São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Apesar das pressões, nota do Copom não dá sinal de que elevação da Selic iniciada há 5 meses tenha acabado

BC sobe juro a 18,25%, maior taxa em 15 meses

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central voltou a elevar os juros básicos da economia, de 17,75% ao ano para 18,25%. Mais: na nota explicativa sobre a decisão, indicou que a trajetória de alta pode não ter acabado. Disse laconicamente que havia decidido dar "prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros".
Foi a quinta elevação seguida da Selic, que atingiu o maior nível desde outubro de 2003.
Com a alta, o país aumentou sua liderança no ranking dos países com maiores juros reais (descontada a inflação), elaborado pela consultoria GRC Visão: 11,87%.
A decisão tomada ontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC) já era esperada por analistas do mercado financeiro, embora contrarie expectativas do próprio governo. No final de 2004, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a sinalizar a senadores que o aumento de dezembro seria o último da série.
Os juros têm sido elevados desde setembro, quando teve início aquilo que o BC chamou de "processo de ajuste da taxa básica". Na ocasião, a Selic estava em 16% ao ano. Ontem, não foi dado nenhum sinal de que esse processo possa ter acabado. Não foi divulgado nenhum detalhe sobre os motivos do aumento; nota divulgada após a reunião disse apenas que o Copom havia decidido dar prosseguimento ao processo.
A decisão foi unânime por parte dos nove membros do Copom -os oito diretores e o presidente do BC, Henrique Meirelles.
Caso se mantenha ao longo de todo o ano, o aumento de juros anunciado ontem provocará um aumento de cerca de R$ 2 bilhões na dívida pública -mais da metade do endividamento do governo federal é corrigida pela Selic.
Quanto maiores os gastos com juros, maior também deve ser o esforço fiscal do governo para conter o avanço da dívida pública. Somente entre janeiro e novembro de 2004, o setor público (União, Estados, municípios e estatais) acumulou superávit primário de R$ 84,829 bilhões, valor equivalente a 5,29% do PIB (Produto Interno Bruto) do período.
Desde setembro, o BC diz que eleva os juros para manter a inflação dentro das metas fixadas pelo governo. Em 2004, a meta era de 5,5%, admitindo-se um desvio de até 2,5 pontos desse número -o resultado ficou em 7,6%, próximo do limite máximo de 8%.
No final do ano passado, o BC projetava uma inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), de 5,3% para 2005, um pouco acima dos 5,1% fixados como objetivo. Em tese, os juros são elevados sempre que se percebe uma possibilidade de descumprimento das metas.
Juros mais altos desestimulam o consumo das famílias e os investimentos das empresas -ou seja, desaceleram a economia. Esse desaquecimento costuma ser acompanhado por perdas na renda das pessoas, reduzindo o espaço para reajuste de preços.
O BC diz que um dos motivos para a maior pressão inflacionária vem, justamente, da retomada: com a economia crescendo rapidamente, as empresas não conseguiriam produzir o suficiente para atender os consumidores. A alta dos juros serviria para frear o consumo e a economia como um todo. Os últimos indicadores conhecidos ainda não conseguem apontar, com clareza, se a desaceleração da economia já está se intensificando devido aos juros.
Um dos itens acompanhados pelo BC é o nível de utilização da capacidade instalada na indústria. Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), em novembro o setor industrial operava com 83% de sua capacidade -em outubro, era 82,7%. Ou seja, a indústria continua expandindo sua produção, mesmo com as altas. No comércio, os indicadores também se mantêm positivos. Entre janeiro e novembro de 2004, segundo o IBGE, o setor registrou um aumento de 8,98% no seu volume de vendas, na comparação com igual período de 2003.
O aumento dos juros realizado até agora também não foi suficiente para reverter o pessimismo do mercado em relação ao cumprimento das metas de inflação. Segundo analistas consultados pelo BC na semana passada, a expectativa é que a alta do IPCA fique em 5,7% neste ano, uma redução pequena em relação aos 5,76% estimados pela mesma pesquisa há um mês.
As projeções para o crescimento econômico também se mantêm relativamente estáveis. Na semana passada, estimava-se uma expansão do PIB de 3,65% neste ano -há um mês, a previsão estava em 3,50%.


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