UOL


São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RECEITA ORTODOXA

IGP-M mantém-se estável; empresários e até o mercado pedem mais agressividade hoje no corte da taxa

Com inflação sob controle, Copom decide juro

DA REPORTAGEM LOCAL

O Copom (Comitê de Política Monetária) decide hoje a trajetória dos juros básicos da economia pelos próximos 30 dias após mais um sinal de controle da inflação: o IGP-M (Índice de Preços do Mercado) variou 0,38% na segunda prévia de novembro, contra 0,37% do mesmo período em outubro, segundo divulgou ontem a Fundação Getúlio Vargas.
A sinalização, pelos índices, de que a inflação permanece sob controle é um dos argumentos para que representantes do setor produtivo e uma parcela dos economistas defendam um corte de até dois pontos nos juros, embora a maioria acredite em que o Banco Central vá reduzi-los em um ponto percentual.
José Augusto Marques, presidente da Abdib, associação da indústria de infra-estrutura e indústria de base, diz que há clima para reduzir os juros em dois pontos percentuais. "Mas, levando em conta o conservadorismo do BC, acho que vai cair só um ponto."
O diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, é incisivo: diz que a taxa básica de juros (Selic) já poderia estar em 15% ao ano. A taxa de juros hoje é hoje de 19%. O economista não poupa críticas à conduta do BC.
"O Banco Central não tem compromisso com o setor produtivo, olha apenas para o mercado, que exagera em suas previsões. O mercado apostava que o IPCA de outubro subiria entre 0,5% e 0,6%. A alta foi de 0,3%", disse.
Segundo Almeida, o BC deveria optar hoje por cortar os juros em quatro pontos percentuais. "Abaixo disso é um custo desnecessário para o setor produtivo, uma coleira para a indústria."
De acordo com Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), "a redução ideal e possível seria de cinco pontos".
"Mas, se prevalecerem as práticas dos últimos meses, a queda será de um ponto percentual, o que mostra um Banco Central medroso e pautado pela ditadura dos agentes financeiros", disse.
Roberto Chadad, presidente da Abravest (Associação Brasileira do Vestuário), argumenta que o governo tem espaço para reduzir acima de dois pontos percentuais os juros porque "a inflação está morta, e o consumo, retraído".
Na análise de Fábio Silveira, economista da F Silveira Consultoria, o conservadorismo do BC é excessivo. "Não há mais pressão inflacionária por causa da taxa de câmbio e não há sinais de que essa taxa tenha aumento substancial no médio prazo. A redução mais intensa dos juros seria uma oportunidade para retomar o nível de atividade da economia", afirma.

Voz do mercado
Até no mercado financeiro, normalmente mais conservador, alguns analistas acham que o BC poderia ser mais agressivo. Alan Gandelman, sócio da corretora Ágora Sênior, por exemplo, diz que o Copom poderia fazer um corte de até 1,5 ponto percentual. No entanto, como a maior parte dos especialistas, Gandelman aposta que o BC manterá a cautela -para o economista, a redução não ultrapassará 0,5 ponto.
"O BC tem sido conservador durante todo o ano. Não acredito que ele vá ser mais agressivo agora e correr o risco de enfrentar um repique inflacionário por conta do reaquecimento da demanda esperada para este fim de ano", diz Gandelman.
Alexandre Maia, economista-chefe da Gap Asset Management, aposta em corte de um ponto. Mas, diferentemente de membros do setor produtivo, sustenta que essa seria a decisão correta agora: "O corte de 7,5 pontos na taxa Selic desde junho, os efeitos defasados da política monetária e os sinais mais positivos da atividade econômica recomendam a manutenção do gradualismo na condução da política monetária".
Jorge Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management), diz que seria "imprudência cortar mais do que um ponto percentual". O efeito desse corte ocorrerá lá na frente, somando-se aos anteriores quando a economia estará mais aquecida.
Eduardo Rezende, da Mellon Global Investments, também defende o corte de um ponto, pois "o dólar está tranquilo e não é ameaça para os preços. E as projeções de inflação têm declinado".


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Opinião econômica: Brasil e China em rota de colisão?
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.