|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Risco-país da Argentina cai e alcança o brasileiro
Desde o começo do ano, o risco do país vizinho, medido pelo JP Morgan, caiu 12%
Apetite dos investidores sustenta queda, vitaminada pelo desempenho do país, que cresce 8% e anunciou superávit fiscal de 4% do PIB
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Investir em títulos do governo brasileiro é tão arriscado
quanto comprar papéis da Argentina, país que em 2001 deu o
maior calote da história. Pelo
menos é isso que sugeriam ontem os indicadores de risco-país associados às duas economias, que estavam praticamente iguais. O do Brasil em 187
pontos, o da Argentina, em 192.
O risco-país é um indicador
do apetite dos investidores pelos papéis dos governos de países emergentes. Por causa da
grande quantidade de dinheiro
circulando pela economia internacional, a procura por papéis é grande, o que valoriza títulos de todos os países.
O Embi+, índice elaborado
pelo banco americano JP Morgan e que mede a evolução média do risco de um conjunto de
emergentes, está em seus menores níveis -ontem fechou
aos 169 pontos.
Apesar de o risco de todos os
emergentes estar em queda, o
índice argentino recuou mais
depressa, alcançando o brasileiro. No ano passado, o Embi+
caiu 31%, enquanto o risco da
Argentina caiu 57%, e o brasileiro, 38%. Só nas três primeiras semanas do ano, enquanto o
Embi+ ficou relativamente estável e o risco Brasil caiu 4%, o
argentino recuou cerca de 12%.
A valorização dos papéis do
país vizinho, como a dos brasileiros, reflete em parte as condições internacionais, mas
também as melhoras nas economias locais. No caso argentino, o governo acaba de anunciar superávit fiscal de 4% no
ano passado, cifra recorde para
a economia de lá. Como no Brasil, após a desvalorização da
moeda, as exportações argentinas cresceram, e o país tem superávit nas contas externas.
Dólares entrando, economia
de recursos públicos e crescimento rondando os 8% são sinais de que pelo menos do ponto de vista da disponibilidade
de recursos o país não terá problemas para cumprir seus compromissos. "[O desempenho
econômico] deu mais segurança aos investidores, na medida
em que a arrecadação do governo caminha junto com a atividade econômica", diz Antonio
Madeira, analista da MCM
Consultores.
Para alguns analistas, no entanto, os preços dos papéis não
refletem bem o risco de emprestar para o governo argentino. Luis Fernando Lopes, do
Banco Pátria, diz até que pode
ser um bom negócio comprar
papéis do país vizinho no curto
prazo, mas que não é crível que
o risco de investir nos papéis
argentinos seja igual ao de investir em títulos de países como México e Brasil.
"A probabilidade de calote
não é tão baixa quanto esse prêmio de risco sugere", diz Lopes,
lembrando que mesmo países
que renegociaram a dívida recentemente, como o Equador,
podem optar por novas renegociações de dívida. Lopes lembra
ainda que o cálculo do risco inclui apenas os títulos em mercado e que não considera os
US$ 20 bilhões de títulos caloteados nas mãos dos credores
que não aceitaram trocá-los
com desconto em 2005.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Papel argentino rende até 282% em 2006 Índice
|