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RECEITA ORTODOXA
Aumento foi conseqüência das taxas de juros fixadas pelo Banco Central; melhora o perfil do débito
Dívida do governo cresce R$ 80,5 bi em 2004
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A dívida contraída pelo governo federal por meio da emissão de
títulos públicos cresceu 11% ao
longo de 2004, segundo dados do
Tesouro Nacional e do Banco
Central. Em dezembro passado, o
total de papéis em circulação no
país somava R$ 811,97 bilhões, valor R$ 80,5 bilhões maior do que o
registrado no final de 2003.
O aumento da dívida foi conseqüência das taxas de juros fixadas
pelo BC no período. Dos títulos
públicos negociados no mercado
em dezembro, 52,51% eram corrigidos pela taxa Selic -que encerrou 2004 em 17,75% ao ano.
Ainda assim, o maior endividamento do governo foi visto como
"razoável" pelo coordenador-geral da Dívida Pública do Tesouro,
Paulo Valle. "[Um crescimento
de] 11% é razoável, é o custo de
captação do Tesouro. O estoque
[de títulos] variou menos que a
Selic", afirmou.
Segundo Valle, o fato de o crescimento da dívida ter ficado abaixo da variação da Selic deve ser
visto como positivo. Em 2004, o
Tesouro tinha por objetivo manter o total de títulos públicos em
circulação no mercado na faixa
entre R$ 820 bilhões e R$ 880 bilhões -o resultado ficou, portanto, abaixo do previsto.
Além dos juros, a dívida foi afetada pelos chamados "esqueletos", ou seja, pelo reconhecimento de dívidas antigas. Só em dezembro, o Tesouro emitiu cerca
de R$ 7,5 bilhões em títulos para
cobrir o buraco deixado pelo
FCVS (Fundo de Compensação
de Variações Salariais), mecanismo criado para cobrir o saldo devedor de contratos de financiamento da casa própria fechados
até 1993.
Por outro lado, as contas do governo foram beneficiadas pela
queda do dólar. Em dezembro de
2003, 22,06% dos títulos públicos
em circulação no país eram corrigidos pelo câmbio. No mês passado, essa proporção havia recuado
para 9,86%.
Essa queda é explicada por dois
fatores. Por um lado, a própria
queda do dólar reduz o saldo total
da dívida, uma vez que o valor dos
títulos é atrelado diretamente à
moeda dos EUA. Além disso, a
valorização do real permitiu ao
BC resgatar boa parte dos papéis
cambiais negociados no mercado.
Os papéis cambiais costumam
ser vendidos no mercado em momentos de maior nervosismo. A
idéia é estimular os investidores a
trocar suas compras de dólares
por aplicações em títulos cambiais. Com isso, se reduziria a
pressão sobre a cotação da moeda
norte-americana, que tende a disparar em momentos de incerteza.
Quando a cotação do dólar cai,
porém, ocorre o inverso: o BC, em
vez de vender, recompra os papéis cambiais que já foram emitidos anteriormente. Em 2004, o total resgatado foi de US$ 27,8 bilhões.
Com isso, a dívida pública fica
menos vulnerável a variações da
taxa de câmbio, o que, em tese, favorece o equilíbrio das contas do
governo.
Apesar da melhora no perfil da
dívida, o prazo do endividamento
do governo continua abaixo do
esperado. Em dezembro, os títulos públicos em circulação no país
tinham prazo médio de vencimento de 28,1 meses, enquanto o
Tesouro esperava que isso pudesse, pelo menos, ultrapassar os 30
meses.
Quanto menor o prazo da dívida, pior para o governo, pois na
impossibilidade de refinanciar esses compromissos, eles teriam
que ser pagos num espaço curto
de tempo.
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