|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GADO DOENTE
Há 113 profissionais no governo estadual para fiscalizar vacinações, tráfego de animais e atender doenças
SP tem 1 veterinário por 127,7 mil cabeças
AFRA BALAZINA
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
O Estado de São Paulo tem hoje
um veterinário do serviço público
estadual para cada 127,7 mil cabeças de gado, número considerado
insuficiente, até pelo próprio governo, para fiscalizar o surgimento de doenças e bem abaixo do verificado há cinco anos, quando
havia um profissional para cada
83,7 mil animais.
Os números -todos fornecidos pela Secretaria de Estado da
Agricultura por meio da CDA
(Coordenadoria de Defesa Agropecuária)- mostram ainda que
113 veterinários têm sob sua jurisdição 155,5 mil propriedades com
bovinos, o equivalente a 1.376
imóveis para cada profissional
acompanhar. Se os profissionais
trabalhassem 365 dias por ano e
visitassem uma propriedade por
dia, eles demorariam um pouco
mais de três anos e oito meses para fiscalizar por todos os imóveis.
Desde 1997, o Estado perdeu 32
veterinários (por aposentadoria
ou morte). Os profissionais não
foram repostos porque nenhum
concurso público foi aberto pelo
governo estadual no período -o
último foi há cerca de dez anos. O
secretário da Agricultura, Antônio Duarte Nogueira Júnior, pediu ao governador Geraldo Alckmin a abertura de concurso.
A deficiência da fiscalização sanitária do gado brasileiro foi
apontada pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, em
dezembro, como o principal entrave ao aumento da participação
brasileira na exportação de carnes, possibilidade ampliada pela
restrição internacional à importação de carne bovina norte-americana devido ao aparecimento de
um caso do mal da vaca louca nos
EUA, no final de 2003.
O Brasil alcançou, no ano passado, a posição de maior país exportador de carne do mundo. Mas
países como Japão e Coréia exigem que o exportador seja considerado área livre de febre aftosa
sem vacinação, o que não é o caso
brasileiro. A União Européia não
faz a exigência.
A queda no número de veterinários no Estado se dá no exato
momento em que há um aumento das exigências legais de fiscalização. "Apesar de o rebanho ser
menor hoje na minha jurisdição,
há mais serviço, pois a parte da
defesa sanitária foi muito ampliada nesses anos com novas leis e
mais inspeções", disse o diretor
do EDA (Escritório de Defesa
Agropecuária) de Orlândia, José
Edson Girardi, 44.
"Os escritórios precisariam, no
mínimo, de 80 a 100 profissionais
para reporem os que se aposentaram ou morreram", disse o coordenador da CDA no Estado,
Heinz Otto Hellwig.
Segundo o coordenador, a função dos veterinários é fiscalizar
para que o pecuarista cumpra as
regras estabelecidas pela legislação. "Ele checa se o gado foi ou
não vacinado [por meio das notas
fiscais de compra da vacina], autua, faz vacinação assistida, controla o trânsito de animais e inspeciona os produtos de origem
animal, entre outras atividades."
No EDA de Araraquara, por
exemplo, atualmente não há nenhum veterinário na equipe. Há
dez anos, existiam dois profissionais no local. Quando um produtor necessita de auxílio ou existe
suspeita de doenças, veterinários
são chamados de outros escritórios para fazer o atendimento.
"Seguramente, onde não há nenhum veterinário, o sistema está
deficiente", disse o diretor substituto do Departamento de Defesa
Animal do Ministério da Agricultura, Jamil Gomes de Souza, 48.
Nos outros escritórios, em razão
do baixo número de profissionais, eles visitam as fazendas só
quando chamados ou em períodos de vacinação, acompanhando
a aplicação em algumas delas. "É
claro que o veterinário não tem
como visitar todas as fazendas,
mas o importante é atender rapidamente quando há suspeita de
alguma doença", disse Souza.
David Ashton, 44, gerente de exportação do frigorífico BF Alimentos, que exporta para União
Européia, Oriente Médio e Hong
Kong, entre outros, disse acreditar que o país ganhará mercado,
mas a longo prazo. "Ainda falta
infra-estrutura para o Brasil poder se acomodar às exigências internacionais. É preciso ter mais
veterinários nas fazendas", disse.
Texto Anterior: O vaivém das commodities Próximo Texto: Outro lado: Secretário pede concurso para fazer contratação Índice
|