São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Medida visa ajudar produtores a esperarem melhor preço; dinheiro será liberado pelo Banco do Brasil

Setor leiteiro terá R$ 200 mi para estocagem

LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério da Agricultura anunciou ontem a primeira medida de apoio ao setor leiteiro do país, atingido pela crise da Parmalat. Serão liberados por meio do Banco do Brasil R$ 200 milhões para comercialização e estocagem de leite e de derivados.
A medida é resultado de mais de duas semanas de discussões em Brasília. Uma comissão do Ministério da Agricultura havia solicitado R$ 500 milhões em financiamento para o setor e a compra de 2.000 toneladas de leite em pó.
Segundo Ivan Wedekin, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, o montante faz parte dos recursos do banco destinados ao crédito rural.
O banco tem de investir 25% dos depósitos a vista em financiamentos para a agricultura. Devido a uma maior entrada de capital em dezembro (R$ 12 bilhões), novos recursos poderão ser alocados para esses empréstimos.
Todas as empresas do setor leiteiro poderão se beneficiar do crédito, mas será dada preferência às cooperativas.
Metade dos recursos será liberada com juros de 8,75% ao ano, podendo ser financiado até 20% da capacidade de estocagem da companhia. O restante será negociado entre produtor e o banco.
Wedekin estima que os juros devem oscilar entre 12% e 13% para essa parcela. Os empréstimos serão de no máximo 180 dias.
"Isso dará maior flexibilidade ao mercado de leite", afirma Wedekin.

Safra
O setor está em pico de safra. Atualmente, 1,2 bilhão de litros de leite da produção (o que corresponde a 9% do total) não estão sendo absorvidos pelo mercado. Com isso, 10% dos fornecedores estão recebendo por seu produto um valor abaixo do preço mínimo de mercado (R$ 0,38).
Com a medida, poderá se estocar leite e vendê-lo no período de entressafra, que começa em dois meses.
A crise da Parmalat poderia agravar ainda mais a situação do setor, podendo causar um desabastecimento futuro no mercado nacional segundo o ministério. O ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) havia declarado que, apesar de a empresa comprar apenas 5% da produção brasileira, daria margem a alguns setores da cadeia produtiva a aproveitar situação e a pagar menos pela mercadoria, causando a falência do produtor.
A Parmalat, na última sexta-feira, segundo a sua assessoria de imprensa, pagou R$ 25,4 milhões que devia aos produtores de leite e cooperativas que fornecem leite para suas unidades em Itaperuna (RJ), Rio Grande do Sul e Pernambuco.

Repercussões
"A medida beneficiará todos os produtores, direta ou indiretamente", afirmou Márcio Lopes de Freitas, presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). Para ele, a estocagem permitirá a manutenção dos preços e a rentabilidade do produtor.
"Quando o produto é comprado por um valor baixo, somente os atravessadores ganham mais, pois não repassam esse preço para o consumidor final. Com essa ferramenta, o produtor pode vender o seu leite no momento adequado e manter a sua rentabilidade", disse Lopes Freitas.
O Ministério da Agricultura ainda estuda a compra de mil toneladas de leite em pó (no valor de R$ 7 milhões) para o Programa Fome Zero. Esse leite foi recebido pelas cooperativas e empresas como pagamento das dívidas que a Parmalat tinha com elas. Já no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) está sendo avaliada uma linha de financiamento para infra-estrutura do setor.


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