São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2004

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Carital tem sede no mesmo prédio da Parmalat Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

A Carital Brasil, empresa que foi citada ontem em interrogatório na Itália como envolvida em operações suspeitas da Parmalat, intermediou negócios de compra e venda de fábricas da Parmalat no país. A Carital está localizada hoje no mesmo endereço da Parmalat do Brasil. Elas têm o mesmo número de empregados e filiais nas mesmas cidades no país, segundo o banco de dados de instituições de crédito.
As duas companhias têm sedes no mesmo prédio, em andares diferentes. A empresa não é citada no balanço financeiro da Parmalat do Brasil e, oficialmente, informam que não têm ligação hoje. A Parmalat disse ontem que vendeu a Carital em 1999.
A Carital e a Zirconia Participações, o nome da Parmalat do Brasil no cadastro da Receita Federal, estão localizadas na Rua Pequetita, 145, Vila Olímpia, zona oeste de São Paulo. A Carital está no 12º andar do prédio, e o escritório da Zirconia, no 11º andar.
Foi a Carital Brasil que comprou da Parmalat uma empresa chamada CBL (Companhia Brasileira de Laticínios) em julho de 2002. A Parmalat poderia ter vendido para uma família tradicional do Nordeste ou para a Carital.
Quando acertou a compra, a Carital dizia, na época, que não mais pertencia à Parmalat, e já tinha novos sócios. Portanto, o negócio era legal, afirmava.
Um mês após a compra, em agosto de 2002, a Carital decidiu se desfazer do negócio e revendeu a operação. Os valores não foram informados pelas partes envolvidas. A família Girão, a mesma que se interessava pela operação desde que a Parmalat decidiu se desfazer do negócio, comprou a unidade de lácteos naquele ano.
A controladora da Carital Brasil hoje, a Carital Food Distributors, tem sede na ilha de Curaçau, nas Antilhas Holandesas, um paraíso fiscal. A Carital Food aparece no balanço anual da Parmalat italiana de 2000 como empresa controlada pelo grupo. E não aparece em mais nenhum balanço após 2000.
A Carital do Brasil tinha, entre outras funções, a de representar os interesses da Parmalat Itália no esporte brasileiro. No futebol, a empresa assinou contratos de co-gestão com o Palmeiras e o Juventude. Assumiu ainda o controle do Etti-Jundiaí e negociava passes de jogadores. Vendia-os e comprava-os no mercado nacional e no internacional.
No Etti-Jundiaí, chegou a ter porcentagem do passe de quatro jogadores. Já no Palmeiras, a empresa, coligada da Parmalat, fez o pagamento de pelo menos três parcelas mensais do contrato de co-gestão com o clube do Parque Antarctica no segundo semestre de 1998. O Palmeiras recebia cerca de R$ 800 mil por mês (valores de hoje) pelo contrato com a empresa italiana de 1992 a 2000.
Entre 1998 e 1999, a Parmalat, com a participação da Carital, negociou cinco jogadores para o Palmeiras -Paulo Nunes, Arce, Júnior Baiano, César Sampaio e Jackson. As transações envolveram US$ 23 milhões.
O especialista em marketing esportivo José Carlos Brunoro, que foi diretor da Parmalat para o Palmeiras durante seis anos da co-gestão, entre 1992 e 1998, afirmou, por intermédio de um assessor, não ter conhecimento da Carital.
Além da Carital, a Wishaw, empresa uruguaia também citada por funcionários da Parmalat em depoimento à Justiça italiana ontem, participou da transação de jogadores de futebol. Ela negociava transferências para clubes argentinos e venezuelanos, administrados pela Parmalat.
A Carital Brasil foi procurada pela Folha, e não se manifestou.
(ADRIANA MATTOS E JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO)


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