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Leme defende o aumento do superávit fiscal
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
A decisão do BC de elevar a taxa
básica de juros de 22% para 25%
ao ano pode deteriorar significativamente o perfil da dívida brasileira se o governo eleito não anunciar um forte aumento do superávit primário e mostrar disposição
real de fortalecer a política fiscal.
A opinião é de Paulo Leme, diretor de pesquisas de mercados
emergentes do banco Goldman
Sachs, em Nova York.
Leme disse ainda estar preocupado com sinais errados vindos
da Comissão de Orçamento do
Congresso. "Na terça, o relator do
Orçamento, senador Sérgio Machado, criou, de maneira mágica,
1,1% do PIB em receitas fictícias
para 2003. E, para piorar, propôs
gastá-las, em vez de poupá-las."
Folha - Por que o sr. não está inteiramente satisfeito com o aumento dos juros?
Paulo Leme - O que me preocupa
é a substância do problema. A taxa de juros é um instrumento da
política econômica insuficiente
para resolver objetivos múltiplos.
A abordagem mais saudável teria
sido um aumento de juros acompanhado por sinais de um aumento do superávit primário.
Folha - Por quê?
Leme - Porque isso debelaria
qualquer preocupação com relação ao impacto do aumento dos
juros no coeficiente dívida-PIB.
Essa é a principal preocupação
macroeconômica. Cabe ao Copom e à próxima administração
resolverem esse dilema, senão a
eficácia do aumento dos juros é limitada e continuaremos com dúvidas sobre a solvência fiscal.
Folha - Qual o impacto do aumento dos juros na relação dívida-PIB?
Leme - Cada elevação de 100
pontos-base (ou um ponto percentual) equivale a um aumento
de 0,2 ponto percentual no coeficiente dívida-PIB.
Folha - Qual seria o aumento do
superávit primário necessário para
compensar os efeitos da última elevação dos juros?
Leme - A conta mais importante
é outra. Considerando que houve
uma mudança permanente na taxa de câmbio, o número necessário para trazer a sustentabilidade
fiscal é 5% do PIB. Na verdade,
não se pode aumentar o superávit
primário toda vez que os juros sobem. Portanto, a decisão mais
adequada seria aumentar logo o
superávit para 5% e reavaliar mais
tarde.
Folha - Será necessário aumentar
os juros novamente?
Leme - Sim, mas o aumento exato depende do superávit fiscal que
se pretende fazer. Quanto maior
for o choque de credibilidade trazido pelo aumento do superávit
primário, menor vai ser a necessidade de um aumento de juros.
Folha - O sr. tem feito críticas à
discussão orçamentária no Congresso. Por quê?
Leme - Ontem, Sérgio Machado,
relator da comissão de orçamento, fez a seguinte mágica: aumentou a projeção da inflação e do deflator do PIB para o ano que vem
de um modo que criou, de maneira mágica, 1,1% do PIB de receitas.
A pior notícia, no entanto, é que
ele vai gastar esse dinheiro que
não existe. Ele poderia ao menos
dizer que irá "economizar" essas
receitas fictícias.
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