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São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 2003

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TRABALHO

Grupo tem maior taxa de desemprego, ocupa posição desvalorizada e ganha menos, aponta pesquisa do Dieese

Mulher negra tem pior situação no mercado de trabalho

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A mulher negra é quem mais sofre no mercado de trabalho. A taxa de desemprego no grupo é maior, e elas ficam mais tempo desocupadas. Quando conseguem entrar no mercado de trabalho, ocupam as posições mais desvalorizadas e ganham os piores salários.
Os resultados fazem parte da pesquisa "Mulher negra: dupla discriminação nos mercados de trabalho metropolitanos", divulgada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Ecônomicos).
O estudo levou em conta dados de 2001 e 2002 das pesquisas mensais de emprego do Dieese em seis regiões metropolitanas do país: Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Distrito Federal, Recife (PE), Salvador (BA) e São Paulo. O levantamento foi divulgado às vésperas do Dia da Consciência Negra, comemorado amanhã.
A pior taxa de desemprego foi em Salvador, onde chegou a 31,3% entre as mulheres negras, enquanto entre as não-negras foi de 22,2%. Em São Paulo, a taxa foi de 26,2% entre as negras e de 18,8% entre as não-negras.
"Os dados de Salvador surpreendem porque lá a população negra é maior, portanto, era de esperar uma situação de menor desigualdade. Mas o que se verifica é justamente o contrário, o que torna ainda mais explícita a discriminação racial e a desigualdade social", diz Solange Sanchez, coordenadora da pesquisa.
As mulheres negras também são as que mais demoram para encontrar emprego: em São Paulo, enquanto os homens não-negros levam, em média, 12 semanas para procurar trabalho, as mulheres negras levam 14.
O estudo também mostra que a situação da mulher negra não é melhor quando consegue uma vaga no mercado. Na região metropolitana de São Paulo, 72% das mulheres que estão no mercado de trabalho estão no setor de serviços e de emprego doméstico. Enquanto 13% das mulheres não-negras trabalham como domésticas, 30% da negras estão na mesma ocupação. "Esse é mais um indicador da situação de desvantagem desse grupo", diz Sanchez.
Ao pesquisar como sobrevive a população desempregada, o levantamento revelou que as mulheres não-negras são as que mais dependem da ajuda de outras pessoas que trabalham na família. "Não havia nem dados estatísticos suficientes quando se considera a sobrevivência com dinheiro do FGTS ou com o seguro-desemprego. O que prova que a situação desse grupo é muito desfavorável e que ele está longe de ter pertencido ao mercado de trabalho formal", diz a coordenadora.
No grupo de mulheres negras também estão os piores salários. Na região metropolitana de São Paulo, o salário médio pago para esse grupo é de R$ 494, menor que os R$ 896 recebidos pelas não-negras e que os R$ 756 pagos aos homens negros. O objetivo da pesquisa, segundo a coordenadora do trabalho, é ajudar na definição de políticas públicas para tentar mudar essa situação.


Colaborou a Folha Online


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