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RECEITA ORTODOXA
IGP-M mantém-se estável; empresários e até o mercado pedem mais agressividade hoje no corte da taxa
Com inflação sob controle, Copom decide juro
DA REPORTAGEM LOCAL
O Copom (Comitê de Política
Monetária) decide hoje a trajetória dos juros básicos da economia
pelos próximos 30 dias após mais
um sinal de controle da inflação: o
IGP-M (Índice de Preços do Mercado) variou 0,38% na segunda
prévia de novembro, contra
0,37% do mesmo período em outubro, segundo divulgou ontem a
Fundação Getúlio Vargas.
A sinalização, pelos índices, de
que a inflação permanece sob
controle é um dos argumentos
para que representantes do setor
produtivo e uma parcela dos economistas defendam um corte de
até dois pontos nos juros, embora
a maioria acredite em que o Banco Central vá reduzi-los em um
ponto percentual.
José Augusto Marques, presidente da Abdib, associação da indústria de infra-estrutura e indústria de base, diz que há clima para
reduzir os juros em dois pontos
percentuais. "Mas, levando em
conta o conservadorismo do BC,
acho que vai cair só um ponto."
O diretor-executivo do Iedi
(Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Júlio
Sérgio Gomes de Almeida, é incisivo: diz que a taxa básica de juros
(Selic) já poderia estar em 15% ao
ano. A taxa de juros hoje é hoje de
19%. O economista não poupa
críticas à conduta do BC.
"O Banco Central não tem compromisso com o setor produtivo,
olha apenas para o mercado, que
exagera em suas previsões. O
mercado apostava que o IPCA de
outubro subiria entre 0,5% e
0,6%. A alta foi de 0,3%", disse.
Segundo Almeida, o BC deveria
optar hoje por cortar os juros em
quatro pontos percentuais.
"Abaixo disso é um custo desnecessário para o setor produtivo,
uma coleira para a indústria."
De acordo com Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Abimaq
(Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), "a redução ideal e possível
seria de cinco pontos".
"Mas, se prevalecerem as práticas dos últimos meses, a queda será de um ponto percentual, o que
mostra um Banco Central medroso e pautado pela ditadura dos
agentes financeiros", disse.
Roberto Chadad, presidente da
Abravest (Associação Brasileira
do Vestuário), argumenta que o
governo tem espaço para reduzir
acima de dois pontos percentuais
os juros porque "a inflação está
morta, e o consumo, retraído".
Na análise de Fábio Silveira,
economista da F Silveira Consultoria, o conservadorismo do BC é
excessivo. "Não há mais pressão
inflacionária por causa da taxa de
câmbio e não há sinais de que essa
taxa tenha aumento substancial
no médio prazo. A redução mais
intensa dos juros seria uma oportunidade para retomar o nível de
atividade da economia", afirma.
Voz do mercado
Até no mercado financeiro, normalmente mais conservador, alguns analistas acham que o BC
poderia ser mais agressivo. Alan
Gandelman, sócio da corretora
Ágora Sênior, por exemplo, diz
que o Copom poderia fazer um
corte de até 1,5 ponto percentual.
No entanto, como a maior parte
dos especialistas, Gandelman
aposta que o BC manterá a cautela
-para o economista, a redução
não ultrapassará 0,5 ponto.
"O BC tem sido conservador
durante todo o ano. Não acredito
que ele vá ser mais agressivo agora e correr o risco de enfrentar um
repique inflacionário por conta
do reaquecimento da demanda
esperada para este fim de ano",
diz Gandelman.
Alexandre Maia, economista-chefe da Gap Asset Management,
aposta em corte de um ponto.
Mas, diferentemente de membros
do setor produtivo, sustenta que
essa seria a decisão correta agora:
"O corte de 7,5 pontos na taxa Selic desde junho, os efeitos defasados da política monetária e os sinais mais positivos da atividade
econômica recomendam a manutenção do gradualismo na condução da política monetária".
Jorge Simino, diretor da UAM
(Unibanco Asset Management),
diz que seria "imprudência cortar
mais do que um ponto percentual". O efeito desse corte ocorrerá lá na frente, somando-se aos
anteriores quando a economia estará mais aquecida.
Eduardo Rezende, da Mellon
Global Investments, também defende o corte de um ponto, pois
"o dólar está tranquilo e não é
ameaça para os preços. E as projeções de inflação têm declinado".
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