São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2007

Próximo Texto | Índice

Mercado Aberto

Guilherme Barros - guilherme.barros@uol.com.br

Mercosul precisa de um freio de arrumação, afirma Delfim

O Mercosul está desintegrado e precisa dar uma freada de arrumação para encontrar mecanismos que visem a expansão simultânea de todos os países do bloco.
A avaliação é de Delfim Netto, ao comentar o encerramento, ontem, no Rio de Janeiro, de mais uma Cúpula do Mercosul. Delfim acha que o bloco precisa ser repensado para se voltar para o seu principal objetivo, que é o de juntar forças para fazer valer a integração latino-americana.
"No mundo inteiro, os países estão buscando se integrar em blocos de maneira pragmática e objetiva, enquanto no Mercosul está se produzindo uma discussão puramente ideológica, da qual, é bom que se diga, o Brasil está completamente fora", diz.
Não há, segundo Delfim, nenhuma possibilidade de o Brasil se contaminar com o discurso socializante de Hugo Chávez, presidente da Venezuela, que defendeu, na Cúpula do Mercosul, a descontaminação do bloco do neoliberalismo.
Para Delfim, cada país tem o direito de escolher o seu caminho, mas não tem direito de intervir no caminho do outro. "O Chávez está certo em escolher a desgraça para a Venezuela, mas está errado tentando empurrar a desgraça para outros países", afirma Delfim.
O Brasil, de acordo com Delfim, escolheu o seu caminho. "Na segunda-feira, o governo irá apresentar um programa de aceleração do crescimento que vai respeitar o equilíbrio fiscal e não vai projetar nenhuma sombra sobre a atual política monetária", diz. "O Banco Central continuará autônomo, e vai se tentar melhorar a eficiência do setor público."
Segundo Delfim, o governo Lula não mudou de opinião. Em relação à discussão sobre a suspensão das licitações das concessões das rodovias federais, está se vendo agora, a seu ver, que o que houve foi ruído. O projeto não foi interrompido.
Delfim acha que a dúvida em relação à posição do Brasil é fruto de especulações fabricadas pelo mercado financeiro, que fica ansioso em produzir volatilidade. "No mercado financeiro, é a volatilidade que dá lucro", diz. "A volatilidade é o pudim que o mercado financeiro adora."
Por isso mesmo, Delfim não acredita que essa discussão sobre "o socialismo do século 21" de Chávez, e que conta com o apoio de Evo Morales na Bolívia e agora de Rafael Correa no Equador, venha a contaminar o Brasil. "O mercado produtivo não é atingido por essas bobagens", diz Delfim. "Ninguém imagina que o Brasil vá abraçar uma idéia como essa."

análise

Anfavea defende agenda de competitividade

Além das discussões políticas e dos conflitos internos, o Mercosul precisa adicionar, em paralelo, uma agenda de competitividade para melhorar a produtividade de diversos setores da economia para os países terem condições de concorrer em igualdade com outros blocos comerciais.
A observação é de Rogelio Golfarb, presidente da Anfavea (associação dos fabricantes de veículos e automotores), que participou da reunião de Cúpula do Mercosul. "Nós precisamos pensar em ter uma produção capaz de competir com os blocos do Leste Europeu e da Ásia."
No domingo passado, a China assinou acordo de cooperação comercial com a Asean (o bloco dos países asiáticos), apesar de não faltarem consumidores na região. Mesmo com esse mercado consumidor fantástico, os países asiáticos, segundo Golfarb, estão preocupados em formar um bloco mais sólido de comércio, com o objetivo de melhorar a competitividade. "Esse é o nome do jogo no mundo."
Segundo Golfarb, os países do Mercosul precisam começar a discutir a estrutura tributária da região, a legislação trabalhista, questões de logística e outros tópicos que sejam capazes de aumentar a produtividade e reduzir os custos. Todos os blocos comerciais estão voltados para esse esforço.
Golfarb não considera que os resultados da Cúpula tenham sido frustrantes, já que os chefes de Estado tiveram oportunidades de discutir vários assuntos. "O fórum foi uma boa oportunidade para a discussão de temas mais prementes, mas não necessariamente levou a resultados finais."

DOIS GUMES
Com 75 anos no Brasil e 220 de fundação na Alemanha, a Corneta Cutelaria começa 2007 com planos de expansão. Está prestes a inaugurar uma nova fábrica em Manaus. O objetivo da empresa, com o investimento, é ficar mais próxima de um de seus principais clientes, a indústria de facões. Além disso, também vai lançar sua linha comemorativa, de talheres. "Queremos resgatar um pouco do que a Corneta já foi no passado", diz Ricardo Martin Berg, presidente da empresa. A estratégia é lançar produtos antigos que relembrem os consumidores que a empresa é a mesma de 75 anos. "Investimos em produtos AA, como facas especiais para chefes de cozinha, para caça e pesca, esportes, e, na seqüência, entram as facas para sushis e talheres para churrascos", afirma Berg.

REPASSE
O Bradesco manteve, em 2006, o maior repasse de desembolsos do BNDES pelo quarto ano consecutivo. O volume total foi de R$ 5,82 bilhões. O montante representa 19,94% de todo o sistema. O banco também obteve posição mais alta na liberação de recursos para micro, pequenas e médias, com repasse de R$ 2,3 bilhões. Foram realizadas 22.568 operações, sendo 93% delas voltadas a micro, pequenas e médias empresas.

QUEDA-DE-BRAÇO
A redução de 10% para 5% do imposto de exportação para a pré-mistura de farinha de trigo, pelo governo argentino, provocou o setor moageiro brasileiro. Samuel Hosken, presidente da Abitrigo (associação do setor), convocou reunião de emergência com representantes dos moinhos associados para discutir a pauta da reunião, na próxima terça, com Luis Carlos Guedes (Agricultura), Furlan (Desenvolvimento), e deputados.

DE FIBRA
Especializado em produtos de fibra natural, o Empório Beraldin faz dois meses de negócios na Cidade do México e se prepara para desembarcar em Miami e Nova York. A ida para o exterior ocorreu por meio de uma indústria americana que descobriu os produtos -tecidos de seda, linho, tapetes de algodão feitos em tear manual e outros- e os levou a São Francisco, na Califórnia. "A nossa idéia, agora, é trabalhar mais a marca", diz Zeco Beraldin. Em Nova York, a empresa deve abrir um espaço em uma loja já existente no Soho. Tanto a loja nova-iorquina quanto a de Miami serão inauguradas neste primeiro semestre.


Próximo Texto: Risco-país da Argentina cai e alcança o brasileiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.