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PAULADA NO DRAGÃO
Juros altos levam à espiral inflacionária, diz professor
Analista vê risco de efeito contrário
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O aumento da taxa básica de juro, aprovada ontem pelo Copom,
poderá funcionar como gasolina,
e não como água na fogueira da
inflação. Pior: somada à alta de
novembro -a Selic engordou sete pontos percentuais em apenas
dois meses-, o governo jogou a
economia numa espiral inflacionária. Essa é a opinião de Alberto
Borges Matias, professor de economia da USP de Ribeirão Preto.
Segundo ele, o objetivo da puxada na Selic foi manter alto o juro
real -descontada a inflação- e
preservar os ganhos dos bancos e
dos aplicadores. "A inflação alta
foi uma desculpa para justificar o
fim de festa dos ganhadores da
atual política econômica, que estão aproveitando ao máximo os
últimos momentos do modelo",
diz Matias.
Ao tentar manter o juro real alto, o governo acaba pressionando
o custo das empresas e realimentando a inflação. Isso porque as
empresas brasileiras são muito
dependentes de financiamento ao
capital de giro e 90% dos recursos
que captam são de curto prazo (30
a 60 dias). "O último aumento dos
juros já foi repassado para os preços", diz Matias.
Segundo ele, aumentos de juros
conseguem deter a inflação por
um curto período de tempo e se as
taxas são baixas. Além disso, o
breque dos juros só funciona se a
alta de preços estiver sendo puxada por um desequilíbrio entre
oferta e demanda, o que não é o
caso atual.
"A economia patina há três
anos; se houve algum aumento de
demanda nos últimos meses foi
em cima de uma base deprimida,
a de 2001", diz Fernando Coelho,
analista da ABM Consulting.
Segundo Matias, a inflação que
eclodiu neste ano foi provocada,
principalmente, por aumento de
custos: a disparada do câmbio encareceu as commodities, os componentes e os bens importados.
O impacto do câmbio acabou
repassado pelas empresas, aproveitando a leve retomada do consumo de bens duráveis, desde setembro. "A perda de rentabilidade real das aplicações levou o consumidor a trocar ativos financeiros por bens de consumo", afirma
o professor da USP.
Há, ainda, um componente monetário na inflação atual: o governo injetou R$ 7,3 bilhões em moeda no mercado entre janeiro e outubro, segundo dados do Banco
Central. "A emissão monetária
cresceu 22% no período", diz
Alan Marinovic, economista da
ABM Consulting.
Os analistas não sabem ao certo
o que determinou a expansão
monetária, mas suspeitam que foram as dificuldades na rolagem da
dívida pública que obrigaram o
governo a resgatar parte dos seus
títulos no mercado.
"O problema é que a monetização da dívida gerou uma expectativa de mais inflação, tanto que as
taxas de juros no mercado futuro
já sinalizam uma inflação de 30%
ao ano," acrescenta Matias.
Correlação
Um estudo da ABM Consulting
comparando a evolução da taxa
Selic com a inflação medida pelo
IGP-DI mostra que, durante o
Plano Real, juros básicos e inflação caminharam juntos, na mesma direção.
"De julho de 1994 a junho de
2002, se a Selic subia, a inflação
também subia numa correlação
positiva de 51%", explica Marinovic. Mesmo considerando uma
defasagem de um a seis meses entre a alta dos juros e a inflação, a
correlação continua positiva.
"Numa defasagem de seis meses
entre a alta de juro e a inflação, encontramos uma correlação positiva de 5%, ou seja, ambos continuaram andando na mesma direção", diz ele.
Segundo Marinovic, se fosse
verdadeira a tese do governo -
mais juros reduzem a inflação-,
a correlação entre os dois indicadores teria de ser negativa.
Para Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Amro Asset
Management, a escalada dos juros promovida pelo BC é "uma
necessidade para "desinflacionar"
a economia".
Segundo ele, o governo não tem
alternativa: está seguindo o paradigma mundial que se baseia no
tripé metas de inflação, câmbio livre e BC independente. Por esse
modelo, no primeiro momento a
alta dos juros conseguiria brecar a
economia para que ela volte a
crescer num segundo momento.
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