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LUÍS NASSIF
A agonia do modelo
Na coluna de ontem afirmei que o período atual é
semelhante ao da agonia do
modelo nacional-desenvolvimentista.
A crise do modelo anterior começou em 1974, com a primeira
crise do petróleo. A sobrevida
foi assegurada no governo Geisel pelo aumento exponencial
do endividamento interno e externo e um pacto com o poder
econômico hegemônico de então, as lideranças industriais
paulistas, organizadas em torno da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Como não havia plano de
vôo, foram sendo criadas disfunções de toda espécie: superinvestimentos do BNDES, fechamento de mercado, nacionalização dirigida de empresas
multinacionais. As doenças do
organismo econômico se manifestavam na perda de competitividade, na inflação e no aumento progressivo das dívidas
interna e externa. Esse nó górdio só foi rompido no governo
Collor, depois de o país ter perdido dez anos sem rumo.
No rastro da crise dos anos 80
consolida-se a nova elite econômica do país. Saem os industriais da Fiesp e entram os novos capitalistas, os bancos de investimento que fazem fortuna
no período especulando na Bolsa ou trabalhando com informações privilegiadas do Banco
Central.
No início dos anos 90 os interesses dos novos capitalistas estavam suficientemente consolidados para que assumissem papel privilegiado no processo de
privatização de Collor.
Mesmo com essas concessões,
o primeiro governo Collor tinha
equipe capenga, mas visão estratégica afiada, combinando
redução da dívida interna (por
meio do "confisco"), abertura
gradual da economia e início
dos programas de qualidade.
Esse modelo resultou na crise
política que culminou com a
entrada de Marcílio Marques
Moreira no Ministério da Fazenda. É ele quem dá início ao
novo ciclo, focado exclusivamente em fatores macroeconômicos, com ênfase na liberação
dos capitais e na melhoria dos
fundamentos fiscais.
Politicamente, o modelo conseguiu se consolidar juntando
duas pontas: o setor financeiro e
os grandes grupos nacionais
-incluindo a mídia-, com
acesso ao crédito em dólares. A
disfuncionalidade apareceu logo, agravada pelos erros do
câmbio no Plano Real -que
aprofundou de maneira temerária o modelo. Produziu rapidamente uma dívida interna
gigantesca e uma vulnerabilidade externa que explodiu em
1999, provocando gigantescos
prejuízos nos grupos que se endividaram em dólar.
Hoje em dia, o modelo se tornou disfuncional. Só interessa
aos grupos especuladores. É só
analisar a progressão da dívida
pública, a situação dos Estados
e municípios, a estrutura de juros e de tributos, a crise das pequenas, médias e grandes empresas. Não há mais espaço para aumento de tributação nem
para manutenção do nível
atual de juros.
Resta saber se o governo Lula
conseguirá romper o imobilismo e começar a pensar na transição controlada para o novo
modelo ou se as mudanças se
darão mais uma vez por meio
da crise.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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