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RECEITA ORTODOXA
Apesar das pressões, nota do Copom não dá sinal de que elevação da Selic iniciada há 5 meses tenha acabado
BC sobe juro a 18,25%, maior taxa em 15 meses
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central voltou a elevar
os juros básicos da economia, de
17,75% ao ano para 18,25%. Mais:
na nota explicativa sobre a decisão, indicou que a trajetória de alta pode não ter acabado. Disse laconicamente que havia decidido
dar "prosseguimento ao processo
de ajuste da taxa de juros".
Foi a quinta elevação seguida da
Selic, que atingiu o maior nível
desde outubro de 2003.
Com a alta, o país aumentou sua
liderança no ranking dos países
com maiores juros reais (descontada a inflação), elaborado pela
consultoria GRC Visão: 11,87%.
A decisão tomada ontem pelo
Copom (Comitê de Política Monetária do BC) já era esperada por
analistas do mercado financeiro,
embora contrarie expectativas do
próprio governo. No final de
2004, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a sinalizar a senadores que o aumento de dezembro seria o último da série.
Os juros têm sido elevados desde setembro, quando teve início
aquilo que o BC chamou de "processo de ajuste da taxa básica". Na
ocasião, a Selic estava em 16% ao
ano. Ontem, não foi dado nenhum sinal de que esse processo
possa ter acabado. Não foi divulgado nenhum detalhe sobre os
motivos do aumento; nota divulgada após a reunião disse apenas
que o Copom havia decidido dar
prosseguimento ao processo.
A decisão foi unânime por parte
dos nove membros do Copom
-os oito diretores e o presidente
do BC, Henrique Meirelles.
Caso se mantenha ao longo de
todo o ano, o aumento de juros
anunciado ontem provocará um
aumento de cerca de R$ 2 bilhões
na dívida pública -mais da metade do endividamento do governo federal é corrigida pela Selic.
Quanto maiores os gastos com
juros, maior também deve ser o
esforço fiscal do governo para
conter o avanço da dívida pública.
Somente entre janeiro e novembro de 2004, o setor público
(União, Estados, municípios e estatais) acumulou superávit primário de R$ 84,829 bilhões, valor
equivalente a 5,29% do PIB (Produto Interno Bruto) do período.
Desde setembro, o BC diz que
eleva os juros para manter a inflação dentro das metas fixadas pelo
governo. Em 2004, a meta era de
5,5%, admitindo-se um desvio de
até 2,5 pontos desse número -o
resultado ficou em 7,6%, próximo
do limite máximo de 8%.
No final do ano passado, o BC
projetava uma inflação, medida
pelo IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo), de 5,3% para 2005, um pouco acima dos
5,1% fixados como objetivo. Em
tese, os juros são elevados sempre
que se percebe uma possibilidade
de descumprimento das metas.
Juros mais altos desestimulam o
consumo das famílias e os investimentos das empresas -ou seja,
desaceleram a economia. Esse desaquecimento costuma ser acompanhado por perdas na renda das
pessoas, reduzindo o espaço para
reajuste de preços.
O BC diz que um dos motivos
para a maior pressão inflacionária
vem, justamente, da retomada:
com a economia crescendo rapidamente, as empresas não conseguiriam produzir o suficiente para atender os consumidores. A alta dos juros serviria para frear o
consumo e a economia como um
todo. Os últimos indicadores conhecidos ainda não conseguem
apontar, com clareza, se a desaceleração da economia já está se intensificando devido aos juros.
Um dos itens acompanhados
pelo BC é o nível de utilização da
capacidade instalada na indústria.
Segundo a CNI (Confederação
Nacional da Indústria), em novembro o setor industrial operava
com 83% de sua capacidade
-em outubro, era 82,7%. Ou seja, a indústria continua expandindo sua produção, mesmo com as
altas. No comércio, os indicadores também se mantêm positivos.
Entre janeiro e novembro de
2004, segundo o IBGE, o setor registrou um aumento de 8,98% no
seu volume de vendas, na comparação com igual período de 2003.
O aumento dos juros realizado
até agora também não foi suficiente para reverter o pessimismo
do mercado em relação ao cumprimento das metas de inflação.
Segundo analistas consultados
pelo BC na semana passada, a expectativa é que a alta do IPCA fique em 5,7% neste ano, uma redução pequena em relação aos
5,76% estimados pela mesma pesquisa há um mês.
As projeções para o crescimento econômico também se mantêm relativamente estáveis. Na semana passada, estimava-se uma
expansão do PIB de 3,65% neste
ano -há um mês, a previsão estava em 3,50%.
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