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Adesão chegará a 70%, diz responsável pela troca
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
Mesmo sob intenso bombardeio de críticas dos credores estrangeiros, a oferta de troca da dívida pública argentina alcançará
70% de adesão, na estimativa de
Luis Corsiglia, presidente da Caixa de Valores do país vizinho.
A entidade dirigida por Corsiglia é uma central de custódia e liquidação de títulos, responsável
pela troca dos papéis da dívida
pública no território argentino.
Em entrevista à Folha, o presidente da Caixa de Valores defendeu os termos da renegociação argentina e criticou a taxa de juros
do Brasil. Leia a seguir.
Folha - Na sua opinião, a Argentina alcançará os 50% de adesão à
troca da dívida, meta anunciada
pelo ministro da Economia, Roberto Lavagna ?
Luis Corsiglia - Penso que será
maior, que chegará a 70%.
Folha - Qual é o atual resultado
da troca, após a adesão de 20% na
abertura?
Corsiglia - Sexta [a abertura] foi
um dia especial, porque houve
um acordo [do governo] com a
AFJP [fundo de aposentadoria e
pensão com 10 milhões de acionistas], para que aderissem a um
bônus desenhado para eles [Cuasi
Par, com desconto de 30% e prazo
de pagamento de 42 anos]. Isso se
cumpriu, e esse bônus praticamente esgotou.
Segunda foi muito diferente. Só
ingressaram investidores médios
ou pequenos, num total de US$
500 milhões. No exterior os balcões estavam fechados, pelo feriado nos EUA.
Muitos investidores estão em
férias. Tomam conhecimento de
que a troca começou e estudam se
podem melhorar sua posição,
com as chamadas arbitragens.
Uns vendem bônus no mercado, e
outros aproveitam para comprar,
melhorando sua posição.
Folha - Isso indica a redução do
ritmo de adesão?
Corsiglia - Vai ser diferente agora, mais lento.
Folha - Analistas dizem que os
credores internacionais aderirão
por estar cansados de esperar uma
solução. O que leva os argentinos a
aceitar a troca?
Corsiglia - Os títulos chegaram a
ter um valor muito baixo, menor
do que 20%. Hoje, estão acima de
30% do valor original. Os credores reconheceram que a capacidade de pagamento do país está
muito limitada.
Foram aceitando a situação e
pensam: hoje, o que tenho é esse
bônus, a esse preço. Mas, se eu
contribuir para desatar esse nó
que é a Argentina em moratória, o
país poderá diminuir seu endividamento, crescer, e o valor do
meu bônus irá melhorando.
Folha - O sr. diz que os credores
argentinos arcam com o prejuízo
em favor do país?
Corsiglia - Exatamente. É muito
diferente do perfil do investidor
estrangeiro, que continua reclamando seus direitos. Estar à distância é mais complexo. É como
se eu tivesse que opinar sobre a
política interna do Brasil. Observo
o Brasil a uma distância média.
Folha - Se o sr. tivesse que opinar
sobre a taxa de juros do Brasil, por
exemplo?
Corsiglia - A primeira coisa que
diria é que me parece extraordinariamente alta. Não entendo como fazem para se endividar a
16%, e a inflação é muito menor.
Custa-me crer, mas cada país sabe
administrar suas finanças de uma
maneira tão especial.
Folha - Ou não.
Corsiglia - Aqui acreditávamos
que sabíamos administrar a dívida. Veja onde estamos.
- Folha - Os credores internacionais classificam a proposta de
"mesquinha" e dizem que a Argentina pode pagar mais, segundo os
resultados de sua economia nos últimos dois anos.
Corsiglia - Quando um devedor
começa a se recuperar, todo mundo quer ser o primeiro a receber.
Mas é preciso ter cautela, porque,
se lhe exigem muito, freiam sua
recuperação. Por isso a Argentina
diz que vai pagar essa quantidade
de dívida e não mais. É a forma de
ter dinheiro para investir em infra-estrutura, que nos permita
continuar crescendo, garantir as
mínimas condições sociais a um
país com alto índice de pobreza.
Folha - Alguns analistas políticos
criticam o clima de "tudo ou nada"
criado em torno da saída da moratória. Qual o papel da renegociação
da dívida no futuro da Argentina?
Corsiglia - Decididamente é
muito importante. Ninguém pode crescer sem investimentos. Para ter investimentos estrangeiros,
um país necessita uma qualificação mínima que é a situação de
sua dívida pública. Neste momento, não estamos qualificados, porque estamos em moratória. Se
conseguirmos sair, teremos os investimentos necessários ao crescimento a médio prazo.
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