São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Varejo avaliará impacto da Selic antes de elevar suas taxas; necessidade de desovar estoques "barra" reajuste

Estoque alto e renda baixa amortecem juros

DA REPORTAGEM LOCAL

As principais redes varejistas vão analisar a possibilidade de aumentos nos juros após o anúncio ontem da quinta alta consecutiva na taxa Selic. Essa é a posição oficial. A tendência é a de que não haja uma elevação conjunta nos juros nas grandes cadeias, dizem os economistas. O aumento deve ser a conta-gotas, em determinados planos de venda e produtos, como já está acontecendo desde novembro. Hoje, o varejo até chega a cobrar uma taxa diferente segundo o dia da semana, apurou a Folha.
Estoque elevado, concorrência acirrada e incertezas sobre a consistência na leve elevação da renda barram reajustes maiores.
Nos meses de novembro e dezembro, as grandes redes do país, como Casas Bahia, Ponto Frio e grupo Pão de Açúcar, diziam abertamente que aumentos seriam postergados. Naqueles dois meses a Selic subiu um ponto percentual, e o comércio praticamente não mexeu em suas taxas. Um reajuste pré-Natal poderia fazer minguar os resultados do período pelo efeito psicológico negativo. Agora, as redes de supermercados e de eletrônicos afirmam que farão as contas para verificar como ficará o custo financeiro da alta na Selic de ontem.
"A tendência é que o mercado caminhe para a cobrança de juros diferentes para produtos ou planos diferentes. Isso já dá sinais de estar acontecendo", diz Fabio Pina, economista da Fecomercio SP. A Casas Bahia começou, há poucos meses, a cobrar taxas diferentes segundo a mercadoria. E segundo o dia da semana. Isso cria maiores oportunidades de venda para a loja.
Para os consumidores que aproveitavam a promoção da rede no dia 6 de janeiro, segundo anúncio nos jornais, era possível comprar uma lavadora de roupas Atlas (cinco quilos) e pagar uma taxa de 2,77% ao mês em 13 parcelas de R$ 55. No dia 8, o mesmo item era vendido por 18 vezes de R$ 39,90. A taxa de juros era de 2,25% ao mês. Quem comprou no dia 8 pagará R$ 718,20 a prazo, contra R$ 715 para os planos feitos no dia 6.
O mesmo acontece na venda do micro system Philips. O juros pode ser de 2,67% ao mês ou 2,24%, segundo o número de parcelas e o dia da promoção. A rede faz esses planos para adaptar a venda ao tamanho do bolso do consumidor.
A Anefac, entidade financeira que faz previsões de juros futuros no mercado, calcula que a taxa média cobrada no mercado para a pessoa física tende a subir de 148,20% ao ano para 149,31% anuais. Isso equivale a uma alta de 7,87% ao mês para 7,91%. A entidade faz cálculos matemáticos em cima das taxas praticadas na praça para chegar a esses números.
Para o cheque especial, calcula-se que as taxas subam de 8,35% ao mês para 8,39% ao mês -ou de 161,79% para 162,95% anuais. Nas operações ao consumidor, a maior alta pode acontecer no CDC (Crédito Direto ao Consumidor) dos bancos, utilizado para a compra de carros, por exemplo. A subida calculada pode ir de 3,84% mensais para 3,88% -uma variação de 1%.
(ADRIANA MATTOS)


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