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OPINIÃO ECONÔMICA
Brasil derruba teses sobre câmbio
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O artigo da semana passada
sobre a dolarização do Equador
suscitou reação do embaixador
equatoriano em Brasília. Em
carta publicada pela Folha de
S.Paulo, o diplomata reclamou
dos "adjetivos grosseiros" que
teria utilizado contra o presidente do seu país. Segundo ele,
recorri a termos "indignos de
um professor universitário", que
"não podem de maneira nenhuma ser usados para se referir ao
primeiro mandatário de um
país".
Compreendo a reação do embaixador, mas não é verdade
que tenha lançado adjetivos
grosseiros contra o presidente do
Equador. Recorri a palavras duras, mas um presidente da República pode, sim, ser alvo de
sarcasmo, ironia, críticas severas e até agressivas, especialmente quando coloca a sua sobrevivência política acima de
aspectos fundamentais da soberania do seu país.
Quanto à veemência da linguagem, lembro que nós, professores, também temos direito à
indignação. Mais do que isso,
como disse Keynes certa vez,
"words ought to be a little wild,
for they are the assault of
thought upon the unthinking"
("as palavras devem ser um
pouco selvagens, pois elas são a
investida do pensamento contra
os que não pensam").
Mas, enfim, não era do Equador ou da dolarização que pretendia falar hoje, e sim de um
assunto correlato. O Banco Central acaba de divulgar os resultados preliminares do balanço
de pagamentos do Brasil em
1999. Como não poderia deixar
de ser, a situação continua precária. Mas a melhora é nítida, e
se deve fundamentalmente à
desvalorização do real.
Tudo indica que a experiência
brasileira irá desmentir a suposição, propagada por muitos defensores da ancoragem cambial
ou da dolarização, de que a desvalorização da taxa de câmbio é
ineficaz como instrumento de
política econômica.
Até 1999, circulavam amplamente duas teses equivocadas
sobre câmbio. Alguns sustentavam, com generosa cobertura
da mídia, que era impossível
desvalorizar a taxa de câmbio
em termos reais. Uma desvalorização nominal mais acentuada,
diziam, provocaria uma explosão da inflação, impedindo o
pretendido ajuste do câmbio
real. Outros admitiam a possibilidade de uma desvalorização
real, mas asseguravam que ela
teria pouco ou nenhum efeito
sobre o balanço de pagamentos.
A primeira tese foi derrubada
já no final do primeiro semestre
de 1999, quando se percebeu que
o impacto inflacionário da desvalorização cambial seria muito
menor do que o esperado. A segunda tese foi sendo esvaziada
ao longo do segundo semestre, à
medida que foram aparecendo
os dados sobre o desempenho do
setor externo da economia brasileira.
A divulgação dos números
completos de 1999 coloca mais
um prego no caixão da tese da
ineficácia da desvalorização. O
espaço não permite comentar
essas estatísticas em detalhe, o
que seria, de qualquer maneira,
arriscar-se ao tédio do leitor.
Remeto os interessados à página
do Banco Central na Internet
(www.bcb.gov.br/htms/notecon.htm).
O indicador que talvez melhor
sintetize a evolução favorável
das contas externas é o valor em
dólares do déficit em conta corrente, que caiu 27% de 1998 para 1999. Essa redução, embora
ainda insuficiente, é bastante
significativa. Graças a ela, começou a diminuir o ritmo de
crescimento do passivo internacional do país e a nossa dependência em relação a capitais externos.
Evidentemente, ainda falta
muito para consolidar a posição
brasileira. Não seria de se esperar que conseguíssemos superar
em prazo curto as consequências adversas de anos e anos de
políticas macroeconômicas irresponsáveis.
Mas estamos começando a remover aquela que vinha sendo
uma das principais, senão a
principal, restrição à retomada
do crescimento econômico: o
crônico desequilíbrio externo
produzido pelo Plano Real.
Contrariando o que disseram e
ainda dizem os defensores da
subordinação monetária, comprova-se uma vez mais que a
autonomia cambial é um instrumento do qual o Brasil não
deve, de maneira alguma, abrir
mão.
Paulo Nogueira Batista Jr., 44, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas-SP, escreve às quintas-feiras nesta coluna.
E-mail: pnbjr@attglobal.net
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