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LEITE DERRAMADO
Medida visa ajudar produtores a esperarem melhor preço; dinheiro será liberado pelo Banco do Brasil
Setor leiteiro terá R$ 200 mi para estocagem
LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Agricultura
anunciou ontem a primeira medida de apoio ao setor leiteiro do
país, atingido pela crise da Parmalat. Serão liberados por meio do
Banco do Brasil R$ 200 milhões
para comercialização e estocagem
de leite e de derivados.
A medida é resultado de mais de
duas semanas de discussões em
Brasília. Uma comissão do Ministério da Agricultura havia solicitado R$ 500 milhões em financiamento para o setor e a compra de
2.000 toneladas de leite em pó.
Segundo Ivan Wedekin, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, o montante faz parte dos recursos do
banco destinados ao crédito rural.
O banco tem de investir 25%
dos depósitos a vista em financiamentos para a agricultura. Devido
a uma maior entrada de capital
em dezembro (R$ 12 bilhões), novos recursos poderão ser alocados
para esses empréstimos.
Todas as empresas do setor leiteiro poderão se beneficiar do crédito, mas será dada preferência às
cooperativas.
Metade dos recursos será liberada com juros de 8,75% ao ano, podendo ser financiado até 20% da
capacidade de estocagem da companhia. O restante será negociado
entre produtor e o banco.
Wedekin estima que os juros
devem oscilar entre 12% e 13% para essa parcela. Os empréstimos
serão de no máximo 180 dias.
"Isso dará maior flexibilidade
ao mercado de leite", afirma Wedekin.
Safra
O setor está em pico de safra.
Atualmente, 1,2 bilhão de litros de
leite da produção (o que corresponde a 9% do total) não estão
sendo absorvidos pelo mercado.
Com isso, 10% dos fornecedores
estão recebendo por seu produto
um valor abaixo do preço mínimo
de mercado (R$ 0,38).
Com a medida, poderá se estocar leite e vendê-lo no período de
entressafra, que começa em dois
meses.
A crise da Parmalat poderia
agravar ainda mais a situação do
setor, podendo causar um desabastecimento futuro no mercado
nacional segundo o ministério. O
ministro Roberto Rodrigues
(Agricultura) havia declarado
que, apesar de a empresa comprar
apenas 5% da produção brasileira, daria margem a alguns setores
da cadeia produtiva a aproveitar
situação e a pagar menos pela
mercadoria, causando a falência
do produtor.
A Parmalat, na última sexta-feira, segundo a sua assessoria de
imprensa, pagou R$ 25,4 milhões
que devia aos produtores de leite e
cooperativas que fornecem leite
para suas unidades em Itaperuna
(RJ), Rio Grande do Sul e Pernambuco.
Repercussões
"A medida beneficiará todos os
produtores, direta ou indiretamente", afirmou Márcio Lopes de
Freitas, presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). Para ele, a estocagem permitirá a manutenção dos preços e
a rentabilidade do produtor.
"Quando o produto é comprado por um valor baixo, somente
os atravessadores ganham mais,
pois não repassam esse preço para o consumidor final. Com essa
ferramenta, o produtor pode vender o seu leite no momento adequado e manter a sua rentabilidade", disse Lopes Freitas.
O Ministério da Agricultura
ainda estuda a compra de mil toneladas de leite em pó (no valor
de R$ 7 milhões) para o Programa
Fome Zero. Esse leite foi recebido
pelas cooperativas e empresas como pagamento das dívidas que a
Parmalat tinha com elas. Já no
BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) está sendo avaliada uma linha de financiamento para infra-estrutura do setor.
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