração dos países
da América do Sul, especialmente
Peru, Bolívia e Chile, diz o estudo.
Esse corredor para o Pacífico é
importante, ainda, para aumentar
a competitividade dos produtos
brasileiros na Ásia e no Oriente,
onde se encontram 70% da população mundial.
A BM&F acredita, ainda, que a
conquista do oeste gerará um
crescimento econômico na região
que atrairá novos trabalhadores,
eliminando focos de tensão. A população rural da região poderá
passar dos atuais 6,6 milhões de
pessoas para 7,5 milhões, com
crescimento de 14%.
Acrescida a esse número a evolução normal do crescimento demográfico rural, a população chegaria a 10,2 milhões de pessoas em
dez anos. A produção de grãos
saltaria para 43 milhões de toneladas, três vezes mais que a atual.
O Brasil ficou 500 anos agarrado
à costa do Atlântico. Pelo menos
80% da população do país vive em
cidades a menos de mil quilômetros da costa e 82% do PIB (Produto Interno Bruto) é gerado nas
regiões Sul, Sudeste e Nordeste.
O oeste é uma área capaz de auxiliar nas reduções do inchaço dos
atuais centros urbanos e das tensões populacionais, gerando emprego e renda. A ocupação do solo geraria, em poucos anos, um
direcionamento da região para
atividades mais dinâmicas, com
uma multiplicação dos investimentos, diz o estudo.
Uma saída para o Pacífico geraria 187 mil empregos diretos na
agricultura, com desdobramento
para um total de 747 mil postos de
trabalho, considerando a indústria e os serviços. Só a demanda de
energia elétrica saltaria dos atuais
5.155 MW para 11.955 MW no período de dez anos.
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