São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 2008

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Lula e Serra devem selar hoje venda da Nossa Caixa ao BB

Com valor próximo de R$ 6,4 bi, negócio deverá ser anunciando até amanhã

Compra da Nossa Caixa ajuda o Banco do Brasil a recuperar terreno após perder liderança para fusão entre Itaú e Unibanco

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de São Paulo, José Serra, marcaram reunião hoje à tarde em Brasília para oficializar a compra da paulista Nossa Caixa pelo Banco do Brasil.
Como revelou a Folha, Serra e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, acertaram o valor do negócio em R$ 6,4 bilhões faz duas semanas. Esse valor estava sujeito a um ajuste até a conclusão oficial, porque envolve acertos de créditos e débitos do banco do Estado de São Paulo e também uma oferta a acionistas minoritários.
A operação interessa a Lula e a Serra, segundo um auxiliar direto do presidente. Lula reforçará o Banco do Brasil num momento de crise financeira internacional e numa hora em que a instituição perdeu a liderança no ranking nacional, devido à fusão entre o Itaú e o Unibanco. A forte presença da Nossa Caixa em São Paulo dará ainda mais cacife ao BB na principal praça do país.
O Banco do Brasil negocia ainda a compra do BRB (Banco Regional de Brasília). O BB também deverá comprar metade do banco Votorantim, que pertence à família Ermírio de Moraes. Se concretizar todos esses negócios, poderá voltar a ser a maior instituição financeira do país. A Nossa Caixa é o primeiro grande passo dessa estratégia.
Lula disse ontem que deseja que o BB volte a ser o maior banco do Brasil. A possibilidade de compra de bancos estaduais, sem licitação, foi incluída em medida provisória que permite ao BB e à Caixa Econômica Federal adquirem outras instituições financeiras.
Já o governador paulista ganhará bilhões para fazer investimentos nos seus dois últimos anos de governo. Serra deseja ser candidato à presidente da República em 2010 e disputa a candidatura do PSDB com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves.
Com a venda da Nossa Caixa, o governador paulista deve ganhar uma importante vitrine de obras, o que o ajudará em comparações com as realizações do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que deverão ser inauguradas por Lula a fim de turbinar politicamente a eventual candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
A negociação entre os governos federal e paulista foi conduzida pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) e Serra. Houve cuidado para evitar vazamentos que afetassem as ações dos dois bancos na Bovespa. O negócio deveria ter sido anunciado semana passada, mas, como Lula estava fora, em viagem, houve adiamento.
Para Mantega, será um gol político, porque essa possibilidade de negócio se arrastava desde a gestão de seu antecessor, o petista Antonio Palocci.
O Bradesco tentou impedir a operação entre o BB e a Nossa Caixa. No entanto, Mantega e Serra avaliaram que a transação entre os dois governos traria mais benefícios econômicos e políticos do que a venda da Nossa Caixa para o Bradesco.
Com a fusão entre Itaú e Unibanco, o Bradesco deixou de ser a maior instituição financeira privada do país e via na aquisição da Nossa Caixa uma das poucas possibilidades de ampliar o seu tamanho. Mas o BB não abriu espaço, e o negócio deverá ser anunciado entre hoje e amanhã.


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