São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 2006

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Teste confirma falta de gás em termelétrica

Verificação realizada no final de outubro já havia indicado que usinas não teriam como gerar toda a energia prevista

Falta de energia pode afetar preço no curto prazo para grandes consumidores e elevar percepção de risco sobre "apagões" no futuro

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os testes realizados nas usinas termelétricas para avaliar a real capacidade de geração de energia indicam que deverá haver déficit de ao menos 2.600 MW médios no sistema. Os testes começaram segunda-feira passada e vão até sexta-feira.
Na média dos testes realizados entre o último dia 11 e domingo, 13 usinas foram acionadas para gerar 4.486 MW médios, mas, por falta de gás natural, só entregaram 1.987,4 MW médios -déficit de 2.858,6 MW médios, equivalente a 5,4% do consumo nacional.
A falta de energia nessas usinas tem dois impactos práticos. Um é o aumento do preço da energia no mercado de curto prazo, em que alguns grandes consumidores, como indústrias, compram a energia que sobra dos contratos de longo prazo feitos entre geradoras e distribuidoras. O outro impacto é na percepção do risco de falta de energia nos próximos anos. Com menos energia no sistema, o preço sobe e o risco no abastecimento aumenta.
No mercado, estima-se que o preço de curto prazo da energia possa chegar próximo a R$ 300 por MWh (megawatt-hora), o que seria um aumento de mais de 300% nos preços que vinham sendo praticados (aproximadamente R$ 70). Os novos preços podem tornar difícil para que indústrias que vinham aproveitando os preços baixos do mercado de curto prazo fechem contratos de compra de energia com custos que possam ser absorvidos.
Para os consumidores residenciais, no entanto, nada muda no médio prazo -eles compram energia de distribuidoras, que, por sua vez, têm contratos de longo prazo com geradoras. No longo prazo, entretanto, o custo da energia como um todo tende a aumentar, o que se refletirá nas tarifas cobradas pelas distribuidoras de energia.
Em relação ao risco, ainda não há percentual oficial divulgado pelo CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), órgão composto pelo Ministério de Minas e Energia, ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). O número final só será conhecido depois que os testes acabarem.
Projeções da consultoria PSR, no entanto, revelam que o risco de falta de energia na região Sudeste no próximo ano subiria de 2,5% para 9,8% com a retirada de 2.600 MW médios do sistema.
Em outubro, os testes das usinas termelétricas indicaram um déficit de 2.888 MW médios. No final de novembro, a Aneel decidiu que essas usinas só poderiam declarar a energia que pudessem efetivamente gerar. A decisão, com reflexos nos preços e no nível de risco, foi polêmica e o Ministério de Minas e Energia, por meio do CMSE, determinou as realização de novos testes.


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