São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2007

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Risco-país da Argentina cai e alcança o brasileiro

Desde o começo do ano, o risco do país vizinho, medido pelo JP Morgan, caiu 12%

Apetite dos investidores sustenta queda, vitaminada pelo desempenho do país, que cresce 8% e anunciou superávit fiscal de 4% do PIB


MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Investir em títulos do governo brasileiro é tão arriscado quanto comprar papéis da Argentina, país que em 2001 deu o maior calote da história. Pelo menos é isso que sugeriam ontem os indicadores de risco-país associados às duas economias, que estavam praticamente iguais. O do Brasil em 187 pontos, o da Argentina, em 192.
O risco-país é um indicador do apetite dos investidores pelos papéis dos governos de países emergentes. Por causa da grande quantidade de dinheiro circulando pela economia internacional, a procura por papéis é grande, o que valoriza títulos de todos os países.
O Embi+, índice elaborado pelo banco americano JP Morgan e que mede a evolução média do risco de um conjunto de emergentes, está em seus menores níveis -ontem fechou aos 169 pontos.
Apesar de o risco de todos os emergentes estar em queda, o índice argentino recuou mais depressa, alcançando o brasileiro. No ano passado, o Embi+ caiu 31%, enquanto o risco da Argentina caiu 57%, e o brasileiro, 38%. Só nas três primeiras semanas do ano, enquanto o Embi+ ficou relativamente estável e o risco Brasil caiu 4%, o argentino recuou cerca de 12%.
A valorização dos papéis do país vizinho, como a dos brasileiros, reflete em parte as condições internacionais, mas também as melhoras nas economias locais. No caso argentino, o governo acaba de anunciar superávit fiscal de 4% no ano passado, cifra recorde para a economia de lá. Como no Brasil, após a desvalorização da moeda, as exportações argentinas cresceram, e o país tem superávit nas contas externas.
Dólares entrando, economia de recursos públicos e crescimento rondando os 8% são sinais de que pelo menos do ponto de vista da disponibilidade de recursos o país não terá problemas para cumprir seus compromissos. "[O desempenho econômico] deu mais segurança aos investidores, na medida em que a arrecadação do governo caminha junto com a atividade econômica", diz Antonio Madeira, analista da MCM Consultores.
Para alguns analistas, no entanto, os preços dos papéis não refletem bem o risco de emprestar para o governo argentino. Luis Fernando Lopes, do Banco Pátria, diz até que pode ser um bom negócio comprar papéis do país vizinho no curto prazo, mas que não é crível que o risco de investir nos papéis argentinos seja igual ao de investir em títulos de países como México e Brasil.
"A probabilidade de calote não é tão baixa quanto esse prêmio de risco sugere", diz Lopes, lembrando que mesmo países que renegociaram a dívida recentemente, como o Equador, podem optar por novas renegociações de dívida. Lopes lembra ainda que o cálculo do risco inclui apenas os títulos em mercado e que não considera os US$ 20 bilhões de títulos caloteados nas mãos dos credores que não aceitaram trocá-los com desconto em 2005.


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