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LUÍS NASSIF
A indústria do bingo
É um despropósito essa discussão sobre a legalização
ou não dos bingos. Argumenta-se que foi a falta de regulamentação que produziu a disseminação de práticas condenáveis pelo setor e que regulamentá-lo ajudaria a trazer
mais impostos e emprego. É de
uma hipocrisia fantástica esse
álibi que está sendo armado,
de parte dos recursos dos bingos irem para o Fome Zero. Seria conveniente que José Graziano se pronunciasse energicamente contra essa exploração do movimento.
Há duas análises a serem feitas sobre os bingos: uma de ordem social e outra de ordem
econômica. A social, sob a ótica
da saúde pública. Os veículos
que estão defendendo a legalização da atividade deveriam
pesquisar as associações de
apoio a viciados em jogo, para
uma pálida avaliação do estrago produzido sobre milhares de
famílias.
A segunda análise, a econômica, é sobre os esquemas de
corrupção armados pelos bingos. Não se pode generalizar
que todo dono de bingo seja
contraventor. Mas existe uma
economia do crime óbvia em
torno dessa atividade. Legalizar o jogo poderia reduzir o
"custo" para o setor. Mas ajudaria apenas a dar mais musculatura para quem já atua na
zona cinzenta da ilegalidade.
Na região de São José dos
Campos (SP), o Ministério Público Estadual resolveu investigar a atuação dos bingos e dos
caça-níqueis. Foram denunciadas 25 pessoas corrompidas
pelo setor, 11 das quais policiais
civis (dentre eles, dois delegados, um assistente do delegado
seccional de polícia de São José
dos Campos), acusados pela
prática dos crimes de formação
de quadrilha e crimes contra a
administração pública (corrupção passiva, prevaricação
etc.); dois advogados e o restante formado por exploradores de caça-níqueis e bicheiros,
todos denunciados por corrupção ativa. Isso apenas em duas
cidades investigadas. Considerá-los pobres empresários incompreendidos, vítimas da falta de legalização da atividade,
é o mesmo que considerar Jack,
o Estripador, um cirurgião talentoso que apelou para práticas pouco ortodoxas por falta
de registro médico.
Além deles, houve indícios de
participação de outros 19 (dos
quais mais seis delegados, com
suspeita de envolvimento de
setores da cúpula da Polícia Civil da região). Meses atrás,
houve vazamento de informações sobre a investigação. Um
assistente do delegado-geral de
São Paulo comentou com ele
sobre um suposto "grampo"
que estaria ocorrendo. A própria cúpula da polícia disse que
o avisaria sobre as investigações. O Ministério Público requisitou inquérito policial contra o delegado-geral, mas o episódio interrompeu as investigações.
O advogado do esquema,
Waldir Sinigaglia, foi acusado
cinco vezes de corrupção ativa,
por corromper policiais da região. Ele mantém conexão com
pessoas da Câmara dos Deputados suspeitas de operações de
remessas de grandes valores ao
exterior. As denúncias também
estão sendo investigadas e envolvem dois altos funcionários
da Câmara.
As investigações estão sendo
conduzidas por procuradores
responsáveis, que evitaram vazar dados para não comprometer os trabalhos. Só que, com
o lobby montado pela indústria do bingo e dos caça-níqueis, é possível que a Câmara
permita a legalização de uma
atividade que deveria ser banida do país.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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