São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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Lula não comenta mexida; Palocci declara que decisão foi "técnica"

ANDREA MICHAEL
GUSTAVO PATÚ

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Coerente com o discurso de que o Banco Central terá autonomia no governo Luiz Inácio Lula da Silva, o futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse que a elevação dos juros foi uma decisão técnica qualificada sobre a qual não faria comentários de natureza política.
"Os elementos que o Copom [Comitê de Política Monetária do BC" analisa são complexos. Não cabe análise política", disse Palocci. "Nós já dissemos que o ministério [da Fazenda" vai respeitar a autonomia do Copom para exercer suas funções." Já Lula, segundo seu porta-voz, preferiu não comentar a medida.
Desde o mês passado, quando se intensificaram os temores em relação a um descontrole da inflação, a cúpula do PT vem abandonando as tradicionais críticas à política de juros altos. Nos bastidores, o partido enviou sinais ao BC de que preferia ver eventuais medidas amargas, se inevitáveis, tomadas imediatamente.
No momento, a preocupação é convencer o mercado de que não haverá leniência no combate à inflação, ainda que seja preciso sacrificar o crescimento econômico em 2003. Anteontem, o futuro presidente do BC, Henrique Meirelles, anunciou que Lula trabalhará para conceder mandatos fixos aos dirigentes da instituição.
Segundo Palocci, projeto nesse sentido será encaminhado ao Congresso no próximo ano -antes, será preciso aprovar uma mudança, já em tramitação, do artigo 192 da Constituição, que trata do sistema financeiro.
Para o futuro ministro, a decisão não significa que o governo petista esteja abrindo mão de definir as linhas de atuação do BC. Lula, argumentou, definirá a política econômica a ser seguida. O BC terá autonomia para cumprir essa política.
Palocci disse não ver riscos de explosão da dívida pública com a alta dos juros: "A dívida está sob controle". Reconheceu, porém, o problema: "Todo remédio tem algum efeito colateral".
Segundo o governador do Acre, Jorge Viana (PT), o aumento na taxa de juros foi uma ""medida de transição, dura e drástica, para o quadro não se modificar". Quanto ao que fazer para viabilizar o crescimento econômico, essa seria, de maneira coerente, uma decisão para o novo governo.
"Nosso partido vai ter que reconstruir o processo de retomada do desenvolvimento econômico. Lamentavelmente, vai ter de ser um processo", declarou Viana.


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