São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

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Sindicatos e empresários voltam a atacar BC

DA REPORTAGEM LOCAL

Como acontece há cinco meses, a decisão do Banco Central de elevar a taxa básica de juros gerou uma rajada de críticas dos representantes do empresariado e dos trabalhadores. Para o setor produtivo, as propostas da sociedade que surgem como alternativa à elevação dos juros -usados para conter a inflação- são solenemente "ignoradas" pelo BC. O comércio afirma que a medida não se justifica "de forma nenhuma e compromete ainda mais o ritmo de crescimento da economia".
"Ao dar continuidade à elevação dos juros, o Copom joga um balde de água fria em todos aqueles que há muito desejam que o Brasil tenha um desenvolvimento econômico vigoroso, de longo prazo, com distribuição de renda e inclusão social", disse, em nota, Luiz Marinho, presidente nacional da CUT.
A entidade argumenta que o BC deveria usar outros instrumentos para conter pressões inflacionárias "como o choque de produção, através da elevação dos investimentos nos setores produtivos e da recuperação do nível de emprego e da massa salarial", afirma a nota.
Uma política de investimentos também é a alternativa à alta dos juros, segundo proposta do Ciesp (Centro das Indústrias de São Paulo). Para a entidade, é preciso "encontrar a taxa de juros de equilíbrio mais adequada para balancear metas de inflação realistas com os investimentos".
Com uma visão mais radical, a CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) defende a mobilização contra a política do Copom. Segundo Canindé Pegado, secretário-geral da central sindical, diante da continuidade da política monetária restritiva do governo, os trabalhadores deveriam fazer "ações concretas" de repúdio, como protestos e mesmo paralisações. "É hora de o movimento sindical mostrar a voz do trabalhador", diz.

Crescimento comprometido
O setor industrial também engrossou o tom crítico com previsões menos abonadoras em 2005. "Seguramente isso vai afetar a atividade econômica imediatamente, o que é lamentável", declarou o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto. Na sua avaliação, o crescimento em 2005 deve ficar aquém das estimativas iniciais, que projetavam uma taxa em torno de 3,5% e 4%.
Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), propõe a sua receita: "Temos defendido o aumento da produção e a redução dos gastos públicos como estratégias de combate à inflação. Apenas para lembrar, de janeiro a novembro de 2004, em relação a igual período de 2003, a receita da União cresceu 9,9%, mas seus gastos aumentaram 11,7%".
A Abdib, entidade que representa a indústria de base, considera preocupante a escalada da taxa Selic. "As diversas medidas para combate à inflação, já sugeridas exaustivamente pelas entidades representativas do setor produtivo, são cabíveis e possíveis, mas, no entanto, têm sido ignoradas com veemência, sem justificativa", afirma em nota oficial Paulo Godoy, presidente da Abdib.
Na Fecomercio-SP, Abram Szajmam, presidente da entidade, criticou a decisão e afirmou que o varejo voltou a elevar suas taxas em dezembro. Na prática, as grande lojas tentam segurar aumentos, e os reajustes nas taxas tendem a ocorrer em lojas menores, com menor poder de barganha com as financeiras.
"O Brasil precisa deixar a posição de campeão mundial em juros altos para poder ganhar destaque entre os países que têm maior crescimento. Pelo que temos visto, ao longo dos últimos anos, as duas situações são incompatíveis", afirmou Szajmam em nota.
(CC, AM, SB)


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